Jornal Estado de Minas

Belo-horizontinos abrem as portas de casa para hospedar turistas estrangeiros e faturar

Turistas comprovam que a hospitalidade mineira não é só fama e aproveitam para pagar menos do que se ficassem hospedados em hotéis

Tiago de Holanda
A mineira Júlia Dias recebeu em sua casa, no Colégio Batista, os argentinos Camilo Bono, Emiliano Figge, Sebastián Bryndum e Paolo Ortiz - Foto: Fotos: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press

Nesta Copa do Mundo, a casa da artista Júlia Dias, de 24 anos, virou um enclave da Argentina no Bairro Colégio Batista, na Região Leste de BH. O português deixou de ser o idioma predominante, substituído pelo castelhano dos quatro hermanos que a moça hospeda de graça até o fim de semana. Dois em um quarto e os demais na sala de estar. Com bandeiras e gritos de guerra, o grupo veio à capital ver o jogo da seleção de seu país contra o time do Irã, sábado, no Mineirão. “Eles são legais, organizados. Cozinham, limpam as coisas”, elogia a brasileira.

Muitos moradores de Belo Horizonte resolveram mudar a rotina e abriram as portas para os turistas durante a Copa. Alguns aproveitam para lucrar com o aluguel de um quarto. Outros nada cobram, como a cantora, atriz e percussionista Júlia.
Os quatro argentinos que hospeda são amigos e compatriotas do marido, o músico Belisário Tonsich, de 34. Antes de chegar a BH na terça-feira, o grupo assistiu à partida entre Argentina e Bósnia, no Rio de Janeiro. Lá, os rapazes alugaram um apartamento, dividido com quatro desconhecidos: um chileno e três argentinos. Eles desembarcaram no país sem ingressos e evitam revelar como conseguiram entrar no Maracanã. Dizem apenas que cada um pagou US$ 1 mil.

“No Rio teve muita festa. Estávamos precisando de uma estadia mais ‘família’. Ontem (terça) à noite, eles (Júlia e Belisário) até cantaram para nós. É o paraíso, não podemos querer mais”, elogia o professor Sebastián Bryndum, de 36, conhecido como Seba. “Quando ficamos com moradores, aprendemos mais a cultura local”, diz o futebolista profissional Paolo Ortiz, de 30. O casal anfitrião planeja passear com os hóspedes. Hoje, a ideia é ir à Praça do Papa e, talvez, à orla da Lagoa da Pampulha. “A rivalidade entre argentinos e brasileiros está ultrapassada. Recebê-los é uma forma de mostrar que isso não deve existir”, diz Júlia.

Alguns estrangeiros conseguiram hospedagem gratuita no Brasil por meio do couchsurfing (“surfe de sofá”, em português).
Oferecido pela internet, o serviço permite que pessoas sejam acolhidas de graça por desconhecidos. Os interessados em acolher visitantes ou serem recebidos devem se cadastrar no site Couchsurfing.org. Por meio dessa ferramenta, o analista de TI Paulo Lessa, de 41, hospeda turistas durante a Copa em seu apartamento no Bairro Sagrada Família, Região Leste de BH.

Marino Azevedo Júnior e Delphine Scheerens em seu novo %u201Clar%u201D - Foto:
Um dos três quartos do apartamento está ocupado pela belga Delphine Scheerens, de 26, formada em relações internacionais, e pelo marido potiguar Marino Azevedo Jr., de 26, advogado. Os dois moram em Brasília e chegaram a BH para ver o jogo entre Bélgica e Argélia. “Já recebi o Paulo em minha casa, e ele já me hospedara antes. Eles nos deixam bem à vontade”, diz Marino. O anfitrião os acompanhou em visitas ao Instituto Inhotim, em Brumadinho, e ao boêmio Bairro Santa Tereza, na Região Leste da capital. Hoje os três planejam visitar o Parque das Mangabeiras.

A publicitária Poliana, de 37 anos, aluga quartos em seu apartamento no Bairro Santa Tereza. O de solteiro tem diária a R$ 55, e o de casal a R$ 65. Ela recebeu cinco hóspedes atraídos pela Copa.
Dois dos Estados Unidos e dois da Colômbia já se foram. Agora está lá um norte-americano, que lhe ofereceu um ingresso para o jogo de sábado no Mineirão. “Achei um gesto muito legal. A pessoa que o acompanharia não poderá mais ir”, diz ela, que pediu para não ter o sobrenome divulgado. “Viro amiga de quase todos os hóspedes. A maioria me oferece estadia para quando for a seus países”.

Poliana diz que gostou de todos os hóspedes. “Dou muito apoio com informações, ajudo no que for necessário. Eles pedem indicações de lugares para ver os jogos e para sair à noite. Querem lugares mais representativos da vida local, não muito turísticos”, diz. Ela muda um pouco da rotina para receber os visitantes. “Tenho que manter tudo mais organizado do que o normal, mas curto muito. Agora na Copa, eles mostram muita alegria em estar aqui. Chegam com uma energia contagiante”, conclui..