O uso de máscaras e de tecidos para cobrir o rosto não deve deixar impunes os vândalos que depredaram vários pontos de Belo Horizonte nas manifestações contra a Copa do Mundo, na quinta-feira passada. A Polícia Civil está recorrendo à tecnologia para reconhecer quem participou dos ataques e por meio de análise das imagens gravadas durante os ataques já conseguiu a identificação de três homens que tombaram uma viatura no Detran, na Avenida João Pinheiro. Dois menores, de 17 anos, e três adultos foram identificados anteriormente. Os maiores respondem a inquérito por danos ao patrimônio público (viatura) e a bens do patrimônio tombado (edifício do Detran). A técnica usada pela polícia é conhecida como prosopografia e usa a representação facial humana (RFH) e a comparação de características anatômicas para comprovar que uma pessoa disfarçada é a mesma de outra imagem sem disfarce.
Ao todo, 19 pessoas foram detidas pelo vandalismo no entorno da Praça da Liberdade. A Polícia Civil identificou oito, incluindo três presas. Ainda estão detidas a pernambucana Patrícia Dantas Dias, de 25 anos, e Karine Kênia Soares da Silva Melo, de 20, ambas no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Centro-Sul, no Bairro Funcionários. Patrícia é suspeita de ter participado do tombamento da viatura. Uma advogada entrou com habeas corpus para tentar a liberdade dela, mas a delegada Gislaine Oliveira Rios, que investiga o caso, conseguiu na Justiça a prisão preventiva.
A técnica de RFH traça pontos para que o reconhecimento seja feito, como o triângulo do rosto, que é composto pelos olhos, nariz e boca. A delegada não dá detalhes do procedimento científico para não atrapalhar a investigação. O Instituto de Criminalística do Paraná, entretanto, revela que é um dos mais avançados do Brasil. “Numa descrição, os olhos equivalem a aproximadamente 50% de um rosto, o nariz a 20% e a boca a 20%, também. Cabelos e queixo somam 5%, cada. Ou seja, o triângulo do rosto é responsável por 90% de uma face bem descrita.” Sinais permanentes como pintas, sardas, cicatrizes, tatuagens e rugas também auxiliam na descrição.
RECRUTAMENTO A Polícia Civil investiga a convocação de jovens de outras regiões do Brasil por grupos violentos que se infiltram nas manifestações e atacam bens públicos, privados e a polícia. Um adolescente que foi detido após o protesto de quinta-feira e a mãe dele contaram em depoimento que o menor teria sido recrutado para integrar um grupo composto por pessoas do Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás. “Para mostrar aos líderes a sua disposição em integrar o movimento, o garoto teve que promover quebradeiras em Belo Horizonte, há alguns meses, tendo sido, inclusive, apreendido pelo ato”, informou uma fonte da corporação.
No sábado, o EM mostrou que entre os cerca de 40 black blocs que enfrentaram a polícia na Rua Gonçalves Dias, na Praça da Liberdade e nas avenidas Bias Fortes e Amazonas, estavam pessoas conhecidas da cena cultural alternativa de BH, com participação inclusive, em blocos carnavalescos, mascarados de outras cidades, que tinham sotaque comum do Sul de Minas e de São Paulo. Ao serem perguntados sobre a via em que se encontravam ou por onde iriam, eles diziam não conhecer as ruas do Hipercentro e da Região Centro-Sul de BH, o que reforça as suspeitas de não serem da capital mineira. “Estamos fazendo um acompanhamento das redes sociais e de outros meios pelos quais esses grupos se comunicam, principalmente para antecipar ações mais violentas”, disse a delegada.
A Corregedoria da Polícia Militar vai apurar dois casos de denúncia de agressões por policiais. Uma das pessoas é um ator Jhonathan Oliveira, que diz ter sido espancado por policiais no Centro. A repórter da Mídia Ninja, Karinny de Magalhães Rocha Rodrigues, de 19, também afirma ter sido espancada por policiais militares. No caso dela, uma investigação foi aberta também no Ministério Público, que conta com o laudo do exame médico de corpo de delito e está em fase de relatório de testemunhas.