Nem dentro do Mineirão, nem na Praça da Savassi. A festa da torcida se espalhou pela cidade. Praça JK, Parque das Mangabeiras, ruas fechadas em vários bairros. Alessandro Beloso, de 17 anos, Lucas Ubiratan, de 19, e Guilherme de Oliveira, de 20, todos estudantes, estavam animados e se juntaram às milhares de pessoas que foram assistir ao jogo na Praça JK.
A escolha do local para ver o jogo tem motivo: boa estrutura, pessoal animado, não tem fila para comprar comida ou bebida. “Não espalhe, senão vai encher”, brincou Tales Leon, outro amigo. A maioria dos torcedores que estavam na praça eram brasileiros, mas tinham alguns turistas, como os engenheiros chineses Wen bo, Fuhong Gui, Chen Gang, que moram em Zhen Jiang. Fãs de futebol (garantem até que praticam o esporte), eles estão hospedados perto da praça e vieram a negócios. Aproveitaram a tarde de sábado para ver o jogo no local e adoraram tudo.
Em um bar da Rua Passatempo, Bairro Sion, Região Centro-Sul de BH, a empresária Úrsula Rocha, acompanhada de familiares, comemorava a oportunidade de voltar ao Brasil para ver se a Seleção jogar em sua terra natal. Vivendo em Portugal há 21 anos, ela trouxe a filha portuguesa, Bruna Ludmila Mesquisa, de 7, para assistir à sua primeira Copa no país de origem da família. A cada intervalo, a torcida concentrada nos bares da Rua Alberto Cintra, no União, era surpreendida pela música alta dos carros em um convite à dança, recusado, apenas, diante das insistentes bombas que parte da plateia de um bar insistia em explodir.
Tão perto do estádio, os bares da Pampulha ficaram lotados. O clima verde e amarelo contagiava os visitantes. “Vim acompanhar minha noiva que mora aqui”, contou o norte-americano Jeffrey Cavallero, que também trouxe um amigo do Texas. “Se der Brasil e EUA, não há dúvida: é Brasil”, disse. A peruana Carmen Fuentes, na companhia da amiga equatoriana Miriam Gonzalez, que mora nos EUA, também não titubeou: “Todos no Peru torcem para o Brasil”. Elas vibram quase ao lado dos quatro amigos Kristian Leong Poi, Roger Koo, Arthur Leong Poi e Anthony Holder, que vieram de Trinidad e Tobago.
no entorno do mineirão Enquanto a bola rolava no estádio, a médica Simone Ruano passeava na orla da lagoa com o filho Daniel, de 2. Do lado de dentro, o marido Antônio Ruano e o filho mais velho Rodrigo, de 9 anos, assistiam à partida. Em decisão democrática, a família veio de São Paulo somente para o jogo. “Viemos de carro. Deixei os dois próximo ao estádio e vamos ficar por aqui até terminar”, disse Simone.
Fé e farra se misturaram na orla. Às margens da lagoa, um grupo de amigos belo-horizontinos levou bebida, um rádio a pilha, muita música e dança no gramado. A festa estava tão grande que eles nem perceberam o primeiro gol do Brasil. Do outro lado da rua, o propósito era outro. Integrantes da Convenção Batista Brasileira, em verde e amarelo com o nome de Jesus, buscavam propagar a fé em meio aos torcedores.
Sentado na porta da lanchonete, o comerciante Geraldo Cardinali, de 87, esperava a passagem do ônibus da Seleção Brasileira na porta da casa dele. Batedores à frente, helicóptero no céu. Esquema de segurança pesado. Com os cabelos brancos cobertos pelo chapéu verde amarelo, camisa nas mesmas cores ele recorda de como foi a primeira experiência em Copas. “Fui ver um Brasil e Espanha na Copa de 1950. Foi marcante, mas era muito diferente”, compara.
Há 40 anos, ele vive com a família na casa que fica na Avenida Alfredo Camarati, nas imediações do Mineirão. Em outras épocas havia somente o comércio dele na região. Hoje, floricultura vende cerveja e tropeiro, escola de dança também vira restaurante, e escola de canto se transforma em point de samba. Todos na vizinhança.
Nos arredores do Mineirão, tão perto do caldeirão da Copa do Mundo, várias pessoas acompanhavam o jogo sem o principal detalhe para ver a festa de perto: o ingresso. “É uma angústia lancinante”, definiu José Carlos, trabalhando num bar perto do estádio. Apesar da proximidade, não era possível escutar nem um grito sequer da torcida e, ao longo de toda a partida, uma calmaria baixou nos arredores.
Uma turma de São Paulo estava se divertindo com a situação. Com família na capital mineira, eles assistiram, ou melhor, ouviram a todos os jogos na orla da Lagoa da Pampulha. “Só de estar perto é uma emoção. Tínhamos que fazer parte desta festa. A Copa está aqui”, diz Simone Milhazes, de 40 anos. Vestidos a caráter e com bandeirão do Brasil, o jeito foi recorrer ao celular e, mesmo distantes, às televisões dos bares próximos. “Nunca fomos a um estádio na Copa, nossa festa é na rua”, conta André Pires, de 34. Talita Moura, de 26, até tentou entrar, mas não conseguiu. “”Meu namorado e o irmão dele entraram, mas eu não tinha ingresso. Mas estou achando bom”, diz.
Enquanto isso...
… Confins vira estádio
Entre idas e vindas, passageiros que desesmbarcaram ou esperavam o horário do voo no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH, se uniram em frente às TVs para assistir à partida entre Brasil e Chile. No saguão, muitos chegavam apenas para ir ao Mineirão e logo voltariam para casa. Em vez de ficar em um dos hotéis da capital mineira, parte da torcida preferiu comprar passagem aérea de ida e volta para a data do jogo, o que, segundo eles, deixou a conta mais barata. Horas antes de a bola rolar, eles desembarcaram em Confins, retornando para casa logo depois da vitória da Seleção.