Luciane Evans
A hospitalidade mineira, nesse tempo de Copa do Mundo, está muito além dos bares, restaurantes, hotéis e pontos turísticos. A maior tradição de Minas Gerais também abriu suas portas para os turistas da capital. E foi no domingo, dia em que os belo-horizontinos têm por hábito estar ainda mais próximos de Deus, que as igrejas da cidade promoveram missas em diversos idiomas. A iniciativa, que dura até o fim do Mundial, agradou aos fiéis mineiros e, claro, aos estrangeiros, que, satisfeitos com tudo que estão conhecendo por aqui, disseram ter motivos de sobra para agradecer a Deus, principalmente pela oportunidade de conhecer o Brasil e seu povo.
As celebrações eucarísticas realizadas em espanhol, inglês, alemão e até em árabe fazem parte de uma programação especial e, de acordo com a Arquidiocese de Belo Horizonte, é a primeira vez que elas são feitas dessa forma na capital. Os padres celebrantes foram convidados especialmente por cada pároco e, geralmente, são estrangeiros que vivem em Minas Gerais. Para cada torcida, uma missa em sua língua. Ontem, por exemplo, houve celebrações em inglês, na Igreja da Boa Viagem e da Pampulha; e, em árabe e aramaico, na Paróquia Sagrado Coração de Jesus. Mas a maioria das missas foi em espanhol, para a alegria dos colombianos que invadiram BH nos últimos dias.
Depois de ganhar de 3 a 0 da Grécia no Mineirão, na tarde de sábado, a torcida da Colômbia, segundo o colombiano Jorge Mora, de 33 anos, tem muito a agradecer a Deus. Por isso, ontem, ele e os amigos assistiram à missa das 11h30, em espanhol, na Igreja São José, no Centro de BH. O local, com capacidade para 800 pessoas sentadas, tinha quase todos os lugares ocupados, tanto por visitantes de outros países, como por mineiros. “Estamos felizes por estar aqui. A cidade é linda e receptiva. Estamos em uma igreja onde podemos ouvir a nossa língua pátria. Mais do que agradecer pela vitória no Mineirão, temos que agradecer a Deus pela oportunidade de estar no Brasil”, comemorou Jorge, que trazia consigo uma bandeira da Colômbia. A missa foi celebrada pelo padre Eugênio Rivas, da República Dominicana. Na celebração, ele desejou boas-vindas aos turistas e agradeceu aos fiéis.
Solidariedade
Para o Padre Flávio Leonardo Campos, há três anos à frente da Paróquia São José, essa receptividade dos católicos demonstra que “a busca por Deus extrapola limites geográficos e sazonais.” “Quando estamos fora do nosso país, ao escutar o nosso idioma nos sentimos mais em casa”, disse. Na Igreja de Lourdes, na Região Centro-Sul, a missa das 12h também foi em espanhol, para a alegria das estudantes colombianas Ruth Ortiz, de 30, Maria de Paula Parada, de 25, e Diana Carolina Tusso, de 25. Pela primeira vez em Minas, elas estão encantadas com tudo que estão conhecendo por aqui. “Tudo é belo. As pessoas são ótimas”, comentou Ruth, elogiando ainda a organização e o evento da Fifa no Mineirão.
Chileno, o padre Juan Enrique Pacheco Chávez, que celebrou a missa na Igreja de São José, reconheceu que num primeiro momento ficou temeroso com a Copa do Mundo no Brasil, mas, depois que o papa Francisco enviou uma carta aos atletas e espectadores do Mundial, dizendo que o momento é de receber bem os visitantes e valorizar a solidariedade entre os povos, ele se sentiu aliviado. “Agora não é hora de arrumar a casa. É hora de recebê-los bem”, disse o padre Juan, que mora há três meses em Minas e, ontem, durante a missa, pediu a Deus para que “tudo ocorra em paz para brasileiros e turistas.”