Mais um integrante do Bando da Degola, grupo que ficou conhecido por extorquir e assassinar, com requintes de crueldade, dois empresários em abril de 2010, no Bairro Sion, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi condenado. O garçom norte-americano Adrian Gabriel Grigorcea pegou 30 anos de prisão. Ele foi sentenciado por homicídio qualificado e formação quadrilha.
O juiz Glauco Soares, que coordenou os trabalhos, determinou a pena de 14 anos de reclusão para cada um dos crimes de homicídio qualificado. Por formação de quadrilha, o réu foi sentenciado a 2 anos. O conselho de sentença absolveu o garçom pelos crimes de extorsão e ocultação de cadáver.
Fabiano Ferreira Moura, 36 anos, e Rayder Santos Rodrigues, de 39 foram mortos dentro do apartamento e, para dificultar a identificação, o grupo decapitou e retirou os dedos das vítimas. Os membros foram enrolados em lonas plásticas e queimados numa estrada de terra em Nova Lima, Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Três envolvidos nos crimes brutais já foram condenados. O ex-estudante de direito Frederico Flores, apontado como líder do grupo, está condenado a 39 anos de prisão por de homicídio, ocultação de cadáver, extorsão, formação de quadrilha, sequestro e cárcere privado. O ex-estudante, Arlindo Soares Lobo, foi sentenciado a 44 anos de reclusão e o ex-policial, Renato Mozer, condenado a 59 anos.
O garçom seria julgado junto com o ex-cabo da Polícia Militar, André Luiz Bartolomeu, envolvido no mesmo crime. Porém, o juiz iniciou a sessão dizendo que o processo seria mais uma vez o desmembrado. O pedido foi feito pelo advogado do ex-policial que alegou pouco tempo para se preparar para o júri. O magistrado Glauco Soares Fernandes marcou o julgamento de Bartolomeu para 29 de janeiro de 2015.
Depois do pedido da defesa do ex-pm, o juiz deu início ao júri. O conselho de sentença foi sorteado e foi formado por cinco mulheres e dois homens. Todas as testemunhas foram dispensadas pela defesa e acusação.
Réu diz que foi ameaçado por Frederico Flores
Em depoimento, que durou aproximadamente duas horas, o garçom insistiu em dizer que foi obrigado por Frederico Flores, apontado como o líder do grupo e que já foi condenado pelo crime, a participar dos homicídios de Fabiano Ferreira Moura, 36 anos, e Rayder Santos Rodrigues, de 39. Quando questionado pela promotoria, confessou a participação na trama macabra, mas afirmou que foi forçado pelo líder da quadrilha.
O réu Adrian Grigorcea era sogro de Rayder e o atraiu ao apartamento, onde o empresário foi morto.
Grigorcea ainda deu detalhes, que já constam no processo, sobre o que aconteceu no apartamento. Contou na sessão do júri que as vítimas ficaram amarradas, aparentemente dopadas e sob a vigília dos policiais envolvidos no crime. O garçom apontou um dos militares como executor de Fabiano, morto supostamente por sufocamento em um banheiro. O réu também relatou que viu Flores esfaquear Rayder na sala do imóvel.
Conforme o acusado, Flores dançou sobre os corpos comemorando o crime. Logo depois, os militares cortaram as cabeças e dedos dos empresários.
Debates
O representante do Ministério Público, promotor Francisco de Assis Santiago, foi quem iniciou os debates. Durante aproximadamente uma hora e 15 minutos, ele afirmou que a participação de Adrian foi a mais importante para que o crime ocorresse, pois foi ele quem apresentou uma das vítimas a Frederico Flores. O réu e o líder do bando se conheceram no restaurante onde o garçom trabalhava.
O promotor salientou que Adrian sabia dos negócios ilegais de Rider, que era amante de sua filha, e contou para Frederico. Os trabalhos ilícitos foram as causas do motivo da extorsão, conforme Santiago. O magistrado enfatizou que o acusado participou ativamento do crime em vários momentos.
Conforme o promotor, Rider, um dos empresários, foi espontaneamente ao local do crime em confiança ao convite de Adrian. Por fim, Francisco Santiago reconheceu que o garçom não participou do crime de ocultação de cadáver e pediu a condenação pelos crimes de homicídio qualificado, sequestro e cárcere privado, extorsão e formação de quadrilha.
Em seguida, foi a vez do advogado Hudson de Oliveira Cambraia, que defende o réu, fazer as explanações. O defensor afirmou que Adrian se sentia ameaçado por Frederico Flores, que usava policiais militares como seguranças. Ele disse que o garçom não tinha liberdade no apartamento onde aconteceu os assassinatos, mesmo sem estar algemado. Conforme Cambraia, o réu estava “mentalmente aprisionado”.
O advogado falou que não estava caracterizado o crime de formação de quadrilha, pois Adrian também era vítima da coação de Frederico e dos policiais.