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Estado de Minas ARGENTINA X IRÃ

Cerca de 4 mil dos 25 mil argentinos que chegam a BH não têm ingresso para o jogo

Argentinos que vêm à capital sem hospedagem e sem entrada para tentar assistir ao jogo de amanhã podem chegar a 4 mil, segundo autoridades. Alguns viajaram 6.000km de carro


postado em 20/06/2014 06:00 / atualizado em 20/06/2014 07:45

(foto: Quinho)
(foto: Quinho)


Uns descem de ônibus na rodoviária, com mochilas cheias de panelas dependuradas. Outros cochilam dentro do carro na porta da Cidade do Galo, em Vespasiano, na Grande BH, depois de rodar seis mil quilômetros. Apaixonados pela Seleção Argentina, mas sem ingresso, hospedagem e com pouco dinheiro, torcedores hermanos contrariaram as recomendações do consulado do seu país e vieram a Belo Horizonte sem saber onde dormir ou como assistir aos jogos de Messi e cia. amanhã, contra o Irã, no Mineirão. Eles podem chegar a 4 mil na capital, se observada a diferença entre a última parcial de vendas de ingressos a argentinos para a partida em BH (21 mil) e a projeção da vinda de 25 mil feita pela Belotur.


A receita de alguns argentinos que estão em Minas é muito simples: 4kg de mate, 10kg de macarrão, duas malas de roupas e muita disposição para dirigir o Renault Megane 1999 por 6 mil quilômetros. Os fisioterapeutas Maxi Gutierrez e Franco Marchesi partiram de Neuquén, na Patagônia, para o Brasil e dirigiram por quatro dias até o Rio. Desde terça-feira, estão acampados na porta da Cidade do Galo. “Não temos tíquetes. Estamos tentando ganhar de alguém, já que está muito caro. No Rio nos ofereceram, mas pediram US$ 1 mil”, explicou Gutierrez.

"Não temos tíquetes. Estamos tentando ganhar de alguém", Maxi Gutierrez (E), fisioterapeuta, ao lado do amigo Franco Marchesi, ambos acampados na porta da Cidade do Galo, em Vespasiano (foto: Rodrigo Clemente/EM/DA Press)


Aventura mesmo vive Marcos Balanes, de 29 anos, que tem apenas R$ 150 para gastar até o fim da Copa – incluindo o retorno até Ushuaia, no extremo sul argentino. Ele começou a viagem de carona em 1º de julho e chegou a Uruguaiana (RS) no dia 6. Seguiu para o Rio e depois para BH de ônibus. “No primeiro jogo, tomei banho no posto de gasolina. Aqui estou usando o banheiro de um centro comunitário. Estou dormindo no chão. Espero ganhar ingresso, mas, se não acontecer, fico feliz pela aventura”, disse.

Dois moradores da cidade de Rafaela (província de Santa Fé) chamaram a atenção no desembarque na rodoviária de BH ao descer do ônibus um pouco sujos, com mochilas, barracas e utensílios de cozinha, preparados para acampar na porta da Cidade do Galo também. “No Rio de Janeiro, dormimos na Praia de Copacabana. Agora, queremos um local para acampar, de preferência perto da concentração”, espera Franco Moietta, de 23. “Não temos ingresso, ainda vamos tentar. Isso não é problema. Se não der, vamos à Fan Fest”, garante Daniel Condotto, de 27.

O comerciante Ariel Janin, de 41, que passeava pela Savassi ontem, chegou à cidade no sábado com dois amigos, um dos quais não tem entrada para a partida. “Estamos tentando achar alguém que revenda”, disse. Segundo ele, o trio, que vive em Buenos Aires, está hospedado em um hotel.

"Dormimos na Praia de Copacabana. Queremos um local para acampar", Franco Moietta (E), ao lado do amigo Daniel Combotto, depois do desembarque na rodoviária de Belo Horizonte (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)


Segurança reforçada

A presença de tantos argentinos sem ingresso e hospedagem preocupa a polícia e outras autoridades, por causa dos problemas provocados por torcedores colombianos que também não tinham como entrar no Mineirão nem onde ficar e acabaram se envolvendo em crimes, como autores ou vítimas. Além disso, a possibilidade de invasão do estádio por torcedores sem ingresso, como ocorreu duas vezes no Maracanã, levou a um reforço na segurança em BH.

Na madrugada de quarta-feira, a polícia prendeu 18 colombianos que faziam arrastão no Centro. “Essa experiência nos mostrou muitos problemas que as pessoas que chegam sem ingressos, dinheiro ou onde ficar acabam tendo. Mas a Polícia Militar está atenta”, afirma o coordenador do Núcleo de Operações e Inteligência da Secretaria Estadual de Turismo e Esportes, coronel Wilson Chagas Cardoso.

O consulado argentino não sabe ao certo quantos argentinos estarão em BH, mas informou que a expectativa de 21 mil da organização da Copa do Mundo corresponde apenas aos que já compraram ingressos e deve ser ultrapassada. A Belotur estima a vinda de 25 mil. Todos os que procuram informações no consulado, no Bairro Funcionários, recebem uma cartilha com informações básicas sobre segurança, saúde, transporte e turismo. Uma das mais importantes recomendações é sobre alojamento. “Recomendamos que se reserve alojamento antes de ingressar no Brasil, evitando assim dificuldades e riscos.”

A publicação também destaca a importância do ingresso adquirido antes da viagem ao Brasil e o cuidado com o comércio negro. “Por questões de segurança e de proteção ao consumidor, não se recomenda a compra de ingressos nas ruas (cambistas).”

Poucos argentinos procuraram o escritório diplomático em BH, mas boa parte dos torcedores deve chegar mesmo hoje. Uma van consular foi preparada para dar apoio aos torcedores e cidadãos na área próxima ao Mineirão. O consulado funcionará em esquema de plantão no fim de semana.

No domingo, cerca de 20 argentinos invadiram o Maracanã para assistir ao jogo da sua seleção contra a Bósnia. Nove foram detidos. Na quinta-feira, foi a vez de dezenas de chilenos e de pelo menos um argentino repetirem a ação, sendo que 85 foram presos. Como as duas seleções estão sediadas na Grande BH (a argentina na Cidade do Galo e a chilena na Toca da Raposa), os integrantes do Centro Integrado de Comando e Controle, que reúne as forças de segurança pública, se reuniram ontem para discutir reforço na segurança no entorno do Mineirão.

“Não foi necessário ampliar o efetivo policial dentro do estádio ou nas áreas vizinhas, apenas reforçar pontos sensíveis à invasão de grande número de torcedores”, informou o coronel Cardoso. Para o militar, no entanto, as características do Mineirão tornam muito difícil esse tipo de invasão. “Pessoas sem ingresso não conseguem se aproximar do estádio. Os check points são bem afastados. Por isso, se alguém corre do local onde são conferidos os ingressos, terá grande distância a percorrer e acabará sendo detido pela segurança privada ou pela polícia”, afirma. (Colaborou Tiago de Holanda)


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