A Copa do Mundo mudou a rotina dos hotéis de BH. Em um dos estabelecimentos da cidade, uma camareira chegou a ser pedida em casamento por um torcedor europeu. Pelo menos foi o que a moça entendeu quando o homem se ajoelhou e ofereceu-lhe a caixa de veludo com a aliança. Não adiantou tentar explicar, em português, que é casada, tem filhos e não estava interessada na proposta. Apavorada, ela passou a arrumar as camas escoltada por dois seguranças. “Nosso uniforme é muito justo no corpo”, reclama a jovem, que não revela seu nome por temer ficar sem o emprego.
A vinda de um grupo de 140 argelinos ao Holiday Inn, no Bairro Funcionários, obrigou a gerente de alimentos e bebidas, Nayara Almeida Leite, a se desdobrar para encontrar um fornecedor de carne halal. Ela levou mais de um mês, mas cumpriu a missão. Trata-se da única carne consumida por muçulmanos, porque o abate ocorre sem sofrimento para os animais. Os 120kg de maminha e 90kg de peito de frango não foram suficientes para os quatro dias de hospedagem. “No último jantar, servimos apenas peixe”, relembra Nayara.
No bar do Liberty Palace Hotel, na Savassi, o experiente garçom Adirson Carvalho Pedrosa se impressionou com os costa-riquenhos. Enquanto acompanhavam os jogos pela televisão, os hóspedes não paravam de pedir doses de uísque, cerveja e caipirinha. No dia seguinte, foi preciso repor o estoque. “Eles bebem muito e as mulheres acompanham os maridos, mas ninguém fica bêbado”, revela Pedrosa.
Nascida na Letônia, Maija Gailisa, recepcionista do Hotel Boulevard Express, na Savassi, entende bem a surpresa do turista ao descobrir que o Brasil não é bem como ele pensava. Um argelino ficou decepcionado ao saber que seria preciso viajar para chegar a uma cachoeira. “Ele perguntou se não havia uma delas no Centro. Acham que a Amazônia é logo ali”, diverte-se Maija. Os visitantes também acreditam que carnaval ocorre o ano inteiro.
O BH Palace, no entorno da Praça Raul Soares, ficou superlotado por um erro no programa de reservas. A gerente Magna Nascimento se viu obrigada a oferecer camas de casal a uma turma de argentinos. “Irritadíssimos, eles perguntaram se eu achava que eram maricóns. Depois, gritaram que não eram gays. Eu me segurei para não rir, pois a culpa era minha. Não apanhei por pouco”, lembra ela.
Só mesmo a tranquilidade oriental para compensar o estresse: enquanto hermanos esbravejavam, torcedores asiáticos esperaram pacientemente. “Por volta da 1h30, cinco coreanos se levantaram e perguntaram se poderiam ser atendidos. Eu me senti no Tibete. Essa Copa vai deixar lembranças”, suspira Magna.