Jornal Estado de Minas

Mais da metade dos trabalhadores de transporte público já foi alvo de violência, diz pesquisa

Estudo da UFMG realizado na capital e na Grande BH revela as condições de saúde dos motoristas e cobradores. Mais de 80% das agressões foram cometidas pelos passageiros.

Cristiane Silva
Mais de 50% dos motoristas e cobradores de ônibus de Belo Horizonte, Contagem e Betim já foram vítimas de agressão no trabalho nos últimos 12 meses, segundo uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O levantamento completo foi divulgado nesta quinta-feira durante o Seminário Condições de Saúde e Trabalho dos Motoristas e Cobradores do Transporte Coletivo, que aconteceu na sede do Ministério Publico do Trabalho em Minas Gerais (MPT). Nesta tarde, a discussão contou com a participação de representantes da BHTrans, Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG), TransBetim, além dos sindicatos que representam os trabalhadores.

1,6 mil trabalhadores dos três municípios desde 2011, quando o Ministério solicitou o levantamento ao Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG. Também participaram da pesquisa os sindicatos da categoria e nove empresas de ônibus da Grande BH.

A publicação de 148 páginas traz um retrato das condições de trabalho e saúde dos motoristas e cobradores, que tem o cotidiano marcado pelo estresse causado pelo trânsito, acidentes, estado de conservação da pista, a pressão dos passageiros e a responsabilidade de garantir a segurança dos mesmos.

De acordo com uma pesquisa interna do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviários de Belo Horizonte (STTR-BH), realizada em 2013, entre 23% e 26% dos trabalhadores foram afastados por questões de saúde. Cerca de 30% dos motoristas e cobradores relataram na pesquisa da UFMG três ou mais doenças com diagnóstico confirmado por um médico.
Entre os problemas estão a perda de audição, dores lombares e gastrite.

A pesquisa mostra que, além de conviver com o trânsito ruim ou muito ruim (90%), quase metade dos motoristas e 58% dos cobradores informaram sobre a segurança pessoal ameaçada no trabalho.

Atuando há quase uma década no transporte público da capital, um cobrador que não quis se identificar disse ter desenvolvido uma anemia por conta das longas horas sem fazer refeições. Ele foi afastado há três anos e já voltou ao trabalho. O profissional disse ter perdido a conta de quantas vezes foi assaltado. “Já meteram o revólver na minha cara”, diz. O último crime do qual foi vítima aconteceu nesta semana.

Além dos criminosos, os motoristas e cobradores costumam ser vítimas de agressões dos próprios passageiros. Conforme o levantamento da UFMG, mais da metade dos trabalhadores, 53% dos motoristas e 57% dos cobradores disse ter vivenciado agressão ou ameaça no último ano, sendo que os passageiros foram responsáveis por 87% das situações.

“A organização da produção dos serviços não tem oferecido às cidades as frotas e as linhas na quantidade necessária para a demanda dos passageiros. Então os passageiros, insatisfeitos com essa oferta, eles tendem a manifestar suas queixas diretamente aos primeiros atores e agentes que eles encontram pela frente, que são os motoristas e os cobradores. Não entendemos isso como um problema de comportamento dos passageiros, mas entendemos isso enquanto uma insuficiência ou uma deficiência na lógica da prestação dos serviços de transporte urbano”, explica a professora da UFMG e coordenadora da pesquisa, Ada Ávila Assunção.

O procurador do Ministério Público do Trabalho em Minas, Antônio Carlos Pereira, disse que os dados da pesquisa chamaram a atenção, principalmente no que se refere à violência no trabalho.
“O Ministério Público recebeu o resultado da pesquisa com preocupações. Porque a pesquisa aponta diversas condições de trabalho que estão desajustadas”, afirma. “Nós pretendemos fazer a junção com os sindicatos patronais, dos trabalhadores, com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e outras instituições que tem por atribuição cuidar dessa questão do mundo do trabalho no sentido de buscar, coletivamente, a união e a discussão desse ponto a fim de buscar soluções”. Ele ressalta que o estudo vai subsidiar futuras discussões para cobrança do cumprimento das condições de trabalho pelas empresas de ônibus. Segundo Pereira, a partir de julho, o MTE vai realizar visitas em alguns locais de trabalho para verificar as condições sanitárias e de conforto dos trabalhadores. .