Jornal Estado de Minas

Em clima de amizade, rivalidade entre Brasil e Argentina invade a Savassi

Tradicional ponto de encontro de estrangeiros em BH, durante a Copa, protagoniza disputa de cânticos entre brasileiros e hermanos sul-americanos.

Landercy Hemerson
Argentinos se reuniram na Savassi às vésperas do jogo contra o Irã, no Mineirão - Foto: Crisitina Horta/EM/D.A Press
A rivalidade sadia entre brasileiros e argentinos tomou conta da Savassi, em Belo Horizonte, nesta sexta-feira, às vésperas do jogo da seleção de Messi e cia contra o Irã, no Mineirão.

Em clima de descontração, a festa antecipada dos vizinhos sul-americanos foi embalada por cânticos que reverenciaram o ídolo Diego Maradona. “Maradona lá papa del fútbol, estamos aquí, en nuestra casa” foi o que se ouviu no tradicional ponto de encontro dos estrangeiros na Região Centro-Sul da capital. Em resposta, um grupo de anfitriões da Copa improvisou a conhecida Aquarela do Brasil ao som de pandeiro. Argentinos e iranianos duelam neste sábado, às 13h, e, em caso de vitória, os hermanos podem garantir a liderança do grupo F.

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“Será uma vitória de 3 a 0 sobre o Irã. Messi vai marcar dois”, prevê o contador Sérgio Sosa, de 45 anos, que chegou ontem à capital mineira em companhai do filho Valentino, de 12. Pai e filho, mesmo hospedados em hotel na Região da Pampulha, próximo ao estádio, foram à Savassi se unir aos compatriotas. Valentino, entrou no clima de comemoração. “Vamos lá Argentina.
Vamos a ganhar”, cantarolou ele o seu refrão preferido dos muitos cânticos dos hermanos.

O comerciante Pablo Fuentes, de 48, que comprou ingressos para acompanhar os três primeiros jogos da Argentina, explica que além do coro que exalta Maradona como pai do futebol, muitos são gritos de guerra das torcidas dos times argentinos, como o do Vélez Sársfield. “Ganamos, somos campeones, somos ganadores”, arriscou Fuentes. Diante das câmeras do Canal 13 TN, de Buenos Aires, ao vivo, os torcedores do país vizinho não economizavam na tradicional dramaticidade ao entoarem seu hino.

O construtor Marcelo Nobile, de 49, e sua mulher, a psicóloga Denise Feldmann, de 36, circulavam pelo quarteirão fechado com a filhinha Mila, de apenas quatro meses. “Estivemos no Rio, na estreia, mas aqui estamos sentindo-se em casa. Belo Horizonte é uma cidade linda e hospitaleira”, disse Denise. “Depois desse jogo, minha mulher retorna para Buenos Aires e os nosso outros dois filhos, de 8 e 9 anos, vai me encontrar em Porto Alegre, para a terceira partida. Espero encontrar lá esse mesmo clima de festa, de alegria”.

Mas nem todos argentinos estavam na Savassi em ritmo de descontração. Alguns, com cartazes improvisados, em inglês, procuravam por ingressos. Dois deles, que moram na França, queriam comprar três tíquetes, mas não quiseram falar com a reportagem, temendo serem confundidos com cambistas. As negociações de ingressos na praça ocorriam de forma discreta e, a qualquer aproximação de câmeras, os envolvidos se afastavam e escondiam os cartazes de compra e venda.

Já Marcelo Bazet, montou uma área de venda de camisas falsas da argentina em meio ao quarteirão da Antônio de Alburqueque. Temeroso diante de uma possível ação da fiscalização, ele também evitou o assédio dos repórteres. “Não vou ao jogo. Estou aqui trabalhando”, se limitou a dizer, entre a venda de uma camisa de Messi, por R$ 70, ou uma faixa de Argentina campeã.

Ana Melo, de 26, gerente do Acarajé da Baiana, acompanhava do alto do prédio do restaurante a movimentação dos argentinos.
“Como todos os latinos são muito animados. Mas não se comparam aos colombianos, que em maior número tomaram a Savassi e fizeram uma festa bem mais animada aqui na semana passada. Comemoração discreta por aqui só mesmo dos norte-americanos”, comentou.

Gol contra

Que a Savassi tornou-se o centro de encontro de festa dos estrangeiros, isso a comerciante Bruna Lionello Semionato diz não ter dúvidas. “O absurdo é que, a Savassi agora transformada em espaço cultural das torcidas, não há uma infraestrutura adequada da administração pública. As ferragens da porta de minha loja estão enferrujando, diante da quantidade de urina. A prefeitura não coloca fiscais e as pessoas tem feito de alguns pontos mictórios públicos”, reclamou a comerciante, que tem uma loja de bijuteria na Rua Pernambuco, quase esquina com Tomé de Souza.

Daniele Matos, de 32, gerente de uma loja de confecções vizinha, engrossa o coro. “O pessoal da prefeitura passa somente à tarde e joga apenas água, que impregnada de urina, polui ainda mais. Pela manhã, a três funcionárias têm que realizar uma verdadeira faxina com desinfetantes na calçada. O pior, é que só colocam banheiros químicos, em pouca quantidade, em dia de jogos do Brasil”. .