Pela primeira vez, protestos contra a Copa em dias de jogo em Belo Horizonte não terminaram com atos de vandalismo. Depois da depredação ocorrida na última quinta-feira nas avenidas João Pinheiro e Bias Fortes, a Polícia Militar mudou a estratégia, mobilizou mais de 1 mil homens e conseguiu controlar manifestação na Praça Sete que reuniu poucas pessoas – em torno de 500, segundo militares. O grupo pretendia caminhar pela Avenida Antônio Carlos e chegar perto do Mineirão, mas policiais fecharam quarteirões e deixaram liberado apenas o caminho que levava à Praça da Estação. Houve muitas abordagens e, de acordo com a Polícia Civil, cinco adultos foram detidos e um adolescente, apreendido. Um homem flagrado com coquetel-molotov foi levado para o Ceresp Gameleira. Depois de quase sete horas, os manifestantes caminharam pacificamente até a Praça da Estação e encerraram o protesto por volta das 17h.
A aglomeração começou por volta das 10h, como estava combinado por meio de redes sociais. Logo no início do protesto, muitos policiais chegaram à Praça Sete – oficialmente, a PM afirma ter deslocado 1,2 mil homens e mulheres de diversas unidades, como Batalhão Copa, Batalhão de Choque, Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e demais batalhões do Comando de Policiamento da Capital (CPC). Cada pessoa que se aproximava da região passava por revista rigorosa dos militares.
Inicialmente, o grupo ficou contido no quarteirão fechado da Rua Rio de Janeiro, mas com o aumento no número de manifestantes, as avenidas Amazonas e Afonso Pena foram ocupadas, bloqueando o trânsito na Praça Sete. O grupo entoava gritos de guerra de protesto contra a Fifa e os gastos com a Copa do Mundo. Entre as pessoas que participaram do protesto, havia integrantes do Movimento Tarifa Zero, do Sindicato dos Empregados da Construção Civil (Marreta), do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa (Copac), Brigadas Populares, PSTU, Liga Operária, entre outros.
A mudança de comportamento da Polícia Militar em relação à última quinta-feira, quando vândalos viraram uma viatura da Polícia Civil e depredaram lojas e prédios nas avenidas João Pinheiro e Bias Fortes, ficou clara com duas iniciativas específicas. A primeira delas foi uma ação prévia, com a prisão de dois indivíduos que portavam máscaras. “A Polícia Militar entende que esse objeto é usado com o intuito de promover a violência e, por isso, as pessoas flagradas foram conduzidas”, disse o tenente-coronel Alberto Luís, porta-voz da corporação. O número de detidos no entorno da Praça Sete, incluindo mascarados, chegou a 16, dos quais cinco foram levados para a Delegacia Regional Noroeste. Houve detenções por porte de armas brancas e, em um dos casos, um dos manifestantes, Igor Daniel de Aguiar Borges, de 29 anos, foi preso por carregar um coquetel molotov.
A segunda ação preventiva adotada pela PM foi um bloqueio tático na Praça Sete. Logo que os manifestantes tomaram as vias e fecharam o trânsito, os militares interditaram os três lados da praça. O grupo ficou impedido de se movimentar para qualquer direção que não a Praça da Estação, pela Avenida Amazonas. Policiais com escudos, cães e cavalos fizeram uma área de isolamento. No fim do dia, por volta das 17h10, os manifestantes decidiram descer a Amazonas em direção à Praça da Estação.
Para manifestantes, ação foi arbitrária
Manifestantes criticaram a estratégia da Polícia Militar de restringir o deslocamento do grupo a partir da Praça Sete. Os movimentos sociais classificaram a atitude como arbitrária. A PM argumenta que agiu para evitar tumulto e garantir a segurança no ambiente do protesto.
“A PM persiste cerceando o direito de ir e vir, apesar do caráter integralmente pacífico da manifestação dos mais diversos grupos que se encontram na Praça Sete. Pedimos solidariedade com os companheiros cercados”, afirmou, por meio de nota divulgada nas redes sociais, a Assembleia Popular Horizontal de Belo Horizonte.
Advogados que integram a Frente Única de Suporte Jurídico aos Manifestantes, criticaram as prisões ocorridas no entorno da Praça Sete. O grupo considera que houve excessos e prometeu um relatório de cada caso. “Isso é uma coisa típica de um estado de sítio. O próprio cerco da praça é inconstitucional”, opina o advogado Alexandre Silva.
O tenente-coronel Alberto Luiz, chefe da comunicação social da PM, classificou o trabalho como satisfatório, garantindo que o objetivo foi permitir que quem quisesse ir às ruas para vocalizar as insatisfações pudessem fazê-lo com segurança. “Em momento algum a PM deixou de garantir o direito de ir e vir das pessoas. É importante lembrar que esse direito não é absoluto e deve respeitar os demais moradores da cidade”, afirmou.
O tenente-coronel confirmou a mudança de postura da PM e disse que nos próximos jogos o objetivo será mantido. “Estamos endurecendo nossas ações e isso não é arbitrariedade nenhuma. O caminho a ser escolhido daqui para frente pode ter alguns ajustes, mas o objetivo continua sendo manter a paz”, concluiu. (PRF e GP)
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