Mateus Parreiras
É rara a passagem de veículos pela estrada rural do povoado do Fecho, em Santa Luzia. A pacata comunidade, a 10 quilômetros do Centro do município, abriga fazendas e um cemitério centenário, de muro de pedras assentado por escravos. A 40 quilômetros dali, o movimento também é pequeno no Bairro Colonial, em Contagem. Mas o cenário é diferente. Crianças empinam pipas e saltam valas de esgoto, que corre a céu aberto. Distantes, os dois lugares serão “aproximados” porque estão nos extremos do Rodoanel Metropolitano Norte, obra tida como fundamental para aliviar o trânsito na Grande BH e prevista para começar no ano que vem. As localidades também são exemplo das diferenças ao longo do trajeto. Com base no projeto oficial lançado no início do mês, a reportagem do Estado de Minas percorreu pontos nos quais serão construídos túneis, pontes e viadutos e encontrou situações que ilustram contrastes da Grande BH e mostram como o Rodoanel provocará mudanças por onde passar.
A previsão da Setop é de que a obra tenha dois acessos à BR-381 nas extremidades, sendo um deles em Betim, no trecho BH-São Paulo, e outro em Ravena (Caeté), segmento BH-São Paulo, passando por Contagem, Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia, São José da Lapa e Vespasiano. O custo estimado para os 66,7 quilômetros previstos é de R$ 4 bilhões, dos quais R$ 800 milhões do governo do estado e R$ 3,2 bilhões por meio de parceria público privada (PPP). Deste valor, R$ 535 milhões serão usados em desapropriações. A via é importante porque pode reduzir à metade o tráfego no Anel Rodoviário de BH, que hoje recebe 140 mil veículos por dia.
Para o consultor Paulo Eduardo Borges, doutorando em análise ambiental pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o projeto do Rodoanel é “arrojado” e trará “benefícios”, mas também terá impactos. “É preciso uma preocupação ambiental, por exemplo, com a preservação de grutas e de outras formações da região de Pedro Leopoldo e Vespasiano, onde já há atuação de cimenteiras e outros empreendimentos”, afirma. Como há muitos bairros nos limites de municípios e até invasões no caminho do Rodoanel, Borges defende que as ações de desapropriação sejam seguidas de melhorias de infraestrutura urbana.