Alfredo Durães
Inapto no trato com crianças e despido de qualquer originalidade para perguntas, ajo como qualquer adulto que não sabe o que dizer diante daqueles olhinhos. “Entrevistar políticos, jogadores de futebol e até o doutor delegado é muito mais fácil”, penso. Mesmo assim, pergunto para a pequena Laura, que, por sua vez, responde o que qualquer criança na sua idade diria diante de uma câmera fotográfica.
Qual o seu nome todo? Laura Felícia de Almeida. Qual a sua idade? Quatro anos. Você gosta daqui? Gosto. Porquê? Porque sim. E de que você mais gosta? De tudo. Simples assim. Nesse momento, Laurinha, que é de Barbacena e está em Belo Horizonte fazendo tratamento de saúde, conclui acertadamente que o papo do repórter em nada vai contribuir para sua educação escolar. Perde o interesse pela câmera do fotógrafo e se dedica a alinhar um dos muitos lápis de cor que estão à sua frente, espalhados em sua carteira escolar, tão pequena quanto ela. Ao seu redor, atentas ao que diz a professora Lurdinha, estão as coleguinhas Elen, Roberta, Vitória, Vanessa e Daniela.
A classe escolar de Laurinha nem sempre tem a mesma formação de alunos. Pode ser maior, menor. Aquele coleguinha que andava sumido aparece e fica uns dias, às vezes muitos dias. Novos alunos surgem e vão, às vezes voltando para suas casas no interior de Minas Gerais ou algum bairro de Belo Horizonte. Comum a todos é o trabalho desenvolvido pela Fundação Sara, no Bairro Serra, em Belo Horizonte. Laura e dezenas de outras crianças e adolescentes frequentam a Escola Viva, uma das muitas atividades da instituição voltadas para ajudar jovens na luta contra o câncer.
Voluntariado A Fundação Sara de Belo Horizonte tem custo mensal em torno de R$ 50 mil. Sua assistência consiste em hospedagem, refeições, transporte para hospitais e laboratórios, atendimento por profissionais do serviço social, psicologia, pedagogia e nutrição. Há também atividades de lazer, apoio na aquisição de equipamentos, cateteres e realização de exames, entre outras ações. Com cerca de 100 voluntários, a fundação conta com parceria de sócios contribuintes e empresas parceiras. Oferece 40 leitos, 20 para crianças e adolescentes em tratamento e outros 20 para acompanhantes, na Casa de Apoio, no Bairro Serra.
A psicopedagoga Marcelle Faria, de 53 anos, é uma das voluntárias na Fundação Sara, trabalhando às segundas e terças-feiras (cada dia em um horário) na Escola Viva. “Ser voluntário sempre está entre as decisões de ano novo, assim como ter uma vida mais saudável, parar de fumar. Muitos prometem mas poucos cumprem. Para ser voluntário é preciso ter disciplina e administrar bem o tempo”, ensina ela, enquanto corta, desenha e cola cartazes para a turma de Laura.
Marcelle, que também tem seu trabalho privado em consultório, diz acreditar nas chamadas classes hospitalares, onde os pacientes estudam enquanto se tratam. Ela conheceu a fundação quando decidiu fazer uma doação e uma amiga de sua filha falou muito bem do lugar. “Vim conhecer e, além da doação, resolvi me integrar como voluntária”, disse, acrescentando que acompanha as atividades desenvolvidas e sente que todo trabalho da Fundação Sara “é sério e comprometido.”
É hora de participar
A Fundação Sara é uma das participantes do McDia Feliz 2014, campanha realizada pela multinacional de alimentação McDonald’s. A instituição representa as cidades de Belo Horizonte e Montes Claros na maior campanha pela cura do câncer infantojuvenil do Brasil. Todos os anos, o último sábado do mês de agosto é a data do McDia Feliz, que, anualmente, beneficia projetos pela cura do câncer infantojuvenil no Brasil. O pontapé inicial da campanha foi dado no último dia 22 de maio, em São Paulo.
A data também marcou o início da venda de tíquetes antecipados de Big Mac’s que, em 30 de agosto poderão ser trocados pelo sanduíche nos restaurantes McDonald’s de todo o país. Ao todo, 73 projetos de 57 instituições serão beneficiados com a campanha, que receberá os recursos arrecadados com o McDia Feliz em Belo Horizonte, Montes Claros, Betim, Contagem, Ipatinga e Governador Valadares. Em BH, a campanha McDia Feliz deste ano será destinada ao projeto Escola Viva da Fundação Sara.
Segundo a pedagoga Flávia Moreno, coordenadora do Escola Viva, a iniciativa está inserida no programa Conhecimentos que curam. “O projeto Escola Viva visa dar continuidade aos processos de desenvolvimento psíquico e cognitivo das crianças e adolescentes portadores de câncer, por meio de propostas voltadas às necessidades pedagógico-educacionais e direitos à educação e à saúde, visando o seu crescimento e desenvolvimento físico e emocional durante o tratamento do câncer”, informa a especialista.
“Promoveremos aulas para as crianças/adolescentes com câncer assistidas pela Fundação Sara de Belo Horizonte, enquanto estiverem hospedadas na Casa de Apoio ou hospitalizadas, e também realizaremos parcerias com as escolas estaduais, visando a uma melhor inserção ou reinserção escolar dessas crianças e adolescentes, diminuindo ou evitando a evasão escolar”, comenta Flávia Moreno, lembrando que esta tarefa é, por lei, obrigação dos sistemas de saúde e de educação públicos, porém são cumpridos em poucos estados da Federação. “Em Minas esse programa será implantado no segundo semestre deste ano”, afirmou Flávia.
O projeto, explica a pedagoga, funciona atualmente por meio do trabalho de voluntários, sendo uma especialista em pedagogia hospitalar, 12 voluntários monitores e uma psicóloga, funcionária da entidade, além de dezenas de outros. Segundo Flávia Moreno, devido às dificuldades de funcionamento somente, por meio de voluntários, o projeto prevê a contratação de alguns profisionais e aquisição de materiais. Serão beneficiadas com a iniciativa 73 crianças de zero a 12 anos de idade; 22 adolescentes e 95 famílias.
“É graças ao trabalho realizado por entidades como a Fundação Sara que a cada ano se consegue aproximar pacientes do acesso ao tratamento de qualidade e, consequentemente, da cura sem sequelas do câncer infantojuvenil”, afirma Edmundo Massoni, embaixador do Instituto Ronald McDonald em Minas Gerais. Hospital das Clínicas e Santa Casa também já foram beneficiadas com a campanha.
De acordo com o instituto, desde 1999, R$ 100 milhões foram arrecadados no país por meio de campanhas e eventos como o McDia Feliz, os Cofrinhos, o Invitational Golf Cup e o Jantar de Gala, e foram destinados para 116 instituições em todo o Brasil, entre hospitais, casas e grupos de apoio que lutam pela cura do câncer infantojuvenil. Cerca de 2,8 milhões de crianças e adolescentes foram beneficiados nesses 15 anos de trabalho do Instituto Ronald McDonald.
Bonés, toucas e cobertores
Depois de ficarem sabendo que os pacientes sofriam com os efeitos colaterais, do tratamento do câncer, alunos do 2º período da Educação Infantil do Colégio Magnum Cidade Nova, de 5 anos de idade, se uniram para arrecadar peças de vestuário os pacientes em tratamento do câncer no Instituto Mário Penna. Uma das mais frequentes consequências do tratamento é o frio. Os pequenos estudantes arregaçaram as mangas e, por meio do Projeto Gentileza, criado em maio, envolveram toda a comunidade escolar para conseguir doações. Em um mês, conseguiram arrecadar cerca de 70 cobertores, 250 bonés e 80 toucas.
“Esse gesto influencia diretamente na formação dos alunos. Ensina que precisamos nos mobilizar para ter um mundo mais harmonioso, mais gentil, ajudar sem esperar nada em troca. A partir do momento em que nos colocamos no lugar do outro, conseguimos enxergar as coisas sobre outra perspectiva, e isso é essencial”, disse a professora Cláudia Lima.
"Ajudei muito na campanha para as pessoas doentes do Mario Penna. Depois que eles tomam o remédio, ficam fraquinhos, com frio, e precisam de cobertor pra esquentar o corpo e de boné pra se proteger do frio na cabeça. Eu não conheço quem vai ficar com o cobertor que eu trouxe, mas tô feliz porque vou ajudar alguém. É muito ruim sentir frio", contou o aluno Miguel dos Santos Freitas.
Para o Instituto Mário Penna, parcerias como essas levam mais bem-estar e conforto aos pacientes. “Saber que, além da escola, representada por seus funcionários e pais, também as crianças se engajaram, nos deixa mais felizes e confiantes de um mundo melhor para as futuras gerações”, comenta Karina Pongelupe, gerente de marketing e relacionamento do Instituto Mário Penna.
Tíquetes
A Fundação Sara já está com os tíquetes antecipados disponíveis para a venda. Vendidos por R$ 14 cada um, poderão ser trocados pelo sanduíche Big Mac na data do McDia Feliz, sábado, dia 30 de agosto. Os moradores de BH, Montes Claros, Betim, Contagem, Ipatinga e Governador Valadares, interessados na compra de tíquetes antecipados, podem entrar em contato direto com a Fundação Sara nos seguintes endereços: em BH, na Rua Pouso Alto, 285, São Lucas, fone (31) 3284-7690. Em Montes Claros, na Rua André Luiz, 415, Canelas II, fone (38) 3214-5500.
www.fundacaosara.org.br
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