Jornal Estado de Minas

Equipamento de dessalinização põe fim a drama da falta d´água em município alagoano

Concentração de sal no lençol freático de Cacimbinhas é alta. Equipamento torna potáveis 5 mil litros por dia

Mateus Parreiras

A água dessalinizada chega aos moradores por meio de chafarizes - Foto: Mateus Parreiras/EM/D.A/PRESS

Cacimbinhas (AL) – Mesmo com água no fundo do solo arenoso do sertão, a sede sempre assolou os pouco mais de 600 habitantes da comunidade de Timbaúba, no município alagoano de Cacimbinhas, a 177 quilômetros de Maceió. A concentração de sal no lençol freático é tão alta que ninguém bebe o líquido que verte dos poços perfurados. Mas a situação de desabastecimento começou a mudar com a instalação, na comunidade, de um equipamento de dessalinização doado pelo Programa Água Doce, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que permite tornar potáveis 5 mil litros por dia. O projeto, que usa a água salgada que sobra do processo para outros fins, como criação de peixes e irrigação de vegetais para pastagem de caprinos, será implantado até o fim do ano em 69 comunidades do semiárido de Minas Gerais.

Acordo entre a Copasa, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional, Política Urbana e Gestão Metropolitana (Sedru) e o MMA, no valor de R$ 15 milhões, vai trazer a iniciativa a 20 municípios mineiros. Os primeiros dessalinizadores estão previstos para comunidades de Araçuaí, Divisa Alegre, Espinosa, Francisco Badaró, Itinga, Jacinto, Jordânia, Mamonas, Manga, Mato Verde, Monte Azul, Ninheira, Pai Pedro, Porteirinha, Rubelita, Rubim, Salinas, Santa Cruz de Salinas, São João do Paraíso e Serranópolis de Minas.
O dessalinizador funciona por uma técnica chamada osmose inversa, na qual membranas separam a quantidade indesejada de sal e deixa a água boa para o consumo. Para o processo ser viável, o poço precisa ter vazão mínima de 3 mil litros diários. O líquido que sobra, com alta concentração de sal, é reraproveitado.
Uma das formas é levá-lo para tanques de criação de peixes, como tilápias, com tolerância ao ambiente salino.

A água removida dos tanques serve ainda para irrigar um vegetal conhecido como erva-sal, planta que também se desenvolve absorvendo sal. Moída com milho, sorgo e capim, pode ser estocada para alimentar cabras na época de seca. “Nosso principal objetivo é garantir água aos sertanejos. O aproveitamento dos rejeitos é o recurso que garante sustentabilidade no processo, de forma a garantir outras opções de renda e alimentação às comunidades”, disse o coordenador nacional do Programa Água Doce, Renato Ferreira.

FILTROS A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, foi à inauguração do projeto em Timbaúba e não escondeu o entusiasmo. “Com um investimento de US$ 200 por pessoa conseguimos criar essa estrutura e garantir água de qualidade. A previsão do MMA é que 1,2 mil poços com filtros sejam instaladas em todo o semiárido brasileiro até 2019, beneficiando 2,5 milhões de pessoas. Segundo a Sedru, as licitações nas 69 comunidades mineiras estão previstas para ocorrer em breve. O critério em Minas para as parcerias foi priorizar comunidades em municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), baixo índice de chuvas, ausência ou dificuldade de acesso a outras fontes de abastecimento de água potável, grande índice de mortalidade infantil e maior concentração de cloretos na água.

Onde o sistema funciona, os relatos dos sertanejos são de alívio. Cada vez que a seca castigava os alagoanos de Timbaúba era um drama. “Primeiro, a gente buscava água nos córregos. Depois, tínhamos de ir às barragens. Só que elas iam secando e a gente andava mais um quilômetro, mais outro  e outro com o pote na cabeça”, diz a lavradora Irani Maria Terezinha da Silva, de 52.
Para ter água potável para os cinco filhos e dois netos, ela fazia várias viagens ao dia.

Nas secas mais rigorosas, a família arriscava até a segurança. “A gente saía de madrugada e ia até a tubulação de água do Rio São Francisco (usada para abastecer a cidade de Cacimbinhas) e fazia um furo nela. Era perigoso, porque a polícia prendia quem furasse o cano”, lembra Terezinha. A água agora sai o ano inteiro das torneiras instaladas num chafariz montado perto dos tanques de tilápias. “A gente não se preocupa mais com a sede.” O agricultor Reginaldo de Amorim Dias, de 26, conta que as coisas melhoraram muito para a família. “Tenho três filhos e mulher e não podia deixá-los morrer sede. Agora, temos peixes para comer e pasto para engordar as cabras.

*O repórter viajou a convite do Ministério do Meio Ambiente

 

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