Depois de 11 anos de muitas promessas, finalmente chega ao fim a restauração do antigo Cine Santa Tereza, no bairro de mesmo nome, na Região Leste de Belo Horizonte. As obras serão concluídas em 20 dias, mas os belo-horizontinos vão ter que esperar até o ano que vem para desfrutar do Centro Cultural Santa Tereza, que vai funcionar no espaço e será inaugurado somente em 2015. É que a prefeitura ainda vai abrir licitação para compra de equipamentos de som, luz e de projeção e para escolha da empresa que administrará o café. A restauração do prédio, que é da década de 1940, era uma promessa desde 2003, quando a obra foi incluída no Orçamento Participativo. Ontem, a pintura do bar e cafeteria recebia seus últimos retoques, assim como o espaço multi-uso. No andar de cima, vai funcionar uma sala de cinema para 146 lugares. O piso está pronto para receber o carpete cinza e as poltronas. Há um palco junto à tela de projeção que pode ser utilizado em outras atividades culturais.
As características arquitetônicas do espaço interno foram preservadas, mas houve pequenas alterações. A sala de cinema, por exemplo, foi construída na parte de cima, onde ficavam os antigos camarotes. A laje foi expandida, criando um segundo piso. Um verdadeiro trabalho artesanal com gesso foi feito nas paredes do cinema para melhorar a acústica, os chamados difusores prismáticos.
O espaço multiuso, onde era a antiga sala de exibição, no andar térreo, ganhou piso reto e recebeu janelas feitas com tijolos de vidro vazados para ventilação e iluminação. O ambiente interno, que era todo pintado de preto, recebeu branco no teto e marfim nas paredes. O hall de entrada e o café ganharam uma cor mais alegre, de cerâmica.
Todo o espaço foi pensado para receber portadores de necessidades especiais. Há rampas e banheiros adaptados para cadeirantes, assim como uma plataforma para acesso dos mesmos ao segundo andar. A biblioteca já está pronta e nas prateleiras só faltam os livros. Ontem, eram instalados os rodapés. Todo o piso do Centro Cultural é em marmorite. A fachada do prédio é tombada pelo Conselho Municipal do Patrimônio e as características do arquiteto italiano Rafaello Berti, em estilo art-déco, foram preservadas.
O novo espaço também será uma extensão do Museu da Imagem e do Som. Vai receber um acervo de mais de 60 mil itens voltados para a história do audiovisual de Belo Horizonte. “Com esse material, será possível organizar mostras de cinema, palestras, seminários, oficinas e exposições, juntamente com uma programação cultural que também poderá ter apresentações de música”, disse o diretor do Centro de Referência Audiovisual (Crav), o historiador e advogado Gilvan Rodrigues.
A restauração do prédio começou no início do ano passado e sofreu dois atrasos no cronograma de entrega. Custou R$ 1,7 milhão e foi patrocinada pela mineradora Vale, em contrapartida às obras de modernização da linha férrea entre os bairros Horto, na Região Leste da capital, e General Carneiro, em Sabará, região metropolitana. A prefeitura deve investir mais R$ 1, 5 milhão em infraestrutura e equipamentos.
O antigo Cine Santa Tereza funcionou como sala de exibição até a década de 1980, quando vários cinemas de rua fecharam as portas na capital. No espaço funcionou ainda casas de show e boates, mas nada deu certo. Depois de muitos anos fechados, foi usado para mostras de cinema, até ser fechado para reforma.
Expectativa
Moradores do bairro estão ansiosos para voltar a frequentar as antigas instalações do Cine Santa Tereza. Muitos saudosistas recordam da época em que famílias inteiras iam às matinês. “Vamos voltar a viver os velhos tempos”, suspira a comerciante Maria Elisa Lourenzato, de 60 anos, que há 40 anos levava seus filhos às sessões de cinema à tarde. “É uma alegria olhar o prédio restaurado. O antigo cinema abrigou um monte de coisas depois e nada foi para frente. O lugar estava abandonado, com lixo acumulando em frente ao prédio. Vai ser excelente ter um centro cultural com cinema e biblioteca no bairro”, disse Maria Elisa.