Tão certo quanto a alegria do gol e a felicidade de avançar rumo à grande final é curtir a Savassi, estação de nações e sotaques nesta Copa do Mundo. O entorno da Praça Diogo de Vasconcelos vem recebendo brasileiros, colombianos, gregos, costa-riquenhos, ingleses, argentinos, iranianos, belgas, argelinos e chilenos, que fazem ecoar ali cantos das torcidas entoados no Mineirão.
A “Savassí” – assim mesmo, com a última sílaba acentuada – já é palavra incorporada ao vocabulário de torcedores e tribos cujos times nem sequer passaram pelo Gigante da Pampulha. Chineses, japoneses, franceses, alemães, uruguaios, norte-americanos, paquistaneses, espanhóis, búlgaros, mexicanos, peruanos, malaios, suíços e indianos também têm se divertido por lá.
Savassi virou sinônimo de hospitalidade – “friendly people” e “buena gente” são duas das expressões mais ouvidas lá sobre os belo-horizontinos. A beleza da mulher mineira, o café, a cachaça, o pão de queijo e a presença da polícia impressionam os estrangeiros, mas houve também contratempos, como a falta de banheiros químicos, insuficientes nos primeiros dias de festa para tanta gente.
A “Savassí” abriga diversos ambientes paralelos, especialmente nas quadras fechadas das ruas Pernambuco e Antônio de Albuquerque. Há de ambulantes argentinos vendendo bombons e camisas da seleção de Messi a “falsos estrangeiros” azarando as mineiras bonitas. O projeto Savassi Cultural programou shows, além de área para exposição de artes plásticas e artesanato. Ingresso: 1kg de alimento não perecível. Teve inglês com sacolinha de fubá no posto de troca.
Ali perto, colombianos e brasileiros dançavam Macarena. Teve também chorinho na Rua Paraíba, despertando a atenção dos turistas. Na padaria, o morador comenta: “Está tudo melhor do que eu imaginava”. Porém, lamenta briga com garrafadas de madrugada e a falta de sossego para dormir. A vizinha, de cara amarrada, rebate: “Melhor os estrangeiros do que os moradores de rua”. Os dois esperam que a polícia não deixe a Savassi depois do dia 13.
Pulseira À sua maneira, torcedores de três gerações curtem a “Savassí”: fazem selfie com a estátua do escritor Roberto Drummond, compram suvenires. Não faz mal se o time não avança nas tabelas. A viagem é outra história. Howard, o inglês, já saiu da barraquinha usando a pulseira brasileira feita à mão. O argentino cabeludo veio de Córdoba sem ingressos para os jogos nem dinheiro para voltar para casa. “Messi, the best in the world!”, exclama, convicto de que será campeão. A mulher entra na onda, compra um bombom para dar força ao hermano.
A turma de colombianos gostou tanto de BH que decidiu ficar na cidade até a semana que vem. Do outro lado da calçada, os dois irmãos japoneses, estudantes de português, estão enturmados, soltinhos, com costa-riquenhos e brasileiros. Movidos a cerveja, ingleses se levantam e começam a entoar cantos ouvidos nos estádios. Duas dezenas de conterrâneos entram no clima. Muita gente para e filma.
“Em BH, a Copa do Mundo tá igual ao carnaval de Salvador: é golo e pegação todo dia, ‘véi’”, diz o sujeito para o amigo de cervejada. “Esse povo ia gostar é do Arraial de Belô!”, provoca o homem de gravata. A turma da escola de inglês veio à Savassi para – literalmente – estudar. Na aula especial de conversação, o professor só não deixou a galera beber. “After class, ok!?”, avisa ele. Perto dali, dois amigos – camisas 10 do Cruzeiro e 49 do Atlético – surgem abraçados. “Tinha que ter Copa do Mundo todos os anos em BH!”, delira o fã do Ronaldinho.