(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

"Nasci de novo", diz sobrevivente de explosão em fábrica de fogos

Quatro funcionárias não tiveram tempo de sair do galpão e morreram. Polícia Civil vai investigar o que causou acidente em Santo Antônio do Monte, no Centro-Oeste de Minas


postado em 16/07/2014 06:00 / atualizado em 16/07/2014 07:19

Peritos da Polícia Civil retiraram os corpos do que sobrou do barracão da fábrica. Sobrevivente disse que fogo começou em bombas já prontas(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Peritos da Polícia Civil retiraram os corpos do que sobrou do barracão da fábrica. Sobrevivente disse que fogo começou em bombas já prontas (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Era por volta de 7h30 quando a terra tremeu em Santo Antônio do Monte, na Região Centro-Oeste de Minas. Uma explosão em um dos barracões da empresa Fogos Globo, de fogos de artifício, matou quatro funcionárias e deixou outro empregado ferido, além de assustar os moradores e pessoas que trabalhavam perto. A Polícia Civil, que comanda um inquérito em fase de conclusão referente a um acidente em outra fábrica de fogos em 2013, vai apurar o caso.

Elenilton Gonçalves, de 19 anos, viu o fogo começando e gritou para as funcionárias fugirem. Elas estavam em uma área interna do barracão e ele, do lado de fora, carregando e descarregando bombas para secagem. Morreram na hora Daiana Cristina Maciel, de 25, Maria José da Soledade Campos, de 27, Maria das Graças Gonçalves Siqueira, de 42, e Marli Lúcia da Conceição, de 39. Elenilton teve três queimaduras nas costas graças a estilhaços que o atingiram e ficou em estado de choque. Ele foi atendido em um hospital de Santo Antônio do Monte e até o fechamento desta edição permanecia em observação por ter inalado fumaça e outras substâncias tóxicas.

Para a namorada dele, Patrícia Alves de Carvalho, de 24, que também trabalhava na empresa no momento do acidente, Elenilton contou que retirava bombas que já estavam prontas. “Ele percebeu que o fogo começou e causou uma explosão naquele conjunto de bombas que ele trabalhava”, disse Patrícia. Ela contou ainda, segundo relato feito pelo namorado, que em uma fração de segundo o fogo atingiu o barracão, sem dar chance para que as quatro funcionárias escapassem. “Ele gritou muito para as pessoas correrem e ainda ajudou outras duas que estavam em um barracão próximo”, acrescentou. “Meu barracão balançou e foi um alerta geral para todos deixarem suas funções”, disse.

O namorado, natural de Peçanha, na Região Leste de Minas, disse que não quer mais saber de trabalhar na fábrica. “Ele só fala em voltar para a família e esquecer fogos de artificio”, completou. Segundo um dos funcionários da empresa Fogos Globo, que compareceu à Polícia Civil para auxiliar com informações sobre as vítimas, o local que ficou destruído era destinado à bicação de bombas numeradas, artefatos comuns em comemorações esportivas. O procedimento consiste em usar pólvora líquida para garantir que o bico da bomba fique semelhante à cabeça de um palito de fósforo.

Polícia Civil vai investigar o que causou acidente em Santo Antônio do Monte, no Centro-Oeste de Minas (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Polícia Civil vai investigar o que causou acidente em Santo Antônio do Monte, no Centro-Oeste de Minas (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Investigação

O delegado titular de Santo Antônio do Monte, Lucélio Silva, afirmou que é o segundo caso em dois anos que ele está trabalhando na cidade. “Estamos concluindo o inquérito dessa primeira situação e vamos investigar o que aconteceu hoje (ontem). A perícia de Bom Despacho esteve no local para colher os elementos necessários e também auxiliarmos na remoção dos corpos”, disse. O policial afirmou que cabe ao Exército Brasileiro a fiscalização desse tipo de empreendimento.

A seção de comunicação da 4ª Região Militar do Exército informou que a empresa Fogos Globo, que tem mais de 40 anos de atuação no mercado, passou por inspeção em março deste ano, quando não foi encontrada qualquer irregularidade, incluindo os pavilhões 85 e 86 que explodiram ontem. O Exército mantém um posto avançado na cidade por causa da quantidade de fabricantes de fogos de artifícios no município. À corporação cabe o acompanhamento de produtos controlados, incluindo explosivos, do tipo usado como matéria-prima nas fábricas de Santo Antônio do Monte.

Segundo o órgão, caso a perícia da Polícia Civil e as investigações apontem irregularidades, como o mal acondicionamento de explosivos ou a superlotação dos produtos, a empresa sofrerá as sanções previstas na legislação, como o descredenciamento, pelo Exército, para o exercício da atividade.

 

Parentes ficaram em estado de choque

“Nasci de novo. Só pensei no meu marido e nos meus filhos o tempo todo. Isso é coisa de Deus, só ele explica”, disse Bernadete Auxiliadora da Silva, de 38 anos, uma das funcionárias da empresa. Ontem, ela sentiu-se mal e não foi trabalhar, por isso, estava aliviada por ter se salvado. Mas a dor veio pela morte da cunhada, Maria das Graças Gonçalves Siqueira, de 42. Seu marido e irmão de Maria das Graças, Edson Gonçalves, de 39, parecia não acreditar no que estava acontecendo. “Não tem explicação. De um lado, vai minha irmã, e, de outro, se salva minha mulher”, desabafa. Maria das Graças, mãe de dois filhos, natural de Cantagalo, no Vale do Rio Doce, e era funcionária da fábrica há cerca de dois anos.

Na casa de Maria José da Soledade Campos, de 27, nascida em Maceió (AL), o clima não era diferente. A tristeza tomou conta principalmente de seu irmão, José Marcelo Campos, de 28, com quem ela morava. “O serviço sempre foi arriscado. Ela ia, mas nunca sabia se ia voltar. Deixou uma filha de 3 anos”, disse. Quem ajudou nos trâmites para a liberação do corpo de Daiana Cristina Maciel, de 25, foi seu ex-marido, Gilberto Damasceno Leite, de 26. A família da jovem mora em Virginópolis. “Viemos há cinco anos para trabalhar. Quando ouvi o estouro, abri a janela da minha casa e já fiquei louco.”

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Fábricas de Fogo de Artifício de Santo Antônio do Monte, Lagoa da Prata e Itapecerica, Antônio Camargos dos Santos, disse que a empresa é séria, mas pode ter ocorrido alguma falha e o trabalho de investigação deve ser bem feito. A empresa não foi encontrada para falar sobre o assunto. (GP)


Três perguntas para...


Patrícia Alves de Carvalho, namorada de Elenilton


1 - O que aconteceu na hora da explosão?


O Elenilton contou que estava descarregando as bombas que já estavam prontas em uma caixa quando percebeu que começou a pegar fogo provavelmente do contato entre duas delas. Ele correu, gritou para todo mundo sair do barracão, pulou em um barranco e ainda ajudou pessoas que estavam em um dos pavilhões ao lado. O fogo atingiu a casa e em pouco tempo tudo explodiu.

2 - Deu para perceber no local que você estava?

Sim, foi um estrondo tão forte que balançou o meu barracão, onde trabalho na parte de cores dos fogos. Eu tinha acabado de tomar café. Houve um alerta geral para todos deixarem suas funções e todo mundo subiu, com medo de que a explosão pudesse fazer mais vítimas.

3 - Como seu namorado ficou?

Ficou em estado de choque, muito triste com tudo que aconteceu. Disse que quer voltar para a sua cidade natal, Peçanha, e nunca mais aparecer por aqui. Ele quer ficar junto da família.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)