Jornal Estado de Minas

Denúncias de estudantes incluem atraso de verbas a falta de acompanhamento

Bolsistas do Ciências sem Fronteiras relatam dificuldades de toda sorte para se manterem no exterior

Junia Oliveira
Ex-aluna de colégio público, com conhecimentos restritos em inglês, a estudante do último período de biomedicina Nathália César Giovani, da Universidade Fumec, em Belo Horizonte, sabia que estudar na Austrália seria a oportunidade para deslanchar de vez no idioma.
Por isso, aceitou continuar no programa Ciência sem Fronteiras mesmo depois de ter cancelada a candidatura para Portugal. Só não esperava enfrentar tantas barreiras e ter de voltar para casa exatamente por causa da língua que sonhava dominar. Pelo menos 110 alunos, todos ex-candidatos a estudar em instituições portuguesas, foram convocados a voltar da Austrália e do Canadá porque não conseguiram desempenho satisfatório no teste de proficiência em inglês, que mede o domínio da língua.


No caso de Nathália, a tentativa foi atropelada por uma antecipação inesperada da prova, aplicada no fim do ano passado. Na época, quem teve nota acima de 5,5 garantiu o ingresso na universidade. Alunos com notas inferiores a 4,5 tiveram o passaporte carimbado para voltar ao Brasil. Quem teve pontuação entre uma faixa e outra teria o curso de inglês estendido por 20 semanas.

Segundo Nathália, a Universidade de Queensland, na cidade de Brisbane, chegou a repetir a prova do Ielts (International English Language Testing System) em 18 de janeiro e a arcar com o custo de US$ 330 para quem estava na mesma situação que ela.


Alunos que tinham chegado havia mais tempo e não foram aprovados voltaram para o Brasil. Nathália e outras cinco universitárias, uma delas da Universidade Federal de São João del-Rei, no Campo das Vertentes, brigaram para ficar o mesmo tempo que o grupo que havia chegado três meses antes à cidade. Segundo ela, depois de algum tempo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que gerencia o programa, concedeu mais 10 semanas de aulas de inglês. “Fizemos outra prova em 12 de abril e, no dia 25 daquele mês, as aulas acabaram.”


Não tendo conseguido a pontuação exigida, as estudantes pediram mais tempo de curso para a Capes. A partir daí, começou a via-sacra por informações: nem a coordenação, nem a universidade, nem a instituição parceira, que faz a intermediação entre o Brasil e a Austrália, se posicionaram. “Uma coordenadora da Capes me disse, por telefone, não saber que ainda havia estudantes com essa pendência e que a decisão no início do ano foi deixar apenas quem estava com a situação resolvida.”
As estudantes alegam que estão há mais de cinco semanas sem aulas nem acesso a material didático. No último dia 26, receberam um e-mail informando sobre o último teste que fizeram. O resultado sairá dia 21 e a ordem da Capes, caso não sejam aprovadas, é voltarem dia 24, quando expira o visto. Mas a perspectiva de classificação é mínima. “Não estamos matriculadas no curso, ficamos sem seguro saúde e, por todo o estresse, estamos ficando doentes.” As estudantes pediram pelo menos um mês para a prova e cinco semanas de aulas, mas ainda não conseguiram resposta.
Com o fim do contrato de aluguel, a universitária agora mora de favor com amigos. A programação do retorno também é problemática.

Entre a divulgação do resultado e a data de partida, as estudantes terão dois dias para comprar passagem e preparar as malas, se não conseguirem a nota exigida. “Não tenho respostas para muitas questões. Por que isso ocorreu com quem se candidatou a ir para Portugal? Por que o curso na França foi cancelado? Por que nos convocaram para uma prova estando aqui havia apenas nove semanas? Já que estão pagando para ficarmos aqui, por que não pagam então para termos pelo menos um inglês direito?”, questiona.


O Estado de Minas entrou em contato com a Capes com uma série de questionamentos como esses, mas a coordenação se limitou a responder, por meio de nota, que foi informado às bolsistas sobre a necessidade de começar o curso de preparação de até 25 semanas, mínimo exigido pelo parceiro australiano, em janeiro deste ano, e que foi permitida a elas a permanência por um período adicional, para que pudessem fazer um terceiro teste de inglês. Sobre os vistos, a informação é de que vencem no dia 24 e que não podem ser prorrogados sem “um aceite incondicional de uma universidade australiana, conforme acordado com o parceiro”. A Capes não respondeu quantos alunos dependem ainda de ser aprovados em testes de proficiência para entrar na universidade.

 

O programa

» Criado em 2011, tem a meta de enviar 101 mil estudantes ao exterior até 2015

» Minas Gerais é o segundo estado que mais envia alunos, atrás apenas de São Paulo

» Cerca de 50 mil bolsas foram concedidas pelo programa

» Estados Unidos é o país que mais atrai os brasileiros

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