As garantias da Polícia Militar de Minas de que não vai tolerar atos de vandalismo durante a Copa do Mundo não parecem ter sido suficientes para tranquilizar comerciantes de Belo Horizonte, especialmente os da Avenida Antônio Carlos, onde foram maiores os prejuízos com manifestações no ano passado.
No principal acesso ao estádio do Mineirão, que foi palco das mais violentas manifestações durante a Copa das Confederações, apenas dois dos três postos de gasolina e um hotel permaneciam de “cara limpa”, a cinco dias do primeiro jogo do Mundial em BH. Inaugurado especialmente para hospedar estrangeiros que virão para o evento, um hotel de uma rede internacional localizado quase na esquina com a Avenida José Dias Bicalho ainda não informou aos funcionários se haverá esquema reforçado de segurança. A fachada, inteiramente de vidro, estava intocada até ontem.
“Meu sentimento é de vergonha, ao ver a cidade preparada para uma guerra. Os visitantes vão pensar que BH não tem concessionárias de veículos, bancos nem grandes lojas”, diz a sócia-proprietária do restaurante instalado no hotel. A empresária, que prefere não se identificar, está apreensiva. “Não sei o que vai ser de nós.
Sem autorização da rede hoteleira para dar entrevistas, funcionários também revelam preocupação com a aproximação da Copa. Uma delas confessa estar “morrendo de medo” de trabalhar nos dias de jogos. Outro afirma esperar reforço na segurança, embora compreenda a dificuldade do estabelecimento, que não pode tampar a própria fachada se quiser continuar recebendo os turistas. “Eu estava aqui no ano passado e acompanhei de perto as manifestações. O estrago foi grande”, afirma.
Pela movimentação de operários observada no fim de semana na entrada da concessionária da Hyundai, uma das mais atingidas nas manifestações, percebia-se que a loja se preparava para dar início hoje às obras de contenção. Em 2013, o estabelecimento foi invadido e depredado por manifestantes. A loja ao lado, que era da bandeira Kia, amargou a perda de seis veículos novos e de quatro usados, além de computadores e do PABX. Este ano, para se precaver, o proprietário lacrou a fachada com uma muralha de contêineres, reforçada por rolos de arame farpado.
‘À prova de invasores’
Diney Fernandes, fabricante de portas automáticas à prova de balas, que atende principalmente bancos e shopping centers, fez trabalhos de proteção para diversas concessionárias de veículos. “Não estou me concentrando em estética nem em praticidade. Estou preocupado com a segurança. Minha blindagem vai funcionar”, garante ele, que afirma ter desenvolvido uma tecnologia de portas de aço automáticas “à prova de invasores”, submetidas a testes de resistência. Abarrotado de encomendas, chegou a recusar propostas para reforçar a estrutura de lojas em São Paulo. “Não é um ou dois trabalhos a mais que deixam a gente mais ou menos rico.
R$ 16 milhões
É o prejuízo estimado pelo Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais com os atos de vandalismo contra estabelecimentos do setor em BH, no ano passado.
“Em copas anteriores, eu costumava torcer para o Brasil. Nesta, estou tão decepcionado que preferia que a Seleção nem passasse da primeira fase”, desabafa o funcionário de uma das revendas atingidas no ano passado, um dos poucos que restaram na loja depois da quebradeira, devido à drástica redução nas comissões dos vendedores. Ele explica que a empresa adiou ao máximo a instalação dos tapumes, como forma de minimizar as perdas nas vendas durante a Copa do Mundo.
Procurada pelo Estado de Minas para se posicionar a respeito do clima de medo entre comerciantes, especialmente na Avenida Antônio Carlos, apesar das garantias dadas pelas forças de segurança de que haverá proteção contra atos de vandalismo, a Polícia Militar não se manifestou.