Alguns optaram por dormir cedo e conhecer os pontos turísticos da cidade. Outros chegaram com gás suficiente para virar madrugadas e curtir, ao máximo, a noite em Belo Horizonte. Levaram na bagagem boas histórias, doces mineiros e a vontade de voltar. Quem os recebeu teve que aprender a lidar com diferentes hábitos, preparar bons cafés da manhã, improvisar espaço na sala de casa e até mesmo ouvir, sem reclamar, o hit Lepo Lepo 24 horas por dia. É com saudade e com um desejo enorme de repetir a dose que os mineiros anfitriões de turistas de fora do país relatam suas experiências de abrir a porta para os muitos desconhecidos, que de tão fascinados com a cidade e com o povo de Minas, se tornaram hóspedes em potencial e eternamente bem-vindos.
Depois de passar uma boa temporada fora do Brasil, morando na Argentina, Estados Unidos e Inglaterra, o gerente de projetos Marcelo Augusto Costa, de 31 anos, quis retribuir toda a hospitalidade que teve mundo afora. E já que não foram poucos os amigos que o acolheram, vieram para a sua casa em Belo Horizonte 13 estrangeiros, de vários cantos do mundo. Primeiro chegaram os colombianos. “Na Argentina, conheci muitas pessoas da Colômbia. Então, vieram para cá três amigos colombianos e mais cinco que não conhecia. Oito, ao todo”, contabiliza.
Marcelo é casado com a ucraniana Svitlana Muzichenko, de 30. Assim, durante quatro dias, em seu apartamento de três quartos em BH, 10 pessoas dormiram em sofá e em colchões espalhados pela sala. “Para viver uma Copa do Mundo, os colombianos estavam dispostos a qualquer coisa”, disse Marcelo que fez de tudo para ser um bom anfitrião. “Fui com eles ao Mineirão, Savassi, Cidade Administrativa. Eles amaram tudo e, como estavam há 16 anos sem ir a uma Copa do Mundo, choravam antes dos jogos, se emocionavam.”
Depois dos colombianos, Marcelo recebeu três argentinos. “Esses queriam mais a noite. Acharam as mineiras bonitas e queriam curtir as boates da cidade. Amaram a música Lepo Lepo, que colocavam aqui em casa 24 horas por dia. Até vestir a camisa da Argentina, tive que vestir.” Marcelo recebeu ainda um casal de peruanos, que mora em Miami. “Todos gostaram muito de BH, disseram ter sido muito bem tratados aqui e querem voltar”, diz.
Na república do professor universitário e estudante de doutorado Gustavo Fóscolo de Moura Gomes, de 29. Um quarto e a sala do apartamento viraram hospedagem para turistas. Primeiro, vieram dois colombianos e um alemão. Foi uma festa. Animados, segundo lembra Gustavo, eles interagiram e conheceram outros brasileiros que os levaram para boates e casas noturnas. “Como no Brasil não há horário determinado para alguns lugares encerrarem atendimento, eles aproveitaram.”
Depois dos colombianos, uma menina da Costa Rica se hospedou na república. “Ela saiu sozinha. Um dos meninos que mora aqui na república chegou a ir com ela ao estádio.” Neste domingo, chega um alemão. “Para todos eles, fizemos compras para café da manhã, deixando-os à vontade. Muitos não comiam e iam direto para a Fan Fest. O importante é que quem chega traz o espírito da alegria e da diversão, mesmo com rivalidade entre os times”, diz, revelando que já há procura por um aluguel de quarto em setembro.
PESQUISA Mesmo alugando quartos em sua própria casa, a arquiteta Karine Arimateia, de 40 anos, pesquisou cada hóspede que receberia. Em um site voltado para esse tipo de turismo domiciliar, Karine se cadastrou cinco meses antes da Copa do Mundo e recebeu muitas propostas. “Pesquisei cada um na internet. Mas o próprio site dava a segurança”, diz. Para a sua casa, foram um casal de colombianos, um inglês e um casal de suíços. “Foi como viajar por vários lugares sem sair do meu país”, comenta Karine, atestando que todos os hóspedes eram muito educados e deixavam a casa sempre limpa. “Nunca tinha tido contato com suíços, então, pesquisei tudo sobre a cultura deles. Assim, fui conhecendo um pouco de cada lugar, sem sair de casa”, brinca.