
Ofensas dentro e fora de campo
"O futebol se apresenta como um campo interditado a todos que não apresentam uma identidade heteronormatizada", observa Roberto Chateaubriand, coordenador do Centro de Referência pelos Direitos Humanos e Cidadania de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (CRLGBT). "A intenção do evento é problematizar esse caráter da nossa sociedade, que articula machismo, violência de gênero e homofobia", acrescenta o diretor do órgão municipal.
Roberto observa que os termos ofensivos usados por torcedores quase sempre estão relacionados à condição feminina — "quando os atleticanos chamam cruzeirenses de 'maria'" —, ou à homossexualidade — "cruzeirenses se referem aos rivais como 'gaylo'". Ele aponta que, em um ambiente com ausência de homossexuais assumidos, os fãs do esporte associam sua prática à virilidade dos atletas, sob a presunção "equivocada" de que essa característica falte aos gays.
"Ao mesmo tempo, é como se os torcedores interditassem o feminino no futebol, uma vez que existe sempre o questionamento acerca da sexualidade das atletas mulheres. Ou seja, para jogar futebol, segundo essa opinião preconceituosa, mulheres precisam ser lésbicas e homens precisam ser hétero", ressalta Chateaubriand.
O coordenador acredita que as atitudes preconceituosas vão diminuir à medida em que os seguidores de futebol passarem a rejeitar estas demonstrações. "Queremos provocar um debate para que, tal qual o racismo, isso possa ser denunciado e crie incômodo quando ocorrer", compara Roberto. "Hoje o racismo passou a ser intolerado em espaços públicos justamente porque passou a causar constrangimento para quem o pratica", afirma o coordenador do CRLGBT.
Um mês de jornada
Ao longo do mês, outros temas devem ser explorados por entidades ligadas à organização da Parada de BH. Segundo o coordenador do CRLGBT, o Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (NUH) da UFMG e o movimento Una-se Contra a Homofobia, projeto de extensão da UNA, vão promover debates sobre a homossexualidade. O Conselho Regional de Serviço Social (CRESS-MG) deve trabalhar a questão do nome social para travestis e transexuais. Já as entidades de militância LGBT da capital pretendem dar foco à discussão sobre a laicidade do Estado em relação à sexualidade.