Jornal Estado de Minas

Desvios da Pedro I causam transtornos a moradores e comerciantes

Desde a interdição da avenida com a queda do viaduto, milhares de veículos passam por trajetos alternativos. Liberação da via continua indefinida

Tiago de Holanda Guilherme Paranaiba

Trânsito já começa a ficar complicado no início do desvio no sentido centro-bairro, quando os veículos deixam a Pedro I para entrar no Viaduto João Samanha - Foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press


Duas semanas depois da queda de uma alça do Viaduto Batalha dos Guararapes, na Avenida Pedro I, ainda não existe prazo para liberação do trânsito na via, que liga a Pampulha à Região de Venda Nova e dá acesso ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH. O desvio de milhares de veículos está causando transtornos e prejuízos para moradores e comerciantes das ruas e avenidas que viraram rotas alternativas. As alterações, por outro lado, reduziram drasticamente o tráfego em algumas vias, incluindo um trecho da própria Pedro I e deixaram casas e empresas quase ilhadas.

Das vias usadas para desvio dos carros que acessam a Pedro I, a Rua Dr. Álvaro Camargos, no Bairro São João Batista, em Venda Nova, é a que teve o tráfego mais intensificado. Entre a Rua João Samaha e a Avenida Vilarinho, ela recebe tanto veículos que seguem no sentido Centro-bairro quanto aqueles que fazem o caminho inverso. Para piorar, a maior parte do trecho tem faixas simples nas duas mãos, o que provoca muita lentidão, especialmente nos horários de pico. Na maior parte do dia, o trânsito é mais pesado em direção ao Centro. A partir das 16h, os congestionamentos passam a atingir também o lado oposto, começando já na Pedro I.

Os engarrafamentos na Álvaro Camargos atrasa o deslocamento de Ataíde Lacerda, de 50 anos, dono de uma serralheria na esquina com a Rua Augusto Rocha.
Antes do desabamento do viaduto, ele cumpria em aproximadamente 20 minutos o trajeto entre sua casa, em Lagoa Santa, na Grande BH, e a empresa. Desde o início do desvio, o tempo aumentou para cerca de uma hora, segundo ele. “Eu costumava abrir a oficina às 8h. Agora, abro às 8h40 ou às 9h”, diz. Quando termina o expediente, às 18h, ele espera o trânsito diminuir para ir embora. Os transtornos reduziram o rendimento da serralheria em 30%, estima. “Os clientes se sentem desencorajados em vir”.

Em um apartamento no primeiro andar do mesmo prédio da empresa de Ataíde, mora Maria da Cruz de Sousa, de 66. “O barulho dos carros aumentou muito”, queixa-se. O maior incômodo, porém, é outro. Toda manhã, a aposentada faz sessões de hidroginástica em uma academia no Bairro Planalto, na Região Norte. Para chegar lá, ela tomava apenas um ônibus da linha 65 em um ponto na Álvaro Camargos. “Mas ele parou de passar nessa rua. Tenho de pegar o 608 até a Estação Venda Nova e só lá pego o 65.
Antes, eu chegava na academia às 9h. Agora, chego às 9h30, 9h40”, diz.

Outra via cujo tráfego aumentou bastante com os desvios foi a Rua das Melancias, no Bairro Planalto, que recebe carros que seguem no sentido Centro/Bairro. “O trânsito aqui já era intenso, mas piorou muito desde o desabamento. Tem hora em que fica tudo engarrafado, sobretudo às 17h30, 18h. Nesse horário, evito sair”, afirma José Carlos dos Santos, de 81, que mora em casa na rua. “Para tirar o carro da garagem, preciso esperar cinco ou 10 minutos até um motorista abrir caminho. Às vezes, o jeito é forçar a passagem”, conta. Ele também reclama da sujeira gerada pelo fluxo quase ininterrupto de veículos: “As paredes da casa ficam ‘pichadas’ com poeira e fumaça”.

Reclamações

Enquanto uns reclamam do grande volume de carros, outros lamentam a falta deles. A loja de vidraçaria automotiva de André Venturato de Souza funciona na Rua João Samaha, em um trecho estreito ao lado do viaduto de ligação com a Pedro I. O problema é que essa parte da via receberia somente veículos que seguiriam pela avenida no sentido bairro/Centro, função suspensa desde a interdição.



Agora, quem quiser chegar à empresa de André e às edificações vizinhas precisa transitar pela avenida no sentido Centro/bairro, acessar o viaduto e, pouco antes de chegar à Álvaro Camargos, fazer uma curva de 180 graus à esquerda, manobra arriscada. “Essa dificuldade fez o movimento cair 70%. Alguns clientes me telefonam, confusos, e eu explico que podem pegar a contramão. Até os fornecedores se atrapalham”, diz André.

A lanchonete de Anderson Alair, no térreo de um edifício comercial na esquina da Pedro I com a Rua Moacyr Froes, é outro endereço que ficou quase ilhado. Os clientes se reduziram aos demais ocupantes do prédio e aos de outras edificações vizinhas, além de operários que trabalham nas obras do viaduto. “As vendas caíram 90% com a redução do número de veículos e, às vezes, levo para casa os salgados que sobram”, conta.

Por outro lado, o trânsito intenso nas vias do entorno prejudica o negócio. “Eu saio de casa, no Bairro Maria Helena (Venda Nova) às 5h30. Antes, chegava às 6h. Agora, chego por volta das 6h50. Os funcionários também sempre se atrasam”, constata. Um dos que não conseguem chegar na hora é a gerente Carla Passos, de 36. “Antes, meu ônibus parava na Pedro I, a menos de um quarteirão daqui. Do novo ponto para cá, eu ando 15 minutos”, queixa-se.

Para fugir de congestionamentos, a BHTrans orienta os condutores a buscar caminhos alternativos, como as avenidas Cristiano Machado, Portugal e Olimpio Mourão Filho.

Liberação da Pedro I depende de 5 ações
Pelo menos cinco medidas no entorno do Viaduto Batalha dos Guararapes, que caiu há duas semanas na Avenida Pedro I, entre os bairros Planalto (Norte) e São João Batista (Venda Nova), ainda precisam ser concluídas para que o trânsito seja liberado. O aval da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) somente será dado após o término do escoramento metálico da alça que ficou em pé, da implantação da sinalização completa no pavimento, da lavagem das pistas, da conclusão das áreas de segurança para a circulação de pedestres e da preservação da área de segurança para os trabalhos da perícia.

Segundo o coronel Alexandre Lucas, coordenador da Comdec, esses trabalhos precisam estar 100% concluídos para que tudo volte a funcionar da melhor forma possível, sem riscos de novos acidentes e com segurança para quem continuará trabalhando no trecho. Os esforços se concentram para dar condições de circulação ao sentido Centro/bairro das pistas mistas e exclusivas para o BRT/Move, além da busway no sentido bairro/Centro.

As faixas destinadas aos veículos comuns em direção ao Centro ainda dependem de outras intervenções. Carros e ônibus que seguiam dos bairros ao Centro transitavam no mesmo espaço por meio de desvios feitos pela BHTrans.

Uma das ações mais importantes é o escoramento da alça do viaduto que permanece sem alterações, conforme monitoramento diário. “Essa medida serve para proteger a estrutura da trepidação causada pela passagem de veículos e também para possibilitar os trabalhos nos pilares, pois eles terão que ser vistoriados antes da retirada do escoramento”, informa o coronel.

Peritos continuam trabalhando no local, mas ainda não descobriram a causa do afundamento de um dos pilares em cerca de seis metros. O delegado Hugo e Silva, responsável pelo inquérito, já tomou o depoimento de 43 pessoas, entre engenheiros, funcionários da obra e vítimas do acidente que matou duas pessoas.

 

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