Aline foi aprovada no programa federal “Ciência sem fronteiras”. As últimas semanas foram de batalha para conseguir que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – agência governamental vinculada ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) – reconhecesse a condição especial da jovem.
Logo depois da boa notícia, na quarta-feira à noite, Aline escreveu nas redes sociais: “Fiquei feliz também em saber que minha história serviu para abrir portas a outros deficientes, para que a inclusão seja efetiva! Nunca desista dos seus sonhos, pois somos fortes e suficientes para alcançá-los!”. Na mensagem, a estudante de biologia da PUC Minas agradece a mobilização de amigos e estranhos, unidos em favor de sua família. “Senti que ainda há pessoas boas neste país. Houve pessoas de outros estados que se disponibilizaram a ajudar e fiquei imensamente grata."
Aline, para quem a conhece bem, é modelo de dedicação e força. Mas nem só de livros vive a cadeirante, estudiosa que só ela. “Também gosto de balada”, revela. Conta que não perdeu uma só festa na Savassi durante a Copa do Mundo. No point dos estrangeiros, em BH, ela fez amizades e se divertiu com a turma do Colégio Santa Maria – instituição na qual concluiu o ensino médio – e com os amigos da graduação. Peralta, já deu até alguns “perdidos” na mãe. “É que tem lugar que, se digo a ela que vou, ela não deixa”, diverte-se.
Na sala, enquanto Prince, o poodle, exige participar da conversa, mãe e filha se divertem com as traquinagens trazidas da memória mais recente. Rosemary conta a vez em que Aline chegou ensopada em casa, “toda vermelha de sol”. “Ela disse que estava na casa de uns amigos.
Com um histórico de lutas pelo melhor para os dois filhos cadeirantes, Rosemary se prepara para os próximos 12 meses. Diz que está fortalecida para acompanhar a filha em mais uma etapa de conquistas. Ainda que tenha que reinventar a estrutura de casa por causa de Claudio Henrique, também dependente de seus cuidados. Entretanto, a dona de casa entende que é preciso ajudar a filha a abraçar a oportunidade tão sonhada. “Meu filho entende. Sabe que faria o mesmo por ele.”
Claudio Henrique é formado em ciência da computação e faz pós-graduação em jogos digitais. É também artista plástico de mão cheia, com várias telas em cores quentes e vivas penduradas nas paredes do apartamento no Bairro Silveira, na Região Nordeste de BH. O analista de sistemas trabalha fora e, determinado como a irmã, não deixa de fazer nada por causa da cadeira de rodas.
“Gosto muito de bioquímica, imunologia e genética. Quero ser pesquisadora e ajudar as pessoas com descobertas, com tratamentos”, ressalta. No momento, o maior entusiasmo da estudante é com o que a espera em Kentucky, estado da região Sudeste dos EUA. “A escola é em Lexington, uma cidade do interior, que tem como símbolo um cavalo. Lá, na universidade, os cavalinhos ajudam na reabilitação de crianças. Isso é muito interessante.”
Saiba mais
Atrofia muscular espinhal proximal tipo 2
Trata-se de uma forma crônica infantil de atrofia muscular espinhal proximal, caracterizada por fraqueza muscular e hipotonia, resultante da degeneração e perda dos neurônios motores inferiores da medula espinhal e do núcleo do tronco cerebral. A prevalência está estimada em cerca de 1 para 70 mil pessoas. A doença é ligeiramente mais frequente nos indivíduos de sexo masculino. A apresentação dos sintomas ocorre entre os 6 e 18 meses de idade (geralmente por volta dos 15 meses). As crianças afetadas têm dificuldade em se sentar de forma independente e são incapazes de se levantar e de andar. A fraqueza muscular – quase sempre simétrica – afeta predominantemente as pernas e os músculos do tronco.
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