Era meio-dia da última quinta-feira. Todos os balcões de bar do Mercado Central de Belo Horizonte estavam cheios – ou melhor, transbordavam de gente. Graças à autêntica hospitalidade brasileira, o alemão Christian Koehler, de 25 anos, e o argentino Marcos Cafiero, de 32, conseguiram apoiar os cotovelos no cantinho de um deles para provar a bela porção de fígado com jiló e uma tulipa do chope produzido em Minas Gerais. Foi o primeiro destaque da visita da dupla a alguns ícones da mineiridade em BH.
“Faço questão. Podem vir para cá, não me atrapalha em nada. Saio daqui, vocês ocupam o meu lugar. Vou pedir fígado especialmente para vocês. Vai sair no capricho”, disparou, sem aceitar negativa, uma solícita frequentadora do mercado.
A dupla aprovou o petisco mais famoso de BH. Christian, que veio de Berlim este ano para estudar engenharia mecânica no Cefet e acompanhar os jogos da seleção de seu país, conta que o fígado de boi faz parte do cardápio dos alemães. Marcos, administrador que mora em Buenos Aires e tem tios na capital mineira, informa que os argentinos preparam o miúdo na brasa. O amargor do jiló não desapontou os convidados e a cerveja local agradou mais do que as “louras industriais”, que ambos classificam como aguadas.
Bucha O giro pelo mercado, que tem recebido torcedores de vários países, impressionou Christian e Marcos pela variedade e qualidade dos produtos, exibidos quase sempre com simpatia por vendedores. Em pouco mais de 10 minutos, uma funcionária se apresentou à dupla, oferecendo ajuda em inglês. Enquanto o alemão e o argentino descobriam a bucha vegetal, um vendedor deu um tapinha nas costas de Christian. Como o alemão está morando por perto, já começa a ser reconhecido como habitué.
Marcos se assustou ao saber que brasileiro bebe cachaça pura. Na Argentina, ela é sempre servida como caipirinha. Christian diz que o mesmo ocorre na Alemanha. Para ele, as marcas disponíveis no Brasil são de má qualidade. Mais à frente, eles conhecem o queijo canastra nas versões meia cura e curado.
Ambos declaram amor pelo pão de queijo, lamentando a ausência de um quitute assim no cardápio dos respectivos países. “Na Argentina, temos a chipa, de origem paraguaia, mas nem se compara”, diz Marcos. Ao apontar para um açucareiro e perguntar, em espanhol, o que havia ali dentro, ouviu do atendente do café uma única palavra: “Rapadura”. Com cara de dúvida, sorveu a bebida enquanto a xícara ainda estava quente. Antes de pedir a conta, os dois testaram o Mate Couro – gostaram, mas continuam preferindo o Guaraná Antarctica.
Encantados com os aromas da manga palmer, do limão-capeta e do cajá, além do tamanho da mexerica ponkan, Marcos e Christian conheceram um pouco do artesanato típico mineiro e não esconderam a admiração com o grande movimento do mercado, especialmente nos corredores de bares.
Os preços chamaram a atenção: o argentino os achou equivalentes àqueles cobrados nos mercados de sua terra; o alemão reclamou do quanto se pede por frutas e flores – recentemente, presenteou a namorada brasileira com um buquê. Antes de sair do Mercado Central, uma revelação curiosa: na Argentina, não se come coração de galinha!
O argentino Marcos Cafiero e o alemão Christian Koehler aprovaram o fígado com jiló do Mercado Central