Estacionamento em local proibido, desrespeito à faixa de pedestres, conflito entre motoristas e ciclistas, congestionamentos. Esses problemas, comuns nas ruas e avenidas de Belo Horizonte, ganham a cada dia mais espaço dentro do câmpus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde quase 40 mil carros circulam diariamente. Depois que uma estudante do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) foi atropelada em frente ao prédio destinado ao curso de farmácia, há duas semanas, o risco de acidentes e as dificuldades de transitar e estacionar na área da maior universidade do estado continuam a atormentar quem estuda e trabalha na instituição. A reitoria chegou a planejar um convênio com a Guarda Municipal para coibir infrações, mas a medida não foi concretizada. A abertura de mais vagas para carros é descartada pela administração, que não quer estimular o uso do transporte individual.
A estudante do ICB foi atropelada na tarde do dia 8. Segundo o Corpo de Bombeiros, a jovem havia acabado de sair de um ônibus quando atravessou a rua e foi surpreendida por um carro. A universitária, cujo nome não foi divulgado, foi socorrida com suspeita de traumatismo craniano e encaminhada a um hospital. No sábado, outro incidente chamou a atenção para os problemas de trânsito em ambientes universitários.
Pelo câmpus Pampulha circulam diariamente 38 mil veículos, segundo a UFMG. O número é mais de seis vezes maior que o de vagas de estacionamento: 4,5 mil junto aos prédios da instituição e 1,5 mil ao longo das vias. O aumento constante no total de alunos vem contribuindo para agravar o déficit de vagas: apenas entre agosto de 2013 e junho deste ano, a instituição passou de 46.557 matriculados para 47.672, aumento de 1.115 pessoas, além de ter hoje 4.430 funcionários técnico-administrativos e 2.841 professores. Os problemas de trânsito se agravam com motoristas que usam o câmpus como passagem entre as avenidas Antônio Carlos e Carlos Luz.
A estudante de farmácia Ana Letícia von Kruger, de 19 anos, que vai à UFMG de van, reclama que poucos motoristas param diante da faixa de pedestres. “É preciso ficar atento para evitar acidentes”, conta. Cláudio Nodalin, de 53, fotógrafo da Escola de Belas Artes da instituição, vai ao serviço de carro, mas há dois meses usa uma bicicleta para deslocamentos dentro do câmpus. “É mais fácil do que pegar o carro e ficar rodando para encontrar vaga. Pedalo mais na calçada do que na rua. Não confio em dividir espaço com carros. Às vezes passam muito perto, é perigoso”, acrescenta.
Diplomados em transtorno
O trânsito é tão intenso que causa engarrafamentos nos horários de pico. Também é comum encontrar carros estacionados de forma irregular, muitos, inclusive, nas proximidades de pontos das linhas 5102 (UFMG/Santo Antônio) e Suplementar 50. Por volta do meio-dia de ontem, esse era o caso de quatro veículos em uma rua em frente ao prédio da reitoria.
Às 13h, quase em frente à Praça de Serviços, a estudante de farmácia Bruna Fernandes, de 20 anos, parou o carro e ligou o pisca-alerta entre duas vagas para estacionamento a 45 graus, infração que se repete em outros locais do câmpus.
A universidade deveria abrir mais vagas para carros, na opinião da estudante de educação física Ana Carolina Alves de Oliveira, de 25 anos. “Há terrenos inutilizados que poderiam servir para isso, mas é algo que demanda tempo. A curto prazo, acho que pode ser feito um credenciamento de alunos e funcionários, para que eles tenham prioridade para ocupar as vagas”, sugeriu. Na tarde de ontem, ela deu duas voltas em um quarteirão até conseguir uma vaga.
Um vigilante da universidade disse que ele e colegas até alertam motoristas que estão parando em local proibido, mas muitos ignoram. “Depende de a pessoa ter bom senso, já que não podemos multar”, contou o funcionário. A mestranda Ana Carolina Paes Martins, de 31, reclama da falta de punição aos infratores: “Parece que aqui não existe lei”.
Guarda
Em junho de 2012, o então pró-reitor de Administração, Márcio Baptista, anunciou que a UFMG procuraria a Guarda Municipal para firmar um convênio para monitoramento e gestão do trânsito, com punição para infrações. “A ideia está estagnada. Essa questão depende da aprovação do Conselho Universitário, mas esse assunto jamais foi levado como proposta formal a ser votada”, afirma o pró-reitor adjunto de Planejamento e Desenvolvimento, Maurício Campomori.
Na mesma época, Baptista divulgou que a universidade contrataria uma empresa para fazer estudos e propor medidas para disciplinar o trânsito. “Eles foram concluídos em 2013, mas, naquele momento, a gestão do antigo reitor se encaminhava para o fim e as alterações não foram consideradas convenientes. Além desses estudos, temos outros, feitos continuamente”, afirmou Campomori.
O atual reitor, Jaime Arturo Ramírez, que tomou posse neste ano, instalou uma comissão para propor soluções para problemas de trânsito e outros pontos. “A comissão propôs a criação de um comitê de governança do câmpus, que cuidaria das questões de trânsito e mobilidade, segurança, oferta de serviços e acessibilidade. A sugestão está sendo avaliada”, explicou Campomori.
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