A chance de adquirir ingressos para o jogo entre Brasil e Alemanha, hoje, pela Copa do Mundo, o último no Mineirão, fez muita gente procurar cambistas. Dentro do próprio posto de trocas da Fifa, em shopping do Bairro Santa Efigênia, Região Leste de BH, ou nos arredores do estádio, onde a partida vai ser disputada às 17h, o movimento de vendedores e pessoas querendo comprar o tíquete foi grande. Os valores variavam ontem de R$ 2 mil a R$ 3 mil. No Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, pessoas ofereciam entradas a R$ 1.800. Na internet, tem até leilão com preço inicial de R$ 2 mil.
Mesmo com seguranças particulares observando o movimento de torcedores no Centro de Ingressos da Fifa, no shopping, entre as mesas de totó e quem fazia fila para tirar uma foto com o mascote Fuleco havia pessoas que combinaram de se encontrar no espaço para consolidar a transação que fizeram pela internet ou por telefone. Um grupo de argentinos com camisas da Seleção e de clubes esperava para ver se alguma não daria certo para ver se sobrava algum ingresso para eles. “Vamos ficar aqui o dia todo e ver o que conseguimos.
Num desses grupos a negociação parecia não estar muito certa. O rapaz que trouxe o ingresso estava nervoso e logo na entrada do Centro de Ingressos deixou o tíquete cair do bolso e saiu correndo para pegá-lo, quase sendo atropelado por um veículo que manobrava. Quando se encontrou com os dois outros jovens que fariam a compra, um deles achou que o ingresso estava em estado ruim. “Está muito amassado esse ingresso”, disse. “Fui eu que amassei sem querer, no bolso, quando estava guardado. Mas pode conferir que é o próprio”, garantiu o vendedor. O rapaz que comprava o ingresso ergueu então o bilhete contra a luz e ficou analisando como se fosse uma cédula de dinheiro com marca d’água, em atitude seguida pelo amigo que estava com ele. “Negócio fechado”, disse por fim o comprador, abrindo um sorriso de satisfação por ter finalmente conseguido.
Na fila de possíveis devoluções o clima era mais tenso. Os seguranças recomendavam todas as pessoas que chegavam a desistir. “Nesse tempo todo de Copa do Mundo nenhuma pessoa conseguiu nem um ingresso assim”, disse um deles à porta do espaço. Mas isso não abalou a confiança da professora Amélia Borges, de 47 anos, e de seu filho Eric, de 12, que ainda tinham esperança de comprar um bilhete.
OFERTA No Mineirão, dois grupos de cambistas foram identificados pela reportagem rondando possíveis compradores. Mas devido aos muitos seguranças e policiais que circulam no estádio, estavam mais arredios e desconfiados do que nos dias anteriores. Um casal encostado num muro, falando ao celular próximo a uma linha de banheiros químicos da Avenida Antônio Abrahão Caram abordava discretamente quem parecia querer comprar um bilhete. Dois rapazes que estavam na frente da reportagem foram abordados, mas não aceitaram pagar R$ 2 mil pelas entradas. “Achei muito suspeito. Tenho medo de comprar ingresso falsificado.
Uma cena chamou a atenção no desembarque da Seleção Alemã ontem, no aeroporto de Confins. Antes do desembarque, o torcedor alemão de primeiro nome Helze abordou pessoas que passavam pelo salão e ofereceu os ingressos. O preço sugerido era de R$ 1.800 por unidade. Uma ação civil pública da Defensoria Pública do Estado foi expedida ontem e obriga a Fifa a reimprimir os ingressos dos torcedores no caso de roubo, furto, dano ou extravio. A Fifa não se pronunciou sobre o assunto e pode ser obrigada a pagar multa diária de R$ 10 mil pelo descumprimento.
Leilão e troca virtual
Só nas 24 horas que antecederam a partida, a reportagem encontrou 112 páginas da internet onde o assunto era a comercialização específica de ingressos para Brasil e Alemanha. Nas redes sociais ocorreram pedidos estranhos e vendas por valores abusivos. Numa rede social que promove a compra de ingressos entre seus membros, uma pessoa pediu R$ 12 mil para três ingressos. Houve tentativa de leilão, por R$ 2 mil cada (metade do valor), mas sem sucesso. Em bate-papo reservado a pessoa disse ter conseguido vender.
Muitos aproveitam essas ofertas com bom humor, como um participante que disse trocar um Fiat Oggi, ano 1986, pelas entradas e ainda brincou com as características do veículo: “Ano da Copa do México. Relíquia, todo original, filé! (sic)”. Duas páginas internacionais ainda exibiam cerca de 30 ingressos a preços que chegavam ontem a 2.200 euros, ou R$ 7 mil. Um dos mais conhecidos, o Iguana Tickets, saiu do ar informando que não tinha mais ingressos para o jogo do Brasil e que quem tivesse comprado algum deles deveria entrar em contato por um endereço de e-mail. Até sites de venda de artigos diversos comercializavam entradas a cerca de R$ 3 mil.
Pelo Estatuto da Copa do Mundo da Fifa 2014, a comercialização dos ingressos fora do sistema oficial é considerada infração cível e criminal, mesmo sendo vendido pelo mesmo preço adquirido e sendo a única entrada da pessoa. A PM tem prometido agir contra esse comércio e realizar mais patrulhas, mas os cambistas continuam a agir sem ser detidos.
Alemães tentam entradas
Dia de tranquilidade para uns, por ter garantido com antecedência o ingresso para a semifinal entre Brasil e Alemanha, e de ansiedade para outros em busca da entrada tão cobiçada. Na tarde de ontem, sozinhos ou em grupos de amigos, muitos torcedores alemães passaram o dia na Região da Savassi, que concentra grande número de gringos, com cartazes escritos em português e alemão. “Sei que comprar o tíquete de cambistas é prática ilegal, então prefiro não mostrar o rosto. Mas gostaria muito de ver essa partida no Mineirão”, comentou um jovem na esquina da Avenida Getúlio Vargas com a Rua Antônio de Albuquerque.
Natural de Hannover, o estudante de história Benny Weihe, de 25 anos, estava na expectativa de alguma desistência. “Fui aos cinco jogos da Alemanha, em Salvador, Fortaleza, Recife, Natal e Rio de Janeiro. Agora, quero comprar o ingresso, mas não tem.” Nas proximidades da “embaixada dos torcedores” da Alemanha, uma van estacionada na Savassi para prestar serviços aos alemães, ele encontrou conterrâneos interessados na compra, sem sucesso, do tíquete: os arquitetos Michael, de 28, e Fabian, de 26, e o estudante Johannnes, de 25.
Circulando pela região, um homem alto e moreno, que falava uma mistura de idiomas e preferiu não se identificar ou se deixar fotografar, tentava vender um ingresso por R$ 2,4 mil. “E onde está o ingresso? Posso ver?”, perguntou o repórter. A resposta veio em francês: “Non”.
SEM CHANCE Brasileiros residentes na Austrália, o mineiro Alexandre Barra, de 34, e o paulista Renan Xavier, de 29, tomavam uma cerveja num bar da Savassi, mas estavam numa situação bem diferente. Enquanto Renan tinha seu tíquete em mãos, Alexandre lamentava a falta. “Olha só, estou hospedando ele aqui em BH e não poderei ir ao jogo. De todo jeito, estive na África do Sul e vi todos os jogos do Brasil”, contou o rapaz.
Ofertas
R$ 12 mil
é o que sites na internet ofereciam ontem por três ingressos para Brasil e Alemanha, hoje. Teve até leilão com lance inicial de R$ 2 mil
R$ 2 mil
é o valor de cada tíquete oferecido na tarde de ontem por um casal na Avenida Abrahão Caram, bem perto do Mineirão
R$ 1.800
é o valor do ingresso vendido por cambistas no aeroporto de Confins durante o desembarque da Seleção Alemã