As ciclovias são “atropeladas” diariamente pelo desrespeito em BH. Dois motoristas são multados todo dia por invadir, parar ou estacionar o veículo nos 70 quilômetros de ciclovias de Belo Horizonte. Foram 379 autuações no primeiro semestre. Transitar em ciclovia, por exemplo, gerou 94 autuações em 2012, 504 no ano passado e 271 entre janeiro e julho deste ano. Os números apresentados pelo Detran, Guarda Municipal e Polícia Militar comprovam o desrespeito frequente ao Código Brasileiro de Trânsito (CTB) e aos ciclistas, mas ainda são subnotificados em relação ao que é observado nas ruas, conforme constatou a reportagem do EM. Um problema que tende a se agravar, porque, até o fim do ano, estão previstos outros 20 quilômetros na capital, e a meta é chegar a 380 quilômetros em 2020.
Em menos de meia hora percorrendo as ruas Fernandes Tourinho, Rio de Janeiro, Alvarenga Peixoto e São Paulo, ligadas por uma rota cicloviária de 3,3 quilômetros no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul, a reportagem flagrou quatro caminhões estacionados em parte da faixa para ciclistas e cinco carros e uma moto transitando na pista exclusiva.
Na Rua Fernandes Tourinho, o servidor público Alexandre Freire, de 29, que vai e volta de bicicleta todos os dias do Bairro Prado (Oeste) até a Savassi (Centro-Sul), reclamou da quantidade de veículos estacionados ao longo da ciclovia.
Um dos gargalos dessa rota fica na Fernandes Tourinho, em frente ao restaurante Ah! Bon, entre as ruas da Bahia e Espírito Santo. Clientes que chegavam para o almoço deixavam os veículos sobre a ciclovia e entregavam a chave aos manobristas do estabelecimento, que ainda aguardavam um tempo até levar o carro a uma vaga definitiva. Dessa forma, a pista para as magrelas ficou completamente obstruída.
Pouco mais à frente, entre a Espírito Santo e a Rio de Janeiro, um caminhão de mudança estacionou em área permitida, mas ocupou também metade da ciclovia. O dono do veículo, Raimundo Israel, de 54, afirmou que não tem alternativa: “Não há um espaço compatível perto do prédio onde preciso descarregar. Como vou parar longe e carregar móvel pesado?”.
Na Rua Rio de Janeiro entre a Antônio de Albuquerque e a Fernandes Tourinho, outro caminhão descarregava mudança. Além de ocupar toda a ciclovia, o veículo ainda tapava praticamente toda a pista destinada aos carros em um dos sentidos. Na Rua São Paulo entre a Alvarenga Peixoto e a Gonçalves Dias, outros dois caminhões faziam carga e descarga em área permitida, mas invadiam parte da ciclovia.
Outros exemplos de obstrução foram encontrados na Rua Piauí, entre a Avenida Carandaí e a Rua Padre Rolim, que integra uma rota de 2,8 quilômetros na Savassi. Uma empreiteira que prestava serviços à prefeitura cortou uma árvore e deixou os troncos fechando o caminho das bikes, além de galhos de poda de outros espécimes.
Os obstáculos fizeram os ciclistas Gabriel Barros, de 32, e Eric Gregório, de 29, irem para a rua, já que não havia passagem disponível na parte destinada a eles. “Não custava ter colocado os troncos ocupando a vaga de um carro na área de estacionamento. Eliminaria uma vaga e deixaria toda a rota de ciclistas livre”, reclamou Gabriel.
EDUCAÇÃO E FISCALIZAÇÃO
A BHTrans é proibida de aplicar multa de trânsito desde 2009 por decisão judicial. A superintendente de Desenvolvimento de Projetos e Educação da BHTrans, Eveline Trevisan, acredita que a principal vertente de trabalho é a conscientização dos motoristas, e a mudança de postura será uma atitude natural com a consolidação da presença das bikes na cidade. “O aumento do uso vai fazer com que os motoristas respeitem mais, pois o ciclista é muito antenado. Essa questão da consciência cidadã é bem forte em quem anda de bicicleta, são parceiros na educação”, diz.
Até o mês que vem, será lançada campanha nos moldes das ações recentes de respeito aos pedestres, para acelerar o processo de educação, segundo a superintendente.
Hoje, crianças que vão à BHTrans recebem material alertando para a importância das ciclovias. Ela também garante que com a educação deve andar a fiscalização. “Quando a infração é punida, o motorista passa a ficar mais atento”, completa.
A assessoria do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), principal órgão responsável por multar os infratores, informou que a Lei 9.503, que regulamenta o CTB, estipula que o município é responsável pelo trânsito. Já a assessoria da Guarda Municipal, que apoia a PM nas multas, informou que, pelo fato de novas ciclovias estarem previstas para BH, a corporação dará maior atenção às ciclovias, inclusive nas reuniões semanais da unidade integrada de trânsito.
O restaurante Ah! Bon informou que não compactua com estacionamento em ciclovias e que normalmente os próprios clientes já param o veículo no lugar proibido antes de entregar as chaves aos manobristas.
ROTINA DE MULTAS
Punição por tráfego e estacionamento nas ciclovias de BH
Total Média diária
2013 775 2,12
2014* 379 2,10
*Até 30 de junho
Fonte: Detran/Polícia Civil
CICLOVIAS
70,4km
implantados na cidade até abril de 2014
20,9km
a mais serão implantados até o fim do ano
10,8km
a mais quilômetros no Barreiro e em Venda Nova
Fonte: BHTrans
O QUE DIZ A LEI
O artigo 181 do Código de Trânsito Brasileiro diz: estacionar o veículo sobre ciclovia ou ciclofaixa. Infração grave, cinco pontos na carteira, multa de R$ 127,69 e remoção do veículo. Artigo 193: transitar com o veículo em ciclovias ou ciclofaixas. Infração gravíssima, sete pontos na carteira e multa de R$ 574,62
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