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Estado de Minas

Veja as cenas da solidão após derrota no Hipercentro de BH


postado em 09/07/2014 07:32 / atualizado em 09/07/2014 07:35

(foto: Jefferson da Fonseca Coutinho/EM/D.A Press )
(foto: Jefferson da Fonseca Coutinho/EM/D.A Press )
Das janelas de tela plana do Hipercentro parecia jogo de sete erros. E os alemães riscaram como bem quiseram o passatempo. É mesmo o ano da Alemanha no Brasil. Enganou-se quem pensou que o fim das festividades da estreita relação entre os dois países foi aquela exibição do Balé Jovem Nacional, em 19 de maio, na Rua da Bahia. O baile dos alemães ficou para este julho, no Mineirão: 7 a 1.

Lembrou obra do Fredinho, meu filho mais velho, no PlayStation. Distante do cenário das marchas de junho, o quadrante mais emblemático das manifestações deu trégua para a festa da bola. Afinal, é Copa do Mundo. E o povo deu todos os sinais de que topou a festa. Na Praça Sete, o vazio e o silêncio. O envelope humano, traço com cerca de 200 policiais, estava lá para garantir a ordem. A voz rouca dos manifestantes também: trinta. Sete gols da Alemanha, sete cenas para não esquecer:

Cena 1

A boa e pacata gente do Marreta, da Liga Operária e do Movimento Estudantil Popular Revolucionário – trinta no total – protestou. Os moços sabem o que dizem. Mas não havia quem ouvisse. Por fim, os jovens e veteranos ativistas guardaram as faixas, bandeiras e fotos de operários mortos e foram embora. Deixaram o quarteirão com o som de mão para sumir das vistas dos homens do Choque.

Cena 2


A morena bonita estava segura de que a televisão fala a verdade. Se com um Neymar o Brasil avançou ate às quartas, com 11 em campo mais dois centos de milhões na torcida seria uma barbada. Neide, a estudante, achou bonito o Júlio César e o David Luiz segurando a camisa do Neymar na hora do hino. E o homem falador da televisão reforçou: “Hoje todo mundo é Neymar”. “É para você, Neymar!” E tome Neymar!


Cena 3


Os gols vieram como nas peladas de domingo, nos anos 1980, quando o Geraldinho, do Santa Terezinha, resolvia jogar. Com duas dúzias de minuto de bola na área brasileira, já tinha gente deixando os bares dos quarteirões fechados da praça. “Que isso???”, “Ah…” e “Vergonha!” era o que mais se ouvia. “Melhor se tivesse perdido para o Chile”, disse o baixinho, indignado com mais um gol – o quarto.

Cena 4


Chiquinho, o pipoqueiro, durante o jogo, ficou ali, em frente ao Cine Theatro Brasil, girando o milho no óleo quente para esperar a freguesia. Solitário, desistiu de dar bola para o Mineirão. “Pensei que o Brasil ia ganhar de 1 a 0. Que coça, hein!?”. O velho não podia imaginar tamanha humilhação. Sabia do jogo de ouvido, da tevê do bar vizinho, da Rua dos Carijós.

Cena 5


Até o policial sisudo, do Choque, sorriu incrédulo ao saber de mais um gol. Vestido com aquelas tapadeiras de filme de ficção, a autoridade quis saber: “Mais um?”. O colega ao lado, carrancudo, balançou a cabeça. “É. Mais um!”. Já era o segundo tempo e a palavra mais ouvida nos quatro quarteirões era “vexame”.

Cena 6


O homem vendedor de cadarços resolveu deixar o campo e sumir na Avenida Amazonas. No Bar Fórmula 1, a promoção era uma cerveja por conta da casa por mesa para cada gol brasileiro. Fosse da Alemanha teria que fechar as portas. No estabelecimento já tinha gritos de “olé!” e palmas para os alemães. Por fim, o Oscar faz descer uma cervejinha.

Cena 7


Buzinaço e foguete na goleada histórica em terras mineiras. “Nem deu para sofrer”, diz o rapaz para o amigo com a cara pintada. Na Rua Rio de Janeiro, o casal de meia-idade, sorridente e serelepe, em verde e amarelo, entra no motel de nome de filme famoso. Azar no jogo, sorte no amor.

l Neste Mundial, a cada jogo do Brasil, uma visita a um lugar da cidade. O Estado de Minas já esteve na Maternidade Sofia Feldman (Brasil 3, Croácia 1), na Casa do Ancião (Brasil 0, México 0), no Terminal Rodoviário (Brasil 4, Camarões 1), na Lagoa da Pampulha (Brasil 1, Chile 1) e no Viaduto Batalha dos Guararapes (Brasil 2, Colômbia 1).


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