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Estado de Minas

Savassi reúne 20 mil torcedores em dia de festa brasileira

Invadida por estrangeiros desde o início do Mundial, região finalmente se tornou verde e amarela com o grito de 20 mil torcedores, que viveram um dia de sofrimento e alívio


postado em 29/06/2014 06:00 / atualizado em 29/06/2014 07:55

Mais uma vez, a Savassi ficou superlotada, mas, depois da tensão de quase três horas, a festa desta vez foi totalmente nacional (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
Mais uma vez, a Savassi ficou superlotada, mas, depois da tensão de quase três horas, a festa desta vez foi totalmente nacional (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)

A onda verde e amarela que tomou conta da Savassi escancarou, logo pela manhã, o otimismo dos brasileiros, que nem imaginavam o drama que se aproximava com a difícil classificação. “Meu palpite? 3 a 1 para o Brasil”, afirmou Rafael Nunes, de 32 anos. Esse placar era repetido por muitos. Mas, aos poucos, com o empate arrastado em campo, ninguém mais arriscava palpites. A manhã de confiança foi cedendo espaço para uma tarde dramática, de choro, gritos e tensão, até a explosão de alívio depois do último pênalti. Foi quando os torcedores chilenos foram embora e a Savassi definitivamente se tornou da torcida brasileira. Mais uma vez, o principal ponto de concentração de torcedores na Copa em BH ficou superlotado, com cerca de 20 mil pessoas esbanjando alegria.


No início, rodas de amigos cantavam músicas sem parar. A torcida, que chegava aos montes à Savassi, carregava faixas, bandeiras e tinha rostos pintados de verde e amarelo. Logo no primeiro gol do Brasil, a maioria acreditava que seria uma vitória fácil. Mas o 1 a 1 foi uma surpresa amarga. A Savassi estremeceu e se calou. Tudo havia ficado para os pênaltis. Não havia, ali, na Praça Diogo de Vasconcelos, a euforia de antes.


Com um rádio de pilha no ouvido, Toninho da Silva, de 82 anos, assistiu ao dramático jogo bem próximo ao telão instalado na área central da Savassi. "Estamos encostados na grade porque não podemos perder nem um só lance", explicou a namorada dele Flora, de 72 anos, que, nos primeiros momentos da partida, só tinha elogios à festa. Depois, com o drama da seleção em campo, pedia a Deus pela vitória brasileira. Toninho ficava com o olho no telão e o ouvido no rádio. "Somos namorados há quatro anos e amamos futebol. Mas o jogo foi de arrancar os cabelos", comentou Flora, que chegou a fechar os olhos durante a prorrogação "para evitar o sofrimento."

O nervosismo tomou conta da torcida. Cada um dos brasileiros que acompanhava a partida nos bares teve que encontrar uma forma de extravasar a tensão. A empresária Magda Cardoso, de 40 anos, não é cruzeirense nem atleticana. Torce pelo Brasil, por isso, estava indignada com o desempenho da seleção. “O time está parado, deixando o Chile dominar. Faltam garra e força”, reclamou, logo no início da prorrogação. Magda saiu de Contagem para assistir ao jogo na Savassi, imaginando que a vitória estaria garantida no primeiro tempo. Na esperança de motivar os jogadores, a empresária gritava “pra frente, Brasil!” e aplaudia cada vez que uma jogada dos chilenos dava errada.

Não se ouvia a voz do técnico mecânico Mauro Sérgio Lopes, de 29. Em vez de gritar e xingar os jogadores, ele acabou descontando o nervosismo nas unhas e roeu todas de uma só vez. “O Felipão já vem errando desde o início. O Fábio, do Cruzeiro, é o melhor do Brasil”, disse, antes que Júlio César defendesse dois pênaltis e salvasse a seleção. Mesmo discordando da escalação, o torcedor não deixou de apoiar o time e seguiu a tradição de usar um chapéu diferente a cada jogo. Para as oitavas de final, escolheu um com as cores da bandeira brasileira e uma bola em destaque. Até durante os pênaltis, Mauro ficou em silêncio, mas com os olhos grudados na tela. Ele preferiu não vibrar em nenhum dos gols brasileiros. Deixou a comemoração para o fim da dramática partida.

Aliviado, o engenheiro mecânico Hevaldo Duarte, de 39, disse que o Brasil merecia a vitória. Depois do jogo, ele queria apenas comemorar e abraçou até quem não conhecia. “O nosso goleiro pegou os pênaltis na hora que precisava. Ninguém acreditava nele”, comentou. Felipão acreditou, por sorte. Júlio César conseguiu defender dois chutes dos chilenos e definiu o resultado no Mineirão.

O grito da classificação estava engasgado na garganta da família de Gisele Rodrigues, Tamires e Thais, que juntas assistiam ao jogo na Savassi. A agonia era tanta, que as mãos se apertavam cada vez mais. “Haja coração. Sinto que vou passar mal a qualquer hora. Já vi o Brasil ganhar várias Copas e agora é a vez de minha filhas terem essa alegria. Vai Brasil”, gritava Gisele.

O coração de Rosângela Figueiredo, de 60 anos, estava disparado. “Mais 10 minutos nesse sofrimento e eu não aguento”, dizia. Ela disse que rezou muito, pediu uma ajuda divina para que o Brasil passasse de fase. “Nunca mais vou ver uma Copa no Brasil, nunca mais uma festa como essa em BH. O Brasil tem tem que ser campeão”, afirmou. (Colaborou Isabella Souto)

Loja vira bar
Em vez de roupas, Aila Portugal passou a vender cerveja, refrigerante e água (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
Em vez de roupas, Aila Portugal passou a vender cerveja, refrigerante e água (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
Paula Takahashi

A festa na Savassi teve uma torcida específica: a do lucro. Comerciantes da região fizeram de tudo para atrair a clientela e faturar com a comemoração. Nas lojas Ust e Choco Shoes, de propriedade da empresária Aila Portugal, as araras de roupas deram lugar a pilhas de cerveja, água e refrigerante. “Não estava vendendo roupa e sapato porque a maior parte dos torcedores na Savassi são homens, e eles não vão gastar dinheiro com isso”, conta. No coração da festa, Aila decidiu dançar conforme a música e mudar temporariamente os negócios. “Na sexta, vendi 600 latinhas. Hoje (ontem) pretendo vender pelo menos 1 mil”, calculou, confiante.

Vizinhos das lojas de Aila, os bares Baiana do Acarajé e Orizontino, no quarteirão fechado da Rua Antônio de Albuquerque, também mudaram a forma de atuação durante a transmissão dos jogos. Desde o início da semana, passaram a limitar a entrada de clientes e cobrar R$ 20 de cada um, valor que não foi convertido em consumação. A justificativa dos estabelecimentos foi a mesma: dar conforto aos clientes e ter mais controle sobre a prestação de serviço. Logística que ambos garantem que vão adotar a partir de agora em todos os jogos de grande movimentação, especialmente da Seleção Brasileira.

“Investimos quase R$ 12 mil em novas televisões e um telão de 70 polegadas. Além dessa estrutura, estamos oferecendo banheiro limpo o tempo todo, além do cardápio com os mesmos preços praticados antes”, garantiu Odair Melo, proprietário das duas unidades da Baiana do Acarajé. Além da entrada, a expectativa do empresário era de um tíquete médio de R$ 50 a R$ 70 por pessoa. “Quando fechamos o espaço e cobramos, as pessoas gastam mais”, afirmou.

A expectativa era receber 200 pessoas, tanto na Baiana do Acarajé e no Orizontino. “Vamos garantir também mais segurança, já que contratamos serviço particular para monitorar todo o perímetro do nosso estabelecimento”, conta a proprietária Ademilde Fonseca Arreguy Maia. Os amigos Victor Hugo Duarte, Luciana Bahia, Frederico Souza, Patrícia Guimarães e Marielen Brandão vieram de Sete Lagoas e Curvelo, na região Central, para se encontrar na Baiana do Acarajé e garantem que valeu a pena pagar pelo serviço. “Queríamos ter esse conforto de sentar, ser servido por um garçom, comer um tira-gosto. Achamos o preço justo”, afirmou Luciana.

Torcedor denunciado por assediar mulher foi detido pela PM (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)
Torcedor denunciado por assediar mulher foi detido pela PM (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)
Furtos, bebedeira e brigas
Pedro Ferreira e Isabella Souto

A festa na Savassi terminou mais cedo para muita gente que abusou da bebida alcoólica. No meio da tarde, mulheres apresentavam sintomas de embriaguez. Uma delas foi socorrida pelo Samu e levada de maca para uma ambulância. No quarteirão fechado da Rua Antônio de Albuquerque, uma mulher embriagada lutou com outra que não conseguia se manter de pé, de tão alcoolizada. Um homem tentou dominar a agressora e ela reagiu, atacando-o também.

Na Avenida Getúlio Vargas, dois rapazes trocaram socos. No meio da multidão, um tatuador estava bêbado. Depois de encostar um isqueiro acesso nas nádegas de uma mulher, segundo a Polícia Militar, ele jogou um copo de bebida em um tenente. Bastante alterado, ele foi dominado por vários policiais. Aos gritos, xingou os militares e foi preso por desacato. Algumas jovens, que também consumiam bebida alcoólica, agarravam rapazes para beijá-los, à força.

Outra briga foi causada por um homem que também assediou uma jovem. Diante da negativa, ele jogou um copo de bebida na moça, que foi socorrida por um segurança. A PM foi acionada e o rapaz, identificado como Rafael Silva, levado para a delegacia com a vítima. Em outra briga, um torcedor chegou a jogar uma garrafa de cerveja na direção de um grupo, mas ninguém se feriu.

O número de PMs na Savassi não foi divulgado. Uma base móvel foi montada na esquina da Getulio Vargas e com a Rua Alagoas, onde até as 18h haviam sido registradas 20 ocorrências, a maioria de furto de celular, carteiras e documentos. Nas Cristovão Colombo e na Getúlio Vargas, várias viaturas formavam uma barreira, contendo o público somente até onde as ruas estavam fechadas para o fluxo de carros.


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