Para estrangeiros que ainda estão em Belo Horizonte, o confronto final entre Alemanha e Argentina provoca debates duríssimos nas mesas de bar e cafeterias da cidade. Uma verdadeira queda de braço de argumentos e ideias em torno do futebol foi travada nessa sexta-feira, em ambiente neutro, no Café Kahlua, na Região Central de BH, a convite do Estado de Minas. De um lado do ringue, estava o arquiteto argentino Nicolás Pecchio, o Nico, de 41 anos, que convoca os hermanos a rezar com o papa Francisco na torcida organizada do bar Che Nico, no Mercado das Borboletas. Do outro lado, a Alemanha de Bento XVI era representada por Udo Schmoll, de 73, que há 15 anos viaja a negócios a BH como gerente da companhia de máquinas pesadas Perkun. Escolheu a cidade para celebrar bodas de ouro com a mulher, Frida.
Na entrevista, o único consenso entre os estrangeiros em relação à Copa do Mundo era que, se pudessem escolher, os dois enfrentariam outro adversário no Maracanã. Nem Argentina, nem Alemanha. Ambos queriam jogar com o Brasil.
Neste ponto, Udo é da mesma opinião que o argentino. “Seria melhor encontrar o Brasil na final. Os brasileiros jogam com o coração e praticam o mesmo estilo bonito de futebol da Seleção Alemã. Já a Argentina joga mais pesado, para machucar”, compara Udo. Em relação à vitória de 7 a 1 sobre o Brasil, Udo diz ter ficado perplexo. “Sem Neymar, parecia que não era o Brasil que estava em campo”, define.
Apesar da rixa histórica entre Brasil e Argentina, Nico compartilha do mesmo sentimento que Udo. “O Brasil não vai deixar de ser Brasil e de ter nosso respeito por ter perdido de 7 a 1”, diz. Em relação à alfinetada do adversário alemão, Nico não poupa argumentos. “Jogar pesado não quer dizer jogar mal, sem técnica. Nesta Copa, nosso time não está jogando duro.
SEM GUERRA O alemão garante não querer saber de guerra nunca mais, quer seja em campo, quer seja nas trincheiras. Ele tinha apenas 5 anos na Segunda Guerra Mundial. Sua pequena cidade, Jserlohn, perto de Dortmund, terminaria arrasada. “Só se lembram dos judeus, mas os alemães também passaram muita dificuldade. Devemos muito aos ingleses, que nos ajudaram a reerguer”, conta Udo.
O argentino, entretanto, não tem a mesma impressão de Udo a respeito dos ingleses. Segundo ele, em função da disputa pelas Ilhas Malvinas, que permanecem sob domínio inglês, a maioria da população argentina usa o apelido de “piratas”. “É por isso que o gol de mão feito por Maradona contra a Seleção da Inglaterra significou tanto para nós. Foi uma trapaça, mas nem chegou aos pés do que os ingleses fizeram ao afundar um navio da Cruz Vermelha com mais de 600 argentinos a bordo”, comparou.
Para concluir a amistosa conversa, Udo fecha no placar de 3 a 2 para Alemanha e Nico considera que sua Seleção poderá ganhar a partida de 1 a 0, sem dar o vexame brasileiro. “Vamos enfrentar o melhor time da Copa e ainda temos o público contra nós. Depois de levar sete chicotadas nas costas, todos os brasileiros vão torcer para a Argentina perder”, resume.
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