O transporte público foi o campeão na preferência dos torcedores na vitória do Brasil sobre o Chile, ontem, no Estádio Mineirão. Houve adesão em massa ao Expresso Copa, ônibus convencionais que partiam de diversos pontos de Belo Horizonte, e ao transporte rápido por ônibus (BRT/Move). A preferência pelos coletivos, no jogo que levou público recorde ao Mineirão – mais de 57 mil torcedores –, frustrou donos de estacionamentos nos arredores do gigante da Pampulha. Na última hora, foi preciso apelar para o grito e as promoções, na tentativa de vencer a concorrência e ganhar pontos com quem foi ao jogo de carro.
Quanto mais próximo do estádio, mais caro o pagamento. Na Avenida Otácilio Negrão de Lima, na orla da lagoa, os preços chegaram a R$ 50 pela estadia do veículo até às 17h. Já na Avenida Fleming, era cobrada taxa de R$ 40. Em pontos mais distantes da orla, a cerca de um quilômetro do Mineirão, os preços caíam para R$ 30 e R$ 20. Willisson Borges, de 52 anos, pagou R$ 30 pela vaga e não se arrependeu.
“Imaginei que haveria mais movimento no estacionamento. A procura está praticamente a mesma da partida entre Argentina e Irã (no último sábado)”, comentou Rogério Borges, proprietário de um estacionamento. Ele cobrou R$ 30 pela vaga e, além dos carros convencionais, conquistou clientes que vieram a BH de motor-home, como chilenos e paulistas. A mulher de Rogério, Ronilda Borges, atribuiu o movimento fraco à prudência do torcedor. “O pessoal tem medo de não encontrar vaga e o transporte público está bom”, disse.
Quem optou pelo Expresso Copa – ônibus convencionais que partiam de terminais na Savassi, Aeroporto de Confins, Minas Shopping, Centro e Expominas – não se arrependeu. A R$ 15, foi possível ir e voltar do jogo. A saída foi bem distribuída ao longo da manhã e, às 11h30, os coletivos já estavam saindo vazios da Savassi. No ponteiro do relógio, foram gastos 42 minutos da Avenida Getúlio Vargas até a Praça Nova Pampulha, ponto de desembarque. No retorno, 45 minutos.
Um percurso de muita animação e que desafiou quem dizia que a torcida brasileira estava fraca em criatividade. “E vamo, vamo, meu Brasil/E vamo, vamo, meu Brasil/ Eu quero ver/ ganhar mais um mundial”, cantava uma turma. Do outro lado do ônibus, mais uma cantoria, numa paródia à música Brasília amarela, do grupo Mamonas Assassinas: “A camisa amarela/Não importa que digam/ sempre levarei comigo.
“MINEIRAZO” Nos ônibus, assim como no estádio, a convivência entre brasileiros e chilenos foi amigável. “Ô Chile, pode esperar, a sua hora vai chegar”, gritaram passageiros de um veículo, em provocação aos cinco torcedores adversários que faziam a mesma viagem. “ Em resposta, os estrangeiros, bem-humorados, ergueram um cartaz em que estava escrito “Mineirazo”, em referência a “Maracanazo”, como ficou conhecida a derrota do Brasil para o Uruguai na final da Copa de 1950.
Volta sem estresse e com faixas
Depois do sufoco do jogo, nada de estresse na volta para casa. Apesar do grande público, as filas do Expresso Copa fluíram com rapidez. “Em relação à estrutura e o transporte, acho que tudo funcionou muito bem. Só acho que não conseguimos calar a torcida chilena”, avaliou o engenheiro Felipe Alencar, de 34, aliviado com a vitória. Veteranos nas partidas do mundial, o casal carioca Eduardo Santi, de 35, e Priscila Rodrigues, de 34, também ficou satisfeito com o desempenho do transporte público e achou que valeu o esforço da vinda. “Viemos de carro do Rio e, como não tinha vaga em BH, nos hospedamos em Sete Lagoas ontem”, contou Eduardo.
Para evitar que motoristas dos ônibus do Expresso Copa se confundissem sobre o trajeto, a BHTrans instalou novas faixas ao longo do caminho. A sinalização, posta sexta-feira, se juntou a faixas que já estavam fixadas.
Apesar da medida, na volta do Mineirão, a interdição do trânsito na Praça da Savassi deixou os motoristas desorientados. Sem poder seguir pela Avenida Cristóvão Colombo, o motorista de um dos coletivos não sabia qual o trajeto para conseguir chegar à Praça do Papa, ponto de concentração dos ônibus destinados a atender torcedores. “Está interditado. Ainda não sei o caminho que vou fazer”, disse. (Colaborou Tiago de Holanda).