A Polícia Civil recuperou na tarde de ontem a carga de telefones celulares, avaliada em quase R$ 2 milhões, roubada na terça-feira na BR-381, em Brumadinho, na Grande BH. No caminhão-baú para onde foram transferidas as mercadorias, os policiais encontraram um equipamento conhecido como jammer, usado para bloquear o sinal do sistema de rastreamento instalado no carregamento, dificultando sua localização. Além de revelar o grau de sofisticação das quadrilhas que atuam no estado, a ocorrência chama a atenção para a insegurança nas rodovias mineiras. De janeiro a junho deste ano, foram 141 casos de roubo de carga em BRs, um a cada 31 horas, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Nas estradas estaduais, as ocorrências vêm aumentando: nos primeiros quatro meses deste ano, houve uma a cada 64 horas, contra uma a cada 84 horas em 2013, conforme dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). Os números são considerados altos pelo sindicato das transportadoras.
A carga de celulares roubada foi encontrada em um caminhão-baú Iveco de cor branca, com placa de Santa Luzia, na Grande BH, possivelmente clonada. Os policiais da Delegacia de Repressão ao Furto e Roubo de Cargas (6ª Deroc/Deoesp) localizaram o veículo parado em um posto de combustíveis em Contagem. Quando um motorista saiu com veículo em direção à BR-040, sentido Sete Lagoas, policiais em quatro viaturas descaracterizadas começaram a segui-lo, segundo o delegado Marcus Vinícius Lobo.
Dentro do caminhão-baú, levado para a sede da Deroc em Belo Horizonte, além das mercadorias, foram achados dois coletes à prova de balas, uma escopeta e munições. Não foi encontrada nenhuma documentação, nem sequer falsificada, o que leva a polícia a acreditar que a carga seria deixada em algum sítio da região de Esmeraldas antes do posto fiscal de Sete Lagoas. Marcos Vinícius Lobo evitou dar detalhes sobre a quadrilha, mas a polícia já sabe que pelo menos cinco pessoas participaram do ataque ao caminhão com os celulares, que era escoltado por dois vigilantes. Depois de rendidas, as vítimas foram abandonadas em Contagem.
Roubos como o ocorrido na BR-381 são frequentes no estado. Segundo a Seds, houve 45 ocorrências nas rodovias estaduais de janeiro a abril de 2014, pouco menos da metade das 104 registradas em todo o ano passado. Em poucos casos a polícia consegue recuperar as cargas. Dos 141 crimes ocorridos no primeiro semestre nas BRs, por exemplo, em apenas 18 os bens foram localizados.
Há pelo menos seis trechos de estradas em que bandidos atuam com frequência. Segundo o delegado Hugo Arruda, na Grande BH os crimes são comuns na BR-040, sentido Sete Lagoas, e na BR-381 em Contagem. Na BR-116, há mais ocorrências entre os municípios de Manhuaçu e Governador Valadares, com a ação de muitas quadrilhas do Espírito Santo. Na BR-381, em Extrema, no Sul de Minas, quem age são grupos criminosos paulistas.
Eletrônicos
Entre os tipos de carga mais visados pelos bandidos estão os produtos eletrônicos, em carregamentos que costumam valer pelo menos R$ 250 mil. As cargas de cigarro têm valores de R$ 200 mil a R$ 500 mil, em geral, e normalmente são roubadas em um raio de 100 quilômetros da capital. Os carregamentos de bebida (cerca de R$ 50 mil, em média) costumam ser alvo de quadrilhas na Grande BH, enquanto os de derivados de petróleo (R$ 70 mil) atraem criminosos na Zona da Mata e na BR-040, entre Curvelo e Brasília. O valor médio mais alto (R$ 500 mil) é o de cargas de grãos e insumos agrícolas que são atacadas no Triângulo. “As quadrilhas são grandes e compartimentadas, com funções divididas por grupo. O desafio é prender o chamado “intrujão”, que é o elo entre os grupos da quadrilha”, explica Arruda.
O número de ocorrências mostra que os bandidos estão cada vez mais “preparados”, na avaliação de Luciano Medrado, do Grupo Técnico de Segurança do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de Minas (Setcemg). “As quadrilhas são altamente organizadas e especializadas, estão à nossa frente”, aponta. Ele diz que a região mais problemática é o Triângulo Mineiro. “Lá, há muitos atacadistas e há facilidades para a fuga, por ficar entre o Centro-Oeste e São Paulo”, diz.
Em 2013, os valores das mercadorias roubadas no estado somaram cerca de R$ 150 milhões, estima Medrado.