Apesar de a comercialização dos ingressos para a Copa do Mundo fora do sistema oficial ser considerada crime, vale tudo na compra de tíquetes para o jogo da semifinal em Belo Horizonte.
Entre idas e vindas da cadeia, Júlio César dos Santos, mais conhecido como Negro Gato, negocia, do seu escritório no Luxemburgo, na Região Centro-Sul de BH, ingressos a R$ 3,5 mil, mas avisa: “Pode ser que, se o Brasil não ganhar da Colômbia, o preço caia”. Aceitando dinheiro ou cartão e levando até em casa, ele conta que está trabalhando dentro da lei e o que faz não é crime. “É comodidade. Pago meus impostos, gero emprego e não estou fazendo nada de errado. As pessoas que, por algum motivo, não podem ir ao jogo e têm os ingressos me procuram e eu vendo para elas.
Enquanto 11 pessoas foram presas em São Paulo e no Rio de Janeiro, acusadas de fazerem parte de uma quadrilha que chegava a faturar R$ 1 milhão por jogo da Copa do Mundo com a venda de ingressos, em BH, a falta de provas é que tem impedido a punição de cambistas. Detidos pela Polícia Militar, depois encaminhados para delegacias e conduzidos ao Juizado Especial Criminal, a grande maioria é liberada.
A capitão Giovana Silveira, responsável pelo Batalhão Copa, explica que, quando é feita a condução de cambistas pela Polícia Militar, os acusados não estão sendo autuados em flagrante. “Há a dificuldade de provas. Se não tiver nada que comprove o crime, a pessoa não é autuada. Essa tem sido a nossa dificuldade, porque empenhamos no combate a esse tipo de infração, fazemos um cerco aos cambistas, mas se não há vítimas, ingressos sendo vendidos a preços exorbitantes, eles não são autuados”, comenta, dizendo que toda venda de ingresso tem que ser feita com a permissão da Fifa, caso contrário, é crime. “Além disso, as delegacias estão lotadas. Estamos fotografando, monitorando as vendas e conduzindo aqueles que cometem o crime às delegacias”, diz.
Combate
De acordo com dados da Polícia Civil, no último sábado, por exemplo, quando a Seleção Brasileira enfrentou o Chile, no Mineirão, uma operação foi montada para combater a ação de cambistas, o que resultou na condução de um grupo de cinco brasileiros e quatro estrangeiros à 3ª Delegacia Regional Noroeste, sendo dois venezuelanos, um inglês e um chileno. Apenas um dos envolvidos, que é brasileiro, teve sua prisão em flagrante ratificada, porque tentou subornar um dos policiais civis. Os demais foram ouvidos e tiveram seus Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCOs) redigidos para serem encaminhados ao Juizado Especial Criminal. “Quando a pessoa assina esse termo, ela fica livre do flagrante.
Ela explica ainda que o acusado, aceitando a transação, não pode assinar outro termo durante cinco anos. “Se cometer o crime de novo, ele vai responder por um processo e, se condenado, caso seja a primeira vez, pode também prestar serviços à comunidade. Muitas vezes, a polícia detém a pessoa mas não há provas contundentes. São poucos os processos que vão para frente. Trata-se de um crime de menor potencial ofensivo”, diz. O juizado, segundo conta Flávia Moura, tem atendido esses casos de forma imediata por causa da Copa do Mundo. “Em dias normais, a demora é de um mês”, compara. No caso dos acusados estrangeiros, segundo a juíza, há a transação penal e, como não é possível verificar a ficha policial deles, os promotores aplicam multas sem valor estabelecido.
Negociação
Na internet, a negociação é grande. Em grupos nas redes sociais, muitas pessoas oferecem ingressos, que variam de R$ 1 mil a R$ 3,5 mil.
A Fifa, por meio da assessoria de comunicação, informou que toda credencial tem foto e nome da pessoa da qual pertence e que há, na entrada dos estádios, uma triagem bem rigorosa para os credenciados. Sobre a venda, a Fifa informou não poder comentar por não saber da veracidade do fato.
Torcedores apostam na sorte para conseguir entradas para o Mineirão
Landercy Hemerson
Ver um jogo da Copa do Mundo 2014 do lado de dentro de um estádio. Quem acordou tarde para o evento ou quer repetir a experiência enfrenta o desafio de conseguir uma entrada. Brasileiros, argentinos, belgas e mesmo aqueles torcedores de seleções que já estão fora do torneio integram a turma dos sem-ingresso, que tentam freneticamente encontrar no site da Fifa uma alternativa mais barata para assistir a uma disputa.
O advogado João Lucas Lembi, de 24 anos, conseguiu levar sua noiva, a professora norte-americana Megan Ballock, de 26, a dois jogos no Mineirão. “Moro em Belo Horizonte e queria muito que ela fosse a uma das partidas do país dela. Mas agora, que os EUA estão fora, o desafio é ver o Brasil de perto, aqui em BH.” Megan, que assistiu aos jogos de Bélgica x Argélia e Inglaterra x Costa Rica, no Mineirão, aposta na sorte. “Espero que a Fifa volte a oferecer ingressos para a semifinal na semana que vem, principalmente se for o Brasil um dos classificados.”
O fiscal de alfândega Omar Orellano, de 27, veio de Buenos Aires sem ingressos para ficar na casa de amigos em Belo Horizonte na esperança de que conseguiria pelo menos assistir a Argentina x Irã. “No dia do jogo, um cambista ofereceu ingresso, mas eu estava na Savassi e faltava pouco para a partida começar. Estou entrando no site da Fifa durante a madrugada, pois ainda gostaria de assistir a uma partida, mesmo que não seja do meu país. De cambista fica difícil, pois estão cobrando um absurdo.”
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