Jornal Estado de Minas

Empresas e prefeitura podem dividir responsabilidade sobre queda de viaduto

Plano de demolição da alça que ficou de pé fica pronto em 10 dias

Tiago de Holanda

Prejuízo será maior se forem constatados superfaturamento na construção do viaduto, segundo o MP. Elevado caiu no dia 3 julho, deixou dois mortos e 23 feridos - Foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS


A queda da alça sul do Viaduto Batalha dos Guararapes e a demolição da alça norte causarão um prejuízo aos cofres públicos de, no mínimo, R$ 10 milhões, segundo estimativa do Ministério Público estadual, baseada nos valores dos contratos firmados pela prefeitura. “Quem for o culpado terá de arcar com esse custo e a responsabilidade civil pode ser repartida por vários envolvidos com o projeto e a obra”, afirma o promotor de Defesa do Patrimônio Público Eduardo Nepomuceno.

Segundo ele, o plano de demolição deverá ficar pronto em 10 dias e a Cowan, responsável pela construção, comprometeu-se a pagar o trabalho e a hospedagem dos moradores dos edifícios ao lado, que terão de ser removidos. “O prejuízo pode ser maior, se encontrarmos superfaturamento ou erros na execução do projeto”, ressalta Nepomuceno, que investiga a obra com o apoio do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas (Crea/MG). Ele se reuniu ontem com um advogado da Cowan e com o procurador-geral do Município, Rusvel Beltrame Rocha. O promotor elogiou a decisão da prefeitura de demolir a alça norte, por recomendação do laudo técnico contratado pela construtora, sem caráter oficial. “A determinação é prudente. Se o prefeito se negasse a adotá-la, assumiria o risco de novo incidente.
Por enquanto, não temos motivos para duvidar desse parecer”, ressaltou.

A Cowan decidiu bancar o custo da demolição mesmo sem assumir qualquer responsabilidade pelo incidente, segundo Nepomuceno. A burocracia estatal poderia atrasar essa providência. “Se o município fosse fazer o procedimento, iria demorar pelo menos 90 dias. Na iniciativa privada, isso ocorre bem mais rapidamente”, afirma. A Defesa Civil é responsável por elaborar um plano de retirada dos moradores dos dois condomínios vizinhos ao viaduto, que devem ser removidos antes de o projeto de demolição ficar pronto, afirma o promotor.

Ainda não se sabe se será construído outro viaduto no lugar do Guararapes, diz Nepomuceno. “É prudente esperar o laudo (pericial, que está sendo feito pela Polícia Civil) para decidir reconstruir ou não. Ele pode indicar que não é viável construir outro”, explica. No caso de outra estrutura ser erguida, o promotor considera “improvável” que a prefeitura arque com os custos: “O município não vai pagar novamente”. O promotor entende que ainda não é possível determinar o responsável pela tragédia, a quem caberia ressarcir os cofres públicos.

O laudo técnico encomendado pela Cowan aponta que a alça sul desabou porque o projeto executivo, feito pela Consol Engenheiros Consultores, tem erros de cálculo. A quantidade de aço presente no bloco de concreto instalado sob um dos pilares da estrutura, segundo o relatório, foi de apenas 10% do necessário para sustentar a estrutura. Além disso, as 10 estacas fincadas no bloco tinham capacidade para sustentar 2,5 mil toneladas, mas ficaram submetidas a um peso de 3.034 toneladas. “A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) sustenta que o projeto foi rigorosamente cumprido pela construtora”, afirma Nepomuceno, que planeja voltar a ouvir representantes da Consol.

Responsabilidade

Ainda que o parecer da construtora esteja correto, a empresa e a Sudecap podem ter culpa pelo incidente, segundo Nepomuceno.

“A Sudecap aprovou o projeto. A Cowan também deveria ter verificado os erros. Por enquanto, não podemos eximir ninguém de responsabilidade”, analisa. “Se alguém errou por parte do município, o MP pode mover ação civil contra gestores ou servidores públicos por improbidade administrativa”, acrescenta o promotor, que se reuniu ontem com representantes do órgão municipal. “O diretor de obras da Sudecap, Chico Neto, disse não ser atribuição do órgão revisar o projeto. A Sudecap diz que apenas aprovou a entrega do projeto, mas, em princípio, isso não a exime de culpa”.

Consol vai à Justiça contra multa
A Consol Engenheiros Consultores, responsável pelo projeto do Viaduto Batalha dos Guararapes, tenta há mais de um ano suspender uma punição imposta pela prefeitura. O desentendimento começou em março de 2013, quando o Executivo aplicou multas somando R$ 1,4 milhão ao consórcio que incluía a Consol, contratado para supervisionar obras do BRT/Move nas avenidas Antônio Carlos e Pedro I e no complexo viário do Vilarinho. As empresas recorreram à Justiça, que, em caráter preliminar, reduziu o valor da penalidade.

O consórcio Consol-Enecom foi contratado pela prefeitura em 2010 para prestar “serviços de consultoria para apoio técnico gerencial e para apoio à supervisão e controle das obras de reestruturação e requalificação urbana” das duas avenidas e do complexo viário, segundo despacho publicado no Diário Oficial do Município (DOM). As multas foram definidas pela Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, motivadas por “recusa em executar quaisquer serviços dentro do escopo contratado” e “inobservância do nível de qualidade proposto ou exigível”.

O diretor presidente da Consol, Maurício de Lanna, relata que as multas foram aplicadas porque, segundo a prefeitura, o consórcio não havia prestado apoio a medições dos serviços da Cowan. “Eram medições mensais para definir o que seria pago à construtora.
Nesses relatórios, deviam constar quantas toneladas haviam sido construídas, por exemplo”, explica. “Essa tarefa era obrigação nossa, segundo o contrato, mas não a fizemos de forma integral porque fiscais da Sudecap assumiram sozinhos a responsabilidade” , acrescenta.

O contrato firmado com o consórcio Consol-Enecom incluía a supervisão do Viaduto Batalha dos Guararapes, mas o prazo do acordo se encerrou em 31 de março de 2013, segundo Lanna, enquanto a obra do elevado só se iniciou no mês seguinte. “Por isso não acompanhamos a obra”, explica. “No caso das que acompanhamos, se algum problema era identificado nos projetos executivos, a construtora recorria à Sudecap, que podia nos pedir para fazer os devidos ajustes”, lembra.

A prefeitura decidiu não prorrogar o contrato, informa o promotor Eduardo Nepomuceno. “A Sudecap disse que não era necessário renovar o contrato. Assumiu a supervisão das obras, o que pode gerar consequências jurídicas”, explica. Procurada pelo Estado de Minas, a prefeitura não comentou o assunto.

 

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