Jornal Estado de Minas

Mercado Central, obras de Niemeyer e culinária mineira conquistam alemão e argentino

Dupla visita alguns dos ícones da mineiridade em Belo Horizonte e aprova o que encontra pela capital

Eduardo Tristão Girão
Marcos Cafiero e Christian Koehler aprovaram o fígado com jiló do Mercado Central - Foto: Euler Júnior/EM/D.A.Press


Era meio-dia da última quinta-feira. Todos os balcões de bar do Mercado Central de Belo Horizonte estavam cheios – ou melhor, transbordavam de gente. Graças à autêntica hospitalidade brasileira, o alemão Christian Koehler, de 25 anos, e o argentino Marcos Cafiero, de 32, conseguiram apoiar os cotovelos no cantinho de um deles para provar a bela porção de fígado com jiló e uma tulipa do chope produzido em Minas Gerais. Foi o primeiro destaque da visita da dupla a alguns ícones da mineiridade em BH.


“Faço questão. Podem vir para cá, não me atrapalha em nada. Saio daqui, vocês ocupam o meu lugar. Vou pedir fígado especialmente para vocês. Vai sair no capricho”, disparou, sem aceitar negativa, uma solícita frequentadora do mercado.

Depois de ceder aos turistas seu pequeno espaço no balcão – um dos mais concorridos da capital –, ela pediu para não ser identificada ou fotografada. Motivo: o marido bravo não sabia que a mulher estava lá.


A dupla aprovou o petisco mais famoso de BH. Christian, que veio de Berlim este ano para estudar engenharia mecânica no Cefet e acompanhar os jogos da seleção de seu país, conta que o fígado de boi faz parte do cardápio dos alemães. Marcos, administrador que mora em Buenos Aires e tem tios na capital mineira, informa que os argentinos preparam o miúdo na brasa. O amargor do jiló não desapontou os convidados e a cerveja local agradou mais do que as “louras industriais”, que ambos classificam como aguadas.

Bucha O giro pelo mercado, que tem recebido torcedores de vários países, impressionou Christian e Marcos pela variedade e qualidade dos produtos, exibidos quase sempre com simpatia por vendedores. Em pouco mais de 10 minutos, uma funcionária se apresentou à dupla, oferecendo ajuda em inglês. Enquanto o alemão e o argentino descobriam a bucha vegetal, um vendedor deu um tapinha nas costas de Christian. Como o alemão está morando por perto, já começa a ser reconhecido como habitué.


Marcos se assustou ao saber que brasileiro bebe cachaça pura. Na Argentina, ela é sempre servida como caipirinha. Christian diz que o mesmo ocorre na Alemanha. Para ele, as marcas disponíveis no Brasil são de má qualidade. Mais à frente, eles conhecem o queijo canastra nas versões meia cura e curado.

“Muito bom. Não se parece com outros queijos que conheço”, reage o argentino. O alemão não apenas gostou do que provou, mas revela manter um queijo minas fresco na geladeira do apartamento onde mora.


Ambos declaram amor pelo pão de queijo, lamentando a ausência de um quitute assim no cardápio dos respectivos países. “Na Argentina, temos a chipa, de origem paraguaia, mas nem se compara”, diz Marcos. Ao apontar para um açucareiro e perguntar, em espanhol, o que havia ali dentro, ouviu do atendente do café uma única palavra: “Rapadura”. Com cara de dúvida, sorveu a bebida enquanto a xícara ainda estava quente. Antes de pedir a conta, os dois testaram o Mate Couro – gostaram, mas continuam preferindo o Guaraná Antarctica.


Encantados com os aromas da manga palmer, do limão-capeta e do cajá, além do tamanho da mexerica ponkan, Marcos e Christian conheceram um pouco do artesanato típico mineiro e não esconderam a admiração com o grande movimento do mercado, especialmente nos corredores de bares.


Os preços chamaram a atenção: o argentino os achou equivalentes àqueles cobrados nos mercados de sua terra; o alemão reclamou do quanto se pede por frutas e flores – recentemente, presenteou a namorada brasileira com um buquê. Antes de sair do Mercado Central, uma revelação curiosa: na Argentina, não se come coração de galinha!
O argentino Marcos Cafiero e o alemão Christian Koehler aprovaram o fígado com jiló do Mercado Central 

.