De repente, ruas e praças começaram a ficar coloridas com camisas e bandeiras de dezenas de países em meio ao verde-amarelo.
» A Savassi foi o local de maior concentração de estrangeiros durante a Copa em BH, mas um grupo de torcedores colombianos optou por uma região que costuma escapar aos turistas. Cerca de 40 se hospedaram no Morro do Papagaio. Eles vieram para o jogo Atlético x Nacional de Medellín, pela Copa Libertadores, em maio, e decidiram ficar para o Mundial. Foram acolhidos por famílias do aglomerado e venderam bijuterias para pagar a estada de R$ 500 por mês.
» O engenheiro mecânico equatoriano Ernesto Veintimilla, de 31 anos, e o biólogo Andrés Verdezoto, de 30, moram em Loja, na fronteira de seu país com o Peru. A dupla fez um pitstop em BH antes de seguir para o Rio de Janeiro. Os dois pedalaram 7,3 mil quilômetros, sem cansaço. Em 23 de junho, já haviam percorrido quase 100km por dia desde 28 de março, depois de passar pela costa peruana, a Cordilheira dos Andes, Cuzco e o Lago Titicaca, até chegar ao Brasil.
» Ares do Bairro La Boca, em Buenos Aires, na Argentina, para a Praça da Savassi. Os irmãos Luan Diego Huerga, de 24 anos, e Araceli (foto), de 22, vestiram o figurino e dançaram um tango no point da Região Centro-Sul que mais recebeu turistas em BH. Eles encantaram visitantes com os passos da dança que mescla drama, paixão e sensualidade. Atraíram tantos olhares que provavelmente conquistaram o objetivo: assistir ao jogo da Argentina no Mineirão.
Bate e volta chinês
» O chinês Zhang Weig, de 43 anos, chegou a Belo Horizonte em 26 de junho, depois de 22 horas de viagem, e voltou para o outro lado do planeta dia 30, tendo assistido somente à partida entre Brasil e Chile, no Mineirão, durante sua passagem pelo Brasil. “Amo muito o futebol e queria ficar todo o torneio, mas não consegui férias nessa época. De qualquer forma, vim assistir a uma partida. Que bom ser um jogo do Brasil”, disse Zhang.
Pijama? Não, gandourah
» Quatro argelinos vestindo a gandourah, ou kamis, traje típico do país, chamaram a atenção no Bairro Funcionários, em BH. “Eles estão de pijama?”, perguntou o escultor Sérgio Pinto Júnior. Ao saber que se tratava de vestimenta tradicional, ficou orgulhoso. “É bom ver esse ar de globalização em BH por causa da Copa”, disse.
Um príncipe em BH
» Foram poucas horas, mas o príncipe Harry encantou os mineiros. Uma multidão compareceu ao Minas Tênis Clube (foto), no Bairro de Lourdes, Centro-Sul de BH, para ver de perto o quarto homem na linha de sucessão ao trono britânico. “Impressionado, ele perguntou por que havia tanta gente, se era só para vê-lo. Respondi que sim”, contou Luiz Gustavo Viana Lage, presidente do Minas. O motivo da visita real foi o convênio do clube mineiro com a British Olympic Association. O Minas vai abrigar atletas olímpicos e parolímpicos da Grã-Bretanha nos Jogos Olímpicos de 2016. Harry aproveitou a visita ao Brasil para ver seu time jogar pela Copa.
» A rota entre Salvador e Porto Alegre era para ter sido feita sem escalas em Minas. Mas holandeses que viajaram de ônibus para acompanhar os jogos da seleção tiveram que mudar o cronograma quando passaram por Betim, na Grande BH. Um problema mecânico no ônibus de dois andares, um modelo inglês da década de 1980, fez os 10 europeus, moradores de Amsterdã, pararem na BR-381, às margens do Bairro Jardim Teresópolis. Eles seguiram viagem pela rodoviária de BH e ficaram gratos pela ajuda que os betinenses deram.
Missas poliglotas
» A hospitalidade mineira foi muito além dos bares, restaurantes, hotéis e pontos turísticos. A maior tradição de Minas também abriu suas portas para os turistas: as igrejas. Templos promoveram, aos domingos, missas em diversos idiomas. Os estrangeiros ficaram satisfeitos e foram agradecer a Deus a oportunidade de conhecer o Brasil. As celebrações eucarísticas em espanhol, inglês, alemão e até em árabe fizeram parte da programação especial da Arquidiocese de Belo Horizonte. Os padres foram convidados pelos párocos e, geralmente, foram estrangeiros que já viviam em Minas.
Adeus ao relógio
» E o relógio da Copa tombou, na calada da noite, depois de quase três anos fincado na Praça da Liberdade. A grande ampulheta espelhada que fez a contagem regressiva de mil dias para o início do Mundial tornou-se, além de parte da paisagem, alvo constante dos manifestantes. Assim que o painel foi zerado, horas antes da estreia do Brasil, ele foi removido. Idealizado por Rene Salviano, empresário belo-horizontino que atua na área de marketing esportivo, o relógio foi levado para a sede da empresa de madrugada e, lá, ficou no chão.
Taxista de 4 copas
» Com o traje típico da Bavária – ele mora na cidade de Bad Tölz –, o taxista Matthäus Hammerl, de 70 anos, chamava a atenção ontem, na Savassi. Torcedor do Bayern, o simpático alemão, pai de três filhas e avô de quatro netos, assistiu à sua quarta Copa do Mundo. “Fui ao Japão e à Coreia, em 2002, depois vi as partidas no meu país, estive na África do Sul em 2010 e agora vim ao Brasil”, disse. Matthäus confidenciou que a melhor Copa foi a que ele não viu. “Foi a de 1970, no México, quando o Brasil ganhou”, revelou, balançando um cincerro dourado, usado como guia para bois e cabras.
Inhotim encantado
» “É o melhor museu do mundo. Nunca vi algo parecido”, afirmou, admirado, o norte-americano Danny Hoenig, de 56 anos, ao conhecer o Instituto Inhotim, em Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte. Desde o início da Copa, visitantes de mais de 20 nacionalidades passaram por lá – como as uruguaias Silvana D’Mikos e Patricia Rivero (foto). O centro de arte contemporânea costuma receber 20% de estrangeiros entre seus visitantes por dia. Das cerca de 3 mil pessoas que foram diariamente a Inhotim na primeira semana do Mundial, 60% moravam no exterior.
Selfies de passageiros
» Do banco de trás do táxi Siena de Leonardo Coimbra, de 39 anos, ingleses conheceram os bares da Savassi, colombianos viram sua Seleção vencer pela primeira vez no Mineirão, iranianos experimentaram quitutes do Mercado Central e argentinos viram as obras de Oscar Niemeyer na Pampulha. Com 20 anos de praça, Leonardo nunca tinha levado tantos estrangeiros em seu táxi. E ele fez questão de registrar pelo celular cada grupo de gringos que transportou. “Falei para eles (os estrangeiros) que ia fazer um álbum e todos concordaram em posar para a foto”, disse.