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Estado de Minas

Vizinhos do viaduto vivem drama e desconforto depois de desabamento

Quatro dias depois, moradores alegam que não conseguem dormir e são obrigados a sair de casa por causa da insegurança e barulho da demolição


postado em 08/07/2014 06:00 / atualizado em 08/07/2014 07:57

Juscilane reclama da trepidação causada pelos rompedores hidráulicos que demolem o viaduto e atormentam sua família e os demais moradores do residencial(foto: BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS)
Juscilane reclama da trepidação causada pelos rompedores hidráulicos que demolem o viaduto e atormentam sua família e os demais moradores do residencial (foto: BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS)

Apreensão e transtorno já viraram rotina para quem vive no conjunto de nove blocos de apartamentos do Residencial Antares, ao lado do Viaduto Batalha dos Guararapes, desde quinta-feira, quando ocorreu o desabamento na Avenida Pedro I. Com o barulho da quebradeira de concreto, a interdição do trânsito e um exército de operários trabalhando na demolição do viaduto, moradores saem de casa durante o dia para evitar incômodos.

A dona de casa Juscilane Alves Martins, de 32 anos, afirma que a pia do banheiro de seu apartamento, no quarto andar do bloco 9, quebrou-se na quinta-feira, com a vibração provocada pela queda do viaduto. Agora, ela reclama da trepidação causada pelos rompedores hidráulicos que fazem a demolição. “Saímos do prédio porque não estamos aguentando. Meus filhos choram, estão com medo, acham que o prédio vai cair. Estamos dormindo mal”, diz ela, que mora com o marido e dois filhos, de 6 e 3 anos.

A assistente administrativa Glaucilene Moreira de Almeida Barros, síndica do bloco 8 do residencial, também reclama dos transtornos. Segundo ela, desde o dia do desabamento, os moradores sofrem com abalos psicológicos. “Para a gente, está sendo um terror. Não consigo dormir. Muitas pessoas estão abaladas, e não estamos recebendo apoio nesse sentido”, reclama.

 Ela cita as análises topográficas para garantir que nenhum abalo ocorra na estrutura dos prédios, mas que o lado humano não tem sido observado. “Foi um tremor muito forte. Eu quase caí e segurei na cama. Então desci para o pátio, porque minha filha estava brincando lá em baixo. Só depois entendi o que havia acontecido”, contou.  

Síndica de um bloco do edifício ao lado do viaduto, Glaucilene Barros diz que moradores estão apreensivos(foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.APRESS )
Síndica de um bloco do edifício ao lado do viaduto, Glaucilene Barros diz que moradores estão apreensivos (foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.APRESS )

COMISSÃO DE MORADORES


No sábado, depois de protestarem na Pedro I, os moradores conseguiram a criação de uma comissão para acompanhamento das obras de demolição. Uma cópia do termo de compromisso, com assinaturas do coordenador da Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas, de oito moradores e da advogada que representa o grupo foi entregue ontem ao oficial. “Conseguimos, com esse acordo, não só ter acesso ao local, mas também a todas as informações e o andamento da demolição”, afirmou a presidente da Associação de Moradores da Pedro I, Vilarinho e adjacências, a advogada Ana Cristina Campos Drumond.
Ela disse ainda que uma equipe da Defesa Civil está dentro do residencial para medir possíveis abalos durante a demolição. “Os apartamentos estão sendo monitorados. Tem uma equipe que vai estar sempre lá dentro e temos também o telefone do coronel Lucas para que possamos avisá-lo de qualquer abalo, qualquer tremor na parede ou mesmo se um quadro se mexer na parede”, disse a advogada, que também representa o residencial Antares.

O coronel Alexandre Lucas, coordenador da Defesa Civil, confirmou que uma equipe está à disposição dos moradores. Sem querer se identificar, um morador disse que os agentes da Defesa Civil constararam apenas fissuras em alguns  blocos do conjunto. “Como são superficiais, não comprometem a estrutura das edificações”, explicou. Ele e os colegas não têm condições de saber se parte das falhas surgiu ou foi ampliada após a queda do viaduto, como relatam moradores. Das avarias encontradas, a considerada mais grave pelos agentes foi uma longa fenda em um muro diante do bloco 7, bem ao lado da alça do viaduto que caiu. Segundo a prefeitura, um serviço de acompanhamento psicológico foi implantado no Hospital Odilon Behrens para pessoas que sofreram impacto com o desabamento desabamento. As consultas podem ser agendadas pelo telefone 3277-6229, das 8h as 17h.

Dilma espera laudo pericial

A presidente Dilma Rousseff disse ontem em conversa com internautas que a Prefeitura de Belo Horizonte é responsável pela execução da obra e pela fiscalização da empresa contratada, mas que espera receber informações sobre as causas do acidente. "O governo federal aguarda que a prefeitura entregue o laudo pericial sobre as razões da queda do viaduto", afirmou. Segundo ela, será necessário esperar as análises da perícia para apontar falhas. “Com o relatório pericial avaliaremos as responsabilidades e as medidas necessárias”, declarou.

Peritos analisam aço e concreto

A perícia já começou a fazer os testes com o material recolhido na Avenida Pedro I. Segundo fontes da Polícia Civil, o aço usado na estrutura do viaduto está sendo analisado e submetido a exames de tração e pedaços de concreto passam por testes de resistência nos laboratórios da corporação. No local do acidente, com o projeto estrutural em mãos, investigadores conferem ainda se a ferragem está em conformidade com o planejado. Profissionais que acompanham os trabalhos informam que erro de projeto ou de execução está entre as hipóteses investigadas.

A assessoria da Polícia Civil informou, por meio de nota, que até o fim da tarde de ontem o delegado Hugo e Silva, titular da 3ª Delegacia Regional de Venda Nova, já havia tomado o depoimento de 20 pessoas, entre vítimas, testemunhas, engenheiros e operários da Cowan, empresa responsável pela obra.

No local da tragédia, será preservado um de raio aproximadamente 10 metros no entorno do pilar central, onde serão feitos exames periciais específicos para verificar a situação em que se encontra a fundação dessa parte da construção.

Consultor em geotecnia do Instituto Mineiro de Perícias, Gerson Campera, que também acompanha os trabalhos, diz que pelo menos três fatores poderão determinar as causas da queda da estrutura: solo, capacidade de carga ou processo de infiltração no canal de drenagem que passa na região. “Antes da pavimentação da pista, pode ter ocorrido rompimento de alguma galeria de drenagem, havendo retirada do solo que sustenta as estacas”, avalia.

Para Camperer, a perícia não deve terminar antes de 30 dias. Ele esclarece que serão feitas sondagens em cada lado da fundação do pilar, que tem como base um bloco de concreto em formato cúbico construído em cima de 10 estacas de 20m de profundidade e 80cm de diâmetro. “Serão feitas perfurações nas laterais do pilar para verificar a resistência e a capacidade de carga do solo, bem como saber quantas estacas seriam necessárias para o carregamento, ou seja, se 10 eram suficientes e se o projeto estava correto”, afirma. “Se estiver, será preciso escavar para apurar se as intervenções foram executadas corretamente. Pode ser um erro de projeto, de execução, ou os dois juntos.”

ASSEMBLEIA A queda do viaduto poderá ser investigada também pela Assembleia Legislativa. Ontem, a presidente da Comissão da Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência e integrante da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte, Liza Prado (PRO), entrou com pedido de abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para, no prazo de 120 dias, “ouvir os envolvidos, investigar, fiscalizar e apurar causas e responsabilidades”. No requerimento, ela pede ainda a apuração das suspeitas de irregularidades nas obras do sistema do BRT na capital.

 

 


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