Os torcedores da Colômbia não ficaram restritos à Região da Savassi, onde se concentraram em maior número. A onda amarela invadiu todos os cantos de Belo Horizonte. Todos mesmos. “Ei, moça. Com todo respecto (respeito). Estou morando no Morro do Papagaio. Devo dizer às outras pessoas que vivo em uma favela ou em uma comunidade?”, perguntou, simpático, o colombiano Jhonny Tangarife, de 25 anos. O jovem, na verdade, tentava puxar assunto, com a real intenção de vender duas pulseiras a R$ 5, trançadas nas cores da bandeira do seu país: amarelo, azul e vermelho.
Em Belo Horizonte desde maio, Jhonny mostra que já aprendeu a usar o jeitinho brasileiro para sobreviver. “Vendo minha artesanía (artesanato) e conto com o coração das pessoas que nos ajudam”, diz. Ele e uma turma de cerca de 40 seguidores da torcida organizada do Atlético Nacional, de Medellín, vieram assistir à partida histórica no estádio do Independência, contra o Atlético Mineiro. Mesmo sem dinheiro, decidiram ficar até a Copa do Mundo, depois que o time de Medellín derrotou o Galo nas quartas de final da Taça Libertadores. “Los Colômbias”, grita um morador em portunhol, brincando com a turma de colombianos reunida em frente ao barracão localizado na Rua Principal, 1.008.
Dono do barraco, o educador social Giordano Máximo, de 37, contou como se deu a negociação com os locatários estrangeiros. “Veio uma turminha da Colômbia e disse que queria ter onde ficar, que precisava chegar acá”, conta ele, tentando se expressar em espanhol. Máximo explica que a mãe dele concordou em receber os turistas, pagando R$ 500 por mês. “Ela só impôs a condição de que ninguém poderia usar drogas em casa. O problema é que cada dia chegavam mais colombianos. Quando a gente percebeu, tinham umas 40 pessoas morando aqui dentro. Perdemos o controle”, disse ele, que começou a cobrar R$ 20 por pessoa, só para dormir.
PECHINCHA
Com o passar do tempo, os colombianos ganharam fama de pechincheiros no Morro. “A gente fica com dó e ajuda.
Jersson Ordoñes, de 24, exibe o ingresso para o jogo entre Colômbia e Japão, no dia 24, em Cuiabá, mas não sabe como vai chegar lá. No entanto, a turma ainda não conseguiu arranjar as entradas para a próxima partida, depois de amanhã, em Brasília. “Você pode me ajudar a conseguir uma van para Brasília? Pagamos 95 pilas (sic) por pessoa. Na rodoviária, a passagem sai a R$ 125 cada”, implora Ordoñes, sem perder o jeito. Se quiser chegar a tempo para o jogo na capital federal, precisa partir hoje. Ele e os outros ainda cogitavam ir de carona, com caminhoneiros. Estavam preocupados com a possibilidade de perder a partida, o que seria imperdoável para la hinchada (a torcida) de Medellín, que segue sua torcida por onde ela vá.
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