Uns descem de ônibus na rodoviária, com mochilas cheias de panelas dependuradas.
A receita de alguns argentinos que estão em Minas é muito simples: 4kg de mate, 10kg de macarrão, duas malas de roupas e muita disposição para dirigir o Renault Megane 1999 por 6 mil quilômetros. Os fisioterapeutas Maxi Gutierrez e Franco Marchesi partiram de Neuquén, na Patagônia, para o Brasil e dirigiram por quatro dias até o Rio. Desde terça-feira, estão acampados na porta da Cidade do Galo.
Aventura mesmo vive Marcos Balanes, de 29 anos, que tem apenas R$ 150 para gastar até o fim da Copa – incluindo o retorno até Ushuaia, no extremo sul argentino. Ele começou a viagem de carona em 1º de julho e chegou a Uruguaiana (RS) no dia 6. Seguiu para o Rio e depois para BH de ônibus. “No primeiro jogo, tomei banho no posto de gasolina. Aqui estou usando o banheiro de um centro comunitário. Estou dormindo no chão. Espero ganhar ingresso, mas, se não acontecer, fico feliz pela aventura”, disse.
Dois moradores da cidade de Rafaela (província de Santa Fé) chamaram a atenção no desembarque na rodoviária de BH ao descer do ônibus um pouco sujos, com mochilas, barracas e utensílios de cozinha, preparados para acampar na porta da Cidade do Galo também. “No Rio de Janeiro, dormimos na Praia de Copacabana. Agora, queremos um local para acampar, de preferência perto da concentração”, espera Franco Moietta, de 23. “Não temos ingresso, ainda vamos tentar. Isso não é problema.
O comerciante Ariel Janin, de 41, que passeava pela Savassi ontem, chegou à cidade no sábado com dois amigos, um dos quais não tem entrada para a partida. “Estamos tentando achar alguém que revenda”, disse. Segundo ele, o trio, que vive em Buenos Aires, está hospedado em um hotel.
Segurança reforçada
A presença de tantos argentinos sem ingresso e hospedagem preocupa a polícia e outras autoridades, por causa dos problemas provocados por torcedores colombianos que também não tinham como entrar no Mineirão nem onde ficar e acabaram se envolvendo em crimes, como autores ou vítimas. Além disso, a possibilidade de invasão do estádio por torcedores sem ingresso, como ocorreu duas vezes no Maracanã, levou a um reforço na segurança em BH.
Na madrugada de quarta-feira, a polícia prendeu 18 colombianos que faziam arrastão no Centro. “Essa experiência nos mostrou muitos problemas que as pessoas que chegam sem ingressos, dinheiro ou onde ficar acabam tendo. Mas a Polícia Militar está atenta”, afirma o coordenador do Núcleo de Operações e Inteligência da Secretaria Estadual de Turismo e Esportes, coronel Wilson Chagas Cardoso.
O consulado argentino não sabe ao certo quantos argentinos estarão em BH, mas informou que a expectativa de 21 mil da organização da Copa do Mundo corresponde apenas aos que já compraram ingressos e deve ser ultrapassada. A Belotur estima a vinda de 25 mil. Todos os que procuram informações no consulado, no Bairro Funcionários, recebem uma cartilha com informações básicas sobre segurança, saúde, transporte e turismo. Uma das mais importantes recomendações é sobre alojamento. “Recomendamos que se reserve alojamento antes de ingressar no Brasil, evitando assim dificuldades e riscos.”
A publicação também destaca a importância do ingresso adquirido antes da viagem ao Brasil e o cuidado com o comércio negro.
Poucos argentinos procuraram o escritório diplomático em BH, mas boa parte dos torcedores deve chegar mesmo hoje. Uma van consular foi preparada para dar apoio aos torcedores e cidadãos na área próxima ao Mineirão. O consulado funcionará em esquema de plantão no fim de semana.
No domingo, cerca de 20 argentinos invadiram o Maracanã para assistir ao jogo da sua seleção contra a Bósnia. Nove foram detidos. Na quinta-feira, foi a vez de dezenas de chilenos e de pelo menos um argentino repetirem a ação, sendo que 85 foram presos. Como as duas seleções estão sediadas na Grande BH (a argentina na Cidade do Galo e a chilena na Toca da Raposa), os integrantes do Centro Integrado de Comando e Controle, que reúne as forças de segurança pública, se reuniram ontem para discutir reforço na segurança no entorno do Mineirão.
“Não foi necessário ampliar o efetivo policial dentro do estádio ou nas áreas vizinhas, apenas reforçar pontos sensíveis à invasão de grande número de torcedores”, informou o coronel Cardoso. Para o militar, no entanto, as características do Mineirão tornam muito difícil esse tipo de invasão. “Pessoas sem ingresso não conseguem se aproximar do estádio. Os check points são bem afastados. Por isso, se alguém corre do local onde são conferidos os ingressos, terá grande distância a percorrer e acabará sendo detido pela segurança privada ou pela polícia”, afirma. (Colaborou Tiago de Holanda).