Jornal Estado de Minas

História de Minas Gerais é celebrada em duas cidades que tiveram os primeiros povoados

Saiba por que Mariana celebra o Dia de Minas, e Matias Cardoso, no Norte do Estado, festeja o Dia das Gerais

Gustavo Werneck

A festa em Mariana foi criada em 1979, com a transferência simbólica da capital para o município da Região Central, missa solene, entrega de comendas e toque de sino nas igrejas barrocas da cidade - Foto: Renato Weil/EM/D.A Press - 19/2/12


Minas Gerais tem duas datas importantes para reverenciar sua história, destacar os primeiros povoados e lembrar personagens que, ao longo dos séculos, ergueram os pilares da civilização. Como o estado tem nome e sobrenome, as homenagens ficaram divididas depois de alguns anos de polêmica. Na próxima quarta-feira, será celebrado em Mariana, na Região Central, o tradicional Dia do Estado de Minas Gerais, mais conhecido como Dia de Minas, com a transferência simbólica da capital, missa solene, entrega de comendas e toque de sino nas igrejas barrocas (veja a programação). Já em 8 de dezembro, como ocorre desde 2011, será a vez de Matias Cardoso, na Região Norte, receber as mesmas honrarias e celebrar o Dia das Gerais.

Conforme pesquisas, Mariana e Matias Cardoso resultam dos primeiros núcleos populacionais mineiros surgidos em meados do século 17 – o primeiro fundado por bandeirantes paulistas e o segundo, por desbravadores que subiram o Rio São Francisco provenientes da Bahia. Batizada em honra à rainha Maria Ana D’Áustria, mulher do então rei de Portugal dom João V, Mariana começou sua trajetória em 16 de Julho de 1696 – daí o Dia de Minas ser sempre nesta data, também dedicada a Nossa Senhora do Carmo –, quando o bandeirante Salvador Furtado de Mendonça, em busca de ouro, chegou às margens do Ribeirão do Carmo e fundou o Arraial do Ribeirão do Carmo.

Segundo o professor de direito e estudioso da história local Israel Quirino, Mariana se tornou a primeira “vila do ouro” de Minas em 8 de abril de 1711, recebendo o nome de Leal Vila de Nossa Senhora do Carmo de Albuquerque. Ainda nesse ano, acrescenta, “houve aqui a primeira eleição de uma Câmara Municipal. Assim, a cidade é considerada a mãe de Minas Gerais, base de uma política organizada na capitania”.

Para se tornar cidade e diocese pioneiras da Minas colonial, passaram-se 34 anos.
“Em 1745, vindo do Maranhão, chegou a Mariana o bispo dom Frei Manuel da Cruz (1690-1764), nascido em Portugal. Como a autoridade eclesiástica não poderia morar numa vila, ela foi elevada à categoria de cidade”, explica Israel. Quem caminha pelas ruas do Centro Histórico da cidade pode admirar monumentos dos séculos 18 e 19, entre eles, na Praça Minas Gerais, o prédio da sede do Legislativo, antiga Câmara e cadeia, ao lado das igrejas de São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo e em frente ao Pelourinho. No caminho até a Catedral da Sé estão o casario, ruas de pedra, chafarizes, o Colégio Providência e outros marcos arquitetônicos.

INICIATIVAS A criação do Dia de Minas obedeceu duas determinações. De acordo com informações da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a criação se deu com a Lei 7.561/1979, de autoria do deputado estadual Domingos Lanna, que se refere também à transferência simbólica da capital para Mariana. A instituição da data ocorreu em 19 de outubro daquele ano, a partir da sanção pelo então governador Francelino Pereira. Em 1997, houve a emenda de número 22 à Constituição Mineira, obra do parlamentar Sebastião Navarro.

As iniciativas em Mariana começaram bem antes da promulgação da lei, mais exatamente em 1977, durante a sessão alusiva ao 281º aniversário da cidade. Na época, o professor Roque Camêllo, integrante da Academia Marianense de Letras, Ciências e Artes, lançou a ideia de instituir o 16 de Julho, aniversário da cidade, como data cívica estadual. O projeto recebeu o apoio do então presidente da casa, historiador Waldemar de Moura Santos, acadêmicos, autoridades municipais e comunidade. Na sequência, a proposta foi entregue ao governo estadual e à Assembleia Legislativa.

Para homenagear Matias Cardoso, lei de 2011 estabelece 8 de dezembro como data da cerimônia - Foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press

RIO SÃO FRANCISCO
Distante 685 quilômetros de Belo Horizonte e última cidade da margem direita do Velho Chico, antes da divisa com a Bahia, Matias Cardoso tem seus primórdios em meados do século 17, sendo que a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição foi construída em 1664.
O secretário municipal de Cultura e Turismo, Luiz Mário Cardoso da Silva, revela que as pesquisas indicando Matias Cardoso como primeiro povoado de Minas foram feitas pelo antropólogo João Batista de Almeida, que fez pesquisas na Arquidiocese de São Paulo e Cúria Metropolitana de Salvador (BA).

“O bandeirante paulista Matias Cardoso de Almeida e seu pai, Januário, chegaram à região provenientes da Bahia, ao subirem o Rio São Francisco. Mais tarde, o primitivo povoado se tornou um grande polo comercial e de abastecimento da colônia”, afirma Luiz Mário. A emancipação do município de Manga ocorreu em 27 de abril de 1992 e, na década passada, surgiu um movimento para dar ao município o lugar que merece no panorama estadual. Dessa forma, em 2011, foi criado o Dia das Gerais por meio da Emenda Constitucional 89 e iniciativa do deputado estadual Paulo Guedes. A data escolhida foi 8 de dezembro, quando se comemora o Dia da Padroeira Nossa Senhora da Conceição.

 

PROGRAMAÇÃO

DIA DE MINAS

Quarta-feira, em Mariana

9h - Missa solene na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, celebrada pelo arcebispo metropolitano de Mariana dom Geraldo Lyrio Rocha

10h10 - Sineirata –durante 10 minutos, haverá toque de sinos nas igrejas de Mariana

11h - Início da cerimônia comemorativa do Dia de Minas, com assinatura do ato de transferência simbólica da capital do estado para Mariana, entrega de medalhas e pronunciamentos. Presença do governador de Minas Alberto
Pinto Coelho


Nossa história

LINHA DO TEMPO

1664 – Igreja de Nossa Senhora da Conceição é erguida em Matias Cardoso, na Região Norte. Em meados do século 17, vindos da Bahia, chegam à região o bandeirante Matias Cardoso de Almeida e seu pai, Januário

1696 – Em 16 de julho, o bandeirante Salvador Fernandes Furtado chega às margens do Ribeirão do Carmo e funda o Arraial do Ribeirão do Carmo, que deu origem a Mariana, na Região Central

1711 – Em 8 de abril, é criada a Leal Vila de Nossa Senhora do Carmo de Albuquerque, futura cidade de Mariana. Trata-se a primeira “vila do ouro” de Minas

1745 – Com a chegada do bispo dom Frei Manuel da Cruz, vindo do Maranhão, a primeira vila de Minas se torna cidade e também primeira diocese

1977 – Surge em Mariana a ideia da criação do Dia do Estado de Minas Gerais

1979 – Em 19 de outubro, governador Francelino Pereira sanciona Lei 7561, que institui 16 de julho como Dia de Minas. Em 1997, é feita emenda de número 22 à Constituição Mineira sobre a comemoração

2011 – Criado pela emenda constitucional 89 o Dia das Gerais, com a transferência simbólica da capital de Minas para Matias Cardoso em 8 de dezembro.