Jornal Estado de Minas

Taxistas vivem boas e más experiências com estrangeiros em BH

Há quem faça selfies com passageiros e use tradutor online, mas alguns sofrem com turistas que não querem pagar

Mateus Parreiras
O motorista Leonardo Coimbra fez fotos com vários estrangeiros que transportou durante a Copa em BH: ingleses, colombianos e argelinos - Foto: Leonardo Coimbra/arquivo pessoal

Do banco de trás do táxi Siena de Leonardo Coimbra, de 39 anos, ingleses conheceram os mais movimentados bares da Savassi, colombianos viram sua Seleção vencer pela primeira vez no Mineirão, iranianos experimentaram quitutes do Mercado Central e argentinos viram as obras de Oscar Niemeyer na Pampulha. Com 20 anos de praça, Leonardo nunca tinha levado tantos estrangeiros em seu táxi. E essa interação foi tão contagiante que ele fez questão de registrar pela lente da câmera de seu telefone celular cada grupo de gringos que transportou. “Falei para eles (os estrangeiros) que ia fazer um álbum e todos concordaram em posar para a foto. Tem sido muito divertido levá-los onde precisam. A gente vai tentando se entender e tudo dá certo”, disse, mostrando as fotos em que aparece enrolado em bandeiras de outros países. Como Leonardo, os taxistas de Belo Horizonte viveram experiências boas e ruins com a passagem de cerca de 300 mil estrangeiros na Copa do Mundo. E ainda receberam gordas gorjetas.


A comunicação é a primeira barreira que os condutores enfrentam, mas nada que a tecnologia não possa ajudar.

Tornou-se popular no ramo dos taxistas um aplicativo para smartphone que traduz o que se fala para inglês, espanhol, português e outras línguas. O problema é quando o passageiro é de algum país diferente e não conhece as mais faladas línguas ocidentais. Foi o que ocorreu com Evaldo Cândido de Faria, de 44, que embarcou um argelino com sintomas de embriaguez todo uniformizado e que só sabia falar o próprio idioma (árabe). “O passageiro entrou no carro todo de verde, com a cara pintada e falou uma porção de coisas que não entendi. Tive paciência e tentei resolver. Aí ele me deu um papel escrito ‘Royal’. Perguntei se era o hotel e ele concordou. Só que existem cinco hotéis Royal em BH”, conta Evaldo.


O taxista então levou o argelino a dois hotéis com o mesmo nome, mas não era nenhum deles. “Foi então que pedi para o gerente deixar o argelino usar a internet Wi-Fi do hotel. Depois de mexer um pouco no telefone o argelino encontrou um amigo numa rede social e esse indicou que seu hotel ficava na Rua Rio Grande do Sul”, afirma. Evaldo achou que seus problemas acabariam quando deixasse o passageiro no hotel correto. Só que o estrangeiro decidiu que não iria pagar a corrida. “Demonstrou por gestos que eu tinha dado voltas com ele para fazer a corrida ficar mais cara.

Fiquei muito indignado. Principalmente porque estava tentando ajudar. Mas, quando disse a palavra mágica: ‘polícia’, ele tomou juízo e me pagou os R$ 35 que devia”, lembra o taxista.


- Foto: Leonardo Coimbra/arquivo pessoal
Pegar o táxi e não pagar não foi atitude isolada do argelino. No dia 25, dois ingleses, Charles Iainconyngsby Hillilg e William John Heard, de 19, foram presos quando pediram ao motorista troco para R$ 100, depois de uma corrida de R$ 16 até o Centro. Quando o condutor separou o dinheiro a dupla tomou as cédulas da sua mão e saiu correndo. A polícia foi acionada e prendeu os dois. Dois dias, antes um turista inglês quebrou o para-brisa de um táxi com um soco porque não conseguia compreender o condutor. A PM foi chamada e o caso terminou na delegacia.


EXTRA No quesito gorjetas, os taxistas que trabalham em pontos do Mercado Central, Terminal Aeroporto e Savassi, em frente ao Shopping 5ª Avenida, foram unânimes em dizer que os mais bondosos são os ingleses e franceses, que chegam a deixar entre R$ 40 e R$ 50 de gratificação por corrida. “Os mais ‘mãos de vaca’ são os argentinos, que não deixaram nada com ninguém que eu conheço”, conta o taxista José Ferreira, de 53. Mas as somas maiores foram deixadas por iranianos, ingleses e chilenos a caminho do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, depois de suas seleções terem sido eliminadas.

“Quando o time não classifica, muitos estrangeiros pagam as corridas com o resto dos reais que têm porque não querem levar para seu país o nosso dinheiro nem perder tempo fazendo câmbio. Se a corrida deu R$ 120 e ele tem R$ 200, deixam esse troco de gorjeta”, conta o taxista Denilson dos Santos Lima, de 44.


Por usar o aplicativo de tradução e ser sempre prestativo, o taxista Jonatan Pereira, de 20, ficou amigo de um grupo de colombianos logo que desembarcaram no Conexão Aeroporto. “Pegaram meu telefone e sempre que queriam passear me ligavam. Levei-os à Pampulha, para o estádio, para Ouro Preto. Deixei no aeroporto e no final, além das gorjetas, dei para eles uma camisa do Brasil e eles me deram uma da Colômbia. Foi sensacional”, disse Jonantan.

Tecnologia resolve: Jonatan Pereira recorre ao tradutor do Google para entender o que os passageiros falam - Foto: Beto Novaes/EM/D.A Press 

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