Jornal Estado de Minas

Turistas estrangeiros mudam rotina de hoteis de Belo Horizonte

Em um estabelecimento uma camareira foi pedida em casamento por um torcedor europeu. Em outro, gerente teve que conseguir carne especial para grupo da Argélia

Celina Aquino Sandra Kiefer - Especial para o EM
Nayara Leite fez contrato com fornecedores de carne para os argelinos - Foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press

A Copa do Mundo mudou a rotina dos hotéis de BH. Em um dos estabelecimentos da cidade, uma camareira chegou a ser pedida em casamento por um torcedor europeu. Pelo menos foi o que a moça entendeu quando o homem se ajoelhou e ofereceu-lhe a caixa de veludo com a aliança. Não adiantou tentar explicar, em português, que é casada, tem filhos e não estava interessada na proposta. Apavorada, ela passou a arrumar as camas escoltada por dois seguranças. “Nosso uniforme é muito justo no corpo”, reclama a jovem, que não revela seu nome por temer ficar sem o emprego.

A vinda de um grupo de 140 argelinos ao Holiday Inn, no Bairro Funcionários, obrigou a gerente de alimentos e bebidas, Nayara Almeida Leite, a se desdobrar para encontrar um fornecedor de carne halal. Ela levou mais de um mês, mas cumpriu a missão.
Trata-se da única carne consumida por muçulmanos, porque o abate ocorre sem sofrimento para os animais. Os 120kg de maminha e 90kg de peito de frango não foram suficientes para os quatro dias de hospedagem. “No último jantar, servimos apenas peixe”, relembra Nayara.

No bar do Liberty Palace Hotel, na Savassi, o experiente garçom Adirson Carvalho Pedrosa se impressionou com os costa-riquenhos. Enquanto acompanhavam os jogos pela televisão, os hóspedes não paravam de pedir doses de uísque, cerveja e caipirinha. No dia seguinte, foi preciso repor o estoque. “Eles bebem muito e as mulheres acompanham os maridos, mas ninguém fica bêbado”, revela Pedrosa.

Nascida na Letônia, Maija Gailisa, recepcionista do Hotel Boulevard Express, na Savassi, entende bem a surpresa do turista ao descobrir que o Brasil não é bem como ele pensava. Um argelino ficou decepcionado ao saber que seria preciso viajar para chegar a uma cachoeira. “Ele perguntou se não havia uma delas no Centro. Acham que a Amazônia é logo ali”, diverte-se Maija. Os visitantes também acreditam que carnaval ocorre o ano inteiro.

O BH Palace, no entorno da Praça Raul Soares, ficou superlotado por um erro no programa de reservas. A gerente Magna Nascimento se viu obrigada a oferecer camas de casal a uma turma de argentinos. “Irritadíssimos, eles perguntaram se eu achava que eram maricóns.
Depois, gritaram que não eram gays. Eu me segurei para não rir, pois a culpa era minha. Não apanhei por pouco”, lembra ela.

Só mesmo a tranquilidade oriental para compensar o estresse: enquanto hermanos esbravejavam, torcedores asiáticos esperaram pacientemente. “Por volta da 1h30, cinco coreanos se levantaram e perguntaram se poderiam ser atendidos. Eu me senti no Tibete. Essa Copa vai deixar lembranças”, suspira Magna..