“Os ingressos para a Copa são caros demais. Não dá”, lamenta o zelador Anderson da Silva, que foi mandado embora do emprego há dois meses, depois de 14 anos de dedicação. Ele não se deixou abater.
“Lá de cima da escada, dá para ouvir o pessoal gritando do Mineirão, sabe? Sou cruzeirense, mas admito: os torcedores do Galo gritam mais”, conta Silva, que mora no Bairro Braúnas, nas imediações da Toca da Raposa, sede do time azul e branco. Se quiser ver uma ponta do Mineirão, ao longe, o zelador precisa pedir licença para usar a escada do vizinho, que dá acesso ao terraço. Anderson divide quarto, cozinha e banheiro com a mulher, a doméstica Eufrásia, de 31. A enteada, de 10, dorme no andar de baixo com a avó, a dona do imóvel.
Dia sim, dia não, o aposentado Sebastião Bispo, o Tião, de 71, pesca tilápias na Lagoa da Pampulha. Antes de se sentar, ele estuda o melhor lugar. Depois, deposita ao lado a sacola, que leva a massa e as minhocas. Em seguida, lança a vara de pescar no rumo exato do Mineirão. Faz o movimento com tanto gosto que, por mais um pouco, fisgaria um chileno pela gola.
Contraste Desbotada, a casa de Terezinha Gonçalves destoa da alegria e da vibração do entorno da Avenida Otacílio Negrão de Lima, decorada com emblemas da Copa do Mundo. Sentado em uma cadeira de balanço, no meio do quintal, está o filho dela, Alexandre Muniz dos Reis, de 25, diagnosticado com esquizofrenia. Ao lado da vira-latas Pandora, o jovem observa o movimento intenso de turistas, muitos deles estrangeiros. E comenta o contraste entre os brasileiros e os visitantes: “Eles são mais altos e muito, muito brancos. A fala também é diferente. Não entendo nada do que dizem”.
De repente, Alexandre se agita. Diante da pequena tevê de tela plana, diz, revoltado: “É uma roubalheira essa Copa! Os ingressos são muito caros!”.
“Outro dia, passou por aqui um turista, acho que era argentino. Ele perguntou, em português embolado, se a avenida dava no Mineirão. Balancei a cabeça (positivamente) e ele entendeu. Acenei e o homem gritou: ‘Brasil!’”, contou Terezinha, com um sorriso triste. .