Jornal Estado de Minas

Símbolos da cultura e casas de famílias viram alvos em protesto e são destruídos

Cinema, museu e casas particulares foram atacados nas imediações da Praça da Liberdade. Manifestantes geralmente destroem bancos e concessionárias de veículos

Sandra Kiefer

Cine Belas Artes, na Avenida Gonçalves Dias, foi apedrejado e teve os vidros quebrados - Foto: Marcos Michelin/EM/D. A Press


Pela primeira vez desde os protestos do ano passado, a destruição causada por manifestantes atingiu não apenas bancos e concessionárias de veículos, eleitos até então símbolos do capitalismo. Nessa quinta-feira, os vândalos depredaram casas de família e a sede do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran), na Avenida João Pinheiro. Atacaram também símbolos importantes da cultura de Minas, como o museu Memorial Minas Vale e o Cine Belas Artes, nas imediações da Praça da Liberdade.

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“Até agora, eu estava a favor do direito à livre manifestação das pessoas. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas mudei de discurso. O Belas Artes é uma casa de cultura, que não tem nada a ver com a indignação político-partidária e não pode pagar este preço”, declarou o parceiro do cinema Pedro Olivetto. “Até onde vamos suportar isso?”, perguntou. Olivetto ficou inconsolável ao se deparar com a fachada atingida por pedras e lixo espalhado pela Rua Gonçalves Dias.

No quarteirão anterior, o memorial teve três janelas quebradas.

“Os funcionários da limpeza tinham acabado de chegar e se preparavam para abrir a casa à noite. Por volta das 16h30, ouviram o barulho de vidros quebrados. Ficaram acuados e se esconderam debaixo das escadas”, contou ele, que decidiu fechar a casa por tempo indeterminado. Além de salas de cinema, a estrutura do local conta com livraria e café.

No rastro da destruição, os moradores de um prédio na João Pinheiro, 650, preparavam-se para assistir em família ao jogo da Seleção. Foram impedidos de comemorar a vitória brasileira pela ação dos manifestantes. “Manifestar é legítimo, mas isso já um ato criminoso e a polícia tem de agir”, desabafou, nervosa, a moradora do apartamento do andar térreo.

Ela calculava o prejuízo de seis vidraças quebradas na fachada, ao custo de R$ 500 cada uma. Quando acabou a confusão, os vizinhos desceram do prédio para conferir os estragos provocados pelos manifestantes. “Estão atacando até casas de família! Não somos da Fifa nem da polícia, não somos contra as manifestações. Eles estão sendo covardes”, revoltou-se a psicóloga S., de 37, que desconhecia o placar do jogo.

Em frente ao prédio residencial, o cenário era de desolação na sede do Detran, onde uma viatura foi virada e incendiada. “Fui eu que ajudei a apagar o fogo.

Juntaram umas 150 pessoas gritando palavrões e derrubaram a viatura. Quando eles começaram a jogar pedras, corremos lá para dentro. Foi um horror”, contou a funcionária do departamento.

Na Praça Sete, manifestantes ocuparam a pista e ficaram frente a frente com o Batalhão de Choque - Foto: Sidney Lopes/Em/D. A Press

Emoção

Na sala contígua, uma delegada vestida com as cores do Brasil estava em prantos, sendo consolada por um colega. “Eles estão destruindo nossa cidade, nossa cultura e a ordem pública. Temos a filmagem do nosso circuito interno de TV e vamos identificar esses arruaceiros, um a um”, avisou o coordenador de operações do Detran, Ramon Sandolli, que providenciou a transferência temporária das atividades para a unidade da Gameleira. 

O medo tomou conta da João Pinheiro, ainda na subida dos manifestantes em direção à Praça da Liberdade, por volta das 16h. Moradores trancavam as casas e comerciantes abaixavam as portas de ferro dos estabelecimentos. “Isso não vai acabar bem”, apostou o dono de uma lanchonete Jair Caetano. No primeiro confronto de manifestantes e policiais, moradores de prédios próximo à Praça da Liberdade acusaram os militares de “deixar tudo ser quebrado por vândalos”. “Vocês não estão fazendo nada”, gritou o morador de um edifício na avenida, enquanto fotografava cada cena com o celular.

(Com Luciane Evans)

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