Eles moram perto do Mineirão. Vivem ali desde antes de o Gigante da Pampulha nascer, já se acostumaram à rotina do estádio. Em dias de clássico, podem ouvir, do sofá de casa, o grito de gol das arquibancadas lotadas. Ao sair no portão, tropeçam nos torcedores. Amanhã, dia decisivo para o Brasil na Copa do Mundo, pouco vai mudar na rotina do desempregado Anderson da Silva, de 31 anos, cuja casa fica no Bairro Braúnas, e de Terezinha Gonçalves, de 50, moradora de uma invasão à beira da Lagoa da Pampulha. Ambos terão de acompanhar pela TV o espetáculo que ocorrerá pertinho de sua sala.
“Os ingressos para a Copa são caros demais. Não dá”, lamenta o zelador Anderson da Silva, que foi mandado embora do emprego há dois meses, depois de 14 anos de dedicação. Ele não se deixou abater. Com o fundo de garantia, comprou um carro usado e passou a estudar mecânica. “Teria que gastar uns R$ 300 para pegar um lugar bom no estádio. A mensalidade do meu curso é R$ 270. Vou ter que assistir pela tevê mesmo”, conforma-se ele, que sonha abrir uma oficina no terreno da família, herança da bisavó.
“Lá de cima da escada, dá para ouvir o pessoal gritando do Mineirão, sabe? Sou cruzeirense, mas admito: os torcedores do Galo gritam mais”, conta Silva, que mora no Bairro Braúnas, nas imediações da Toca da Raposa, sede do time azul e branco. Se quiser ver uma ponta do Mineirão, ao longe, o zelador precisa pedir licença para usar a escada do vizinho, que dá acesso ao terraço. Anderson divide quarto, cozinha e banheiro com a mulher, a doméstica Eufrásia, de 31. A enteada, de 10, dorme no andar de baixo com a avó, a dona do imóvel.
Dia sim, dia não, o aposentado Sebastião Bispo, o Tião, de 71, pesca tilápias na Lagoa da Pampulha. Antes de se sentar, ele estuda o melhor lugar. Depois, deposita ao lado a sacola, que leva a massa e as minhocas. Em seguida, lança a vara de pescar no rumo exato do Mineirão. Faz o movimento com tanto gosto que, por mais um pouco, fisgaria um chileno pela gola. “Nem passei perto do estádio nesta Copa. Fico só olhando da janela do ônibus”, diz o sorridente pescador, cujos chinelos de dedo são enfeitados com a bandeira brasileira.
Contraste Desbotada, a casa de Terezinha Gonçalves destoa da alegria e da vibração do entorno da Avenida Otacílio Negrão de Lima, decorada com emblemas da Copa do Mundo. Sentado em uma cadeira de balanço, no meio do quintal, está o filho dela, Alexandre Muniz dos Reis, de 25, diagnosticado com esquizofrenia. Ao lado da vira-latas Pandora, o jovem observa o movimento intenso de turistas, muitos deles estrangeiros. E comenta o contraste entre os brasileiros e os visitantes: “Eles são mais altos e muito, muito brancos. A fala também é diferente. Não entendo nada do que dizem”.
De repente, Alexandre se agita. Diante da pequena tevê de tela plana, diz, revoltado: “É uma roubalheira essa Copa! Os ingressos são muito caros!”. Dona Terezinha abraça o filho e o acalma, com um sorriso do tipo “deixa disso”. Ela se viu obrigada a deixar o emprego quando o rapaz foi diagnosticado como esquizofrênico. O filho precisa de cuidados e a mãe tenta obter para ele a pensão do INSS – até agora, sem sucesso. Desde então, a família é sustentada pelo salário do mais velho, que trabalha como analista de sistemas.
“Outro dia, passou por aqui um turista, acho que era argentino. Ele perguntou, em português embolado, se a avenida dava no Mineirão. Balancei a cabeça (positivamente) e ele entendeu. Acenei e o homem gritou: ‘Brasil!’”, contou Terezinha, com um sorriso triste.
“Os ingressos para a Copa são caros demais. Não dá”, lamenta o zelador Anderson da Silva, que foi mandado embora do emprego há dois meses, depois de 14 anos de dedicação. Ele não se deixou abater. Com o fundo de garantia, comprou um carro usado e passou a estudar mecânica. “Teria que gastar uns R$ 300 para pegar um lugar bom no estádio. A mensalidade do meu curso é R$ 270. Vou ter que assistir pela tevê mesmo”, conforma-se ele, que sonha abrir uma oficina no terreno da família, herança da bisavó.
“Lá de cima da escada, dá para ouvir o pessoal gritando do Mineirão, sabe? Sou cruzeirense, mas admito: os torcedores do Galo gritam mais”, conta Silva, que mora no Bairro Braúnas, nas imediações da Toca da Raposa, sede do time azul e branco. Se quiser ver uma ponta do Mineirão, ao longe, o zelador precisa pedir licença para usar a escada do vizinho, que dá acesso ao terraço. Anderson divide quarto, cozinha e banheiro com a mulher, a doméstica Eufrásia, de 31. A enteada, de 10, dorme no andar de baixo com a avó, a dona do imóvel.
Dia sim, dia não, o aposentado Sebastião Bispo, o Tião, de 71, pesca tilápias na Lagoa da Pampulha. Antes de se sentar, ele estuda o melhor lugar. Depois, deposita ao lado a sacola, que leva a massa e as minhocas. Em seguida, lança a vara de pescar no rumo exato do Mineirão. Faz o movimento com tanto gosto que, por mais um pouco, fisgaria um chileno pela gola. “Nem passei perto do estádio nesta Copa. Fico só olhando da janela do ônibus”, diz o sorridente pescador, cujos chinelos de dedo são enfeitados com a bandeira brasileira.
Contraste Desbotada, a casa de Terezinha Gonçalves destoa da alegria e da vibração do entorno da Avenida Otacílio Negrão de Lima, decorada com emblemas da Copa do Mundo. Sentado em uma cadeira de balanço, no meio do quintal, está o filho dela, Alexandre Muniz dos Reis, de 25, diagnosticado com esquizofrenia. Ao lado da vira-latas Pandora, o jovem observa o movimento intenso de turistas, muitos deles estrangeiros. E comenta o contraste entre os brasileiros e os visitantes: “Eles são mais altos e muito, muito brancos. A fala também é diferente. Não entendo nada do que dizem”.
De repente, Alexandre se agita. Diante da pequena tevê de tela plana, diz, revoltado: “É uma roubalheira essa Copa! Os ingressos são muito caros!”. Dona Terezinha abraça o filho e o acalma, com um sorriso do tipo “deixa disso”. Ela se viu obrigada a deixar o emprego quando o rapaz foi diagnosticado como esquizofrênico. O filho precisa de cuidados e a mãe tenta obter para ele a pensão do INSS – até agora, sem sucesso. Desde então, a família é sustentada pelo salário do mais velho, que trabalha como analista de sistemas.
“Outro dia, passou por aqui um turista, acho que era argentino. Ele perguntou, em português embolado, se a avenida dava no Mineirão. Balancei a cabeça (positivamente) e ele entendeu. Acenei e o homem gritou: ‘Brasil!’”, contou Terezinha, com um sorriso triste.