Jornal Estado de Minas

Volta às aulas e interdição da Pedro I serão teste de paciência para motoristas

Aumento da circulação de veículos com o fim das férias estudantis e interdição da Pedro I, onde viaduto desabou, desafiam milhares de motoristas e passageiros a partir de hoje

Jorge Macedo - especial para o EM
Junia Oliveira e Mateus Parreiras

 

Alça escorada do Viaduto Batalha dos Guararapes mantém a Avenida Pedro I fechada por tempo indeterminado e contribui para complicar o trânsito na retomada do ano letivo na capital - Foto: Paulo Filgueiras/EM DA Press

A volta às aulas hoje, depois das férias durante a Copa do Mundo, é um teste de fogo para o trânsito e de paciência para a população com o aumento de veículos em circulação em Belo Horizonte. Um esquema especial vai controlar o tráfego na porta de 40 escolas até sexta-feira. Mas o maior desafio para motoristas e passageiros será no entorno da Avenida Pedro I, um dos principais acessos ao Vetor Norte, interditada desde o dia 3 por causa do desabamento do Viaduto Batalha dos Guararapes, que matou duas pessoas. A expectativa é de congestionamentos a partir de hoje para quem mora ou precisa passar pela região, já que a via está fechada por tempo indeterminado. Somente na região central da capital são 10% a mais de veículos em circulação, num total de 500 mil diariamente. Para especialistas, os transtornos serão maiores ainda no início de agosto, com a volta das universidades e de quem tirou férias neste mês.

Veja fotos da volta às aulas e trânsito nesta segunda


Os bloqueios da BHTrans vão da altura da Avenida Desembargador Milton dos Reis, no Planalto, à Avenida Cristiano Machado, em Venda Nova, e têm causado sobrecarga nas vias dos bairros que circundam a Pedro I. O mesmo ocorre na Cristiano Machado. A empresa de trânsito manteve os desvios para escoar o tráfego da região de Venda Nova, que estão valendo desde o dia do desabamento.



Quem precisa passar na região está apreensivo. A ida ao trabalho ficou mais longa, por exemplo, para a motorista profissional Virgínia Flávia Lisboa Santiago, que mora no Bairro Itapoã, na Pampulha, e usava a Pedro I para chegar à Savassi. A solução que ela encontrou foram caminhos alternativos que a fazem chegar à congestionada Cristiano Machado. “O problema maior não é o trabalho, porque para isso posso acordar mais cedo, mas buscar minha filha na escola. Por causa desse caminho e do trânsito que está muito carregado, vamos atrasar pelo menos meia hora todos os dias”, diz. Quem não gostou nada disso é a Maria Clara da Silva Lisboa Santiago, de 9: “Ir para a escola não tem problema porque ela fica ao lado de casa, mas me buscar vai demorar. Já estou me preparando. Muitos colegas devem ter o mesmo problema”.

A volta para casa, que sempre foi demorada, deve ser ainda mais complicada para o conferente José Luiz de Assumpção Júnior, de 24, que trabalha na Pedro I e mora em Venda Nova. A piora ocorre porque a interdição da avenida sobrecarregou o trânsito no itinerário do ônibus que ele pega. “Uso sempre o Move e a travessia pelo viaduto (que cruza a Pedro I para Venda Nova) tem ficado carregada de carros. O semáforo na parte baixa segura muito e por isso poucos veículos passam por vez. Serão dias de muita paciência”, afirma.

Consultores de trânsito acreditam que o problema só não será maior porque existe ainda um contingente considerável de estudantes de férias – universidades só voltam mês que vem – e de trabalhadores que aproveitaram para sair de folga nesta segunda quinzena.
“Até o fim do mês, não teremos o fluxo normal. Então, aquele tráfego que conhecemos vai demorar um pouco a se efetivar. E tudo vai depender, a partir de hoje, de como a BHTrans vai direcionar esses problemas”, avalia o mestre em transportes e consultor técnico da Locale TT, Paulo Monteiro.

O engenheiro e consultor de trânsito Silvestre Andrade também acredita que os transtornos aumentarão no mês que vem. “A perspectiva é de muito congestionamento na cidade e principalmente na região da Pedro I a partir de hoje, mas não na mesma intensidade”. Segundo ele, quando houver condições de segurança, será importante liberar pelo menos a pista central da avenida, para que o Move volte a circular no corredor exclusivo e dê mais mobilidade à maioria da população, que depende do transporte coletivo.”

'O problema maior é buscar minha filha na escola. Por causa do trânsito carregado, vamos atrasar pelo menos meia hora todos os dias', Virgínia Flávia Lisboa Santiago, motorista profissional - Foto: Andrade orienta a motoristas que vão percorrer distâncias pequenas a usar os desvios do entorno da Pedro I e quem precisa ir mais longe a passar pela Cristiano Machado para minimizar o transtorno. “Não tem muita alternativa, pois essa é uma questão de segurança que está em jogo. Devemos entender a situação como momentânea. Se não foram tomadas cautelas ou se elas não foram suficientes (para o desabamento), que se evitem problemas piores. É um preço barato a pagar: trocar o congestionamento pela segurança.”

ESCOLAS Agentes da BHTrans, Polícia Militar e Guarda Municipal controlarão o trânsito na porta de 40 escolas de vários bairros até sexta-feira.
A operação pretende conscientizar motoristas e pedestres sobre a importância de adotarem atitudes seguras. São 469.255 estudantes das redes estadual, municipal e particular retornando às escolas na capital. No estado, são mais de 2 milhões de estudantes retornando às 3.674 escolas estaduais. Pelo calendário escolar, as aulas vão até 19 de dezembro.

Nas três redes de ensino, alunos estão tendo aulas aos sábados para cumprir a carga horária obrigatória de 200 dias letivos e compensar os 15 dias a mais de férias no meio do ano. Tradicionalmente, as férias ocorrem na segunda quinzena de julho, mas foram alteradas por causa da Copa.

O presidente da Associação de Pais e Alunos de Minas Gerais, Nilo Furtado Teodoro, acredita que essa opção foi prejudicial: “Em muitas escolas está havendo apenas reposição das horas que seriam dadas, com atividades extracurriculares, não há conteúdo”. Segundo ele, os únicos jogos que interessavam eram os do Brasil, não era necessário ter parado tudo. “Embora eu acredite que a motivação maior tenha sido o medo das manifestações, agora, alunos e pais continuarão a fazer esse sacrifício.”

Para o presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), Emiro Barbini, a pausa foi a melhor solução: “Valeu a pena porque teríamos aulas muito picadas e, pedagogicamente, seria ruim para os alunos. Agora, é retomar o ritmo de estudos e da vida normal”.

 

 

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