O encontro de amor com o empresário Sérgio Nercessian, de 52 anos, e a chegada do filho Pedro, em 2011, transformaram a vida de Danielle Mendes, de 40. Mas a “luz dos olhos” da deficiente visual chegou mesmo foi com Luckie, em 2007. Luckie, da raça labrador, é um dos 90 cães-guia de todo o Brasil. Vinda dos Estados Unidos, a melhor amiga de Danielle é de inteligência rara e doçura sem igual. A “mocinha” companheira, esperta que só ela, atende a mais de 80 comandos em inglês.
De acordo com George Thomaz Harrison, de 38, da organização não governamental (ONG) Cão-Guia Brasil, o baixo número de animais auxiliares especialmente treinados, como Luckie, em território nacional se deve à falta de informação e de maior empenho por parte do poder público pelos cerca de 6 milhões de pessoas com pouca ou nenhuma capacidade de enxergar no Brasil.
Não há dinheiro que pague uma companhia dessa importância. Literalmente: cães especiais como Luckie não estão à venda.
Danielle, aos 13 anos, recebeu o diagnóstico de retinose pigmentar, doença que causa a degeneração da retina – região do fundo do olho responsável pela captura de imagens. “Nunca enxerguei à noite. É uma doença degenerativa. Não é fácil, mas acredito que o meu bem-estar mental ajuda a conter essa degeneração”, diz. Hoje, a veterinária aposentada tem menos de 10% de capacidade visual.
Em 2007, do amor companheiro veio a surpresa: “Sérgio disse que estava me levando para a Disney, mas me levou para a escola da Luckie”, conta Danielle, entre sorrisos. Mas, até que a veterinária pudesse trazer a nova amiga para o Brasil foram dois meses. Há uma série de cuidados e rigor para a melhor adaptação possível. Os cães-guia são escolhidos e treinados de acordo com as especificidades de cada candidato.
Tanto que Danielle e Luckie passaram 26 dias, por 24 horas, juntas em alojamento no câmpus da escola. A partir dessa imersão nos EUA, os olhos da bela veterinária, aposentada jovem ainda, ganharam nova luz, muito mais brilho e autonomia. Na companhia de Luckie, de volta a Belo Horizonte, Danielle ganhou nova rotina. “Ela me deu liberdade.
Desde então, em sete anos, foram algumas poucas horas de separação apenas. O motivo, não menos encantador que a relação dos olhos Danielle com a luz Luckie: o nascimento do pequeno Pedro. Em 2011, o menino trouxe novos valores e alimentou ainda mais a chama dos sentidos. Desdobramento da história de namoro iniciada em 2005, com “amor à primeira vista”. “Da parte dele, né!?”, brinca Danielle.
Um milagre chamado Pedro
Sobre Pedro, o filho, Danielle fala em “milagre”. “Disseram que eu não poderia engravidar, por causa de uma endometriose” (uma afecção inflamatória provocada por células do endométrio que, em vez de serem expelidas, caem nos ovários ou na cavidade abdominal, onde voltam a multiplicar-se, provocando sangramento). Superadas as dificuldades, com a chegada do bebê, Luckie não perdeu a atenção: ganhou um irmão.
Se do lado de fora, pelas ruas de Belo Horizonte, a acessibilidade é tormenta para quase 70 mil deficientes visuais como Danielle – de acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –, o apartamento da família, na Região Centro-Sul, foi pensado para diminuir diferenças. Na cozinha, se a geladeira fica aberta ou se algo está fora de hora no fogão, sinais sonoros chamam a atenção.
Na sala, a doçura de Luckie rouba a cena. É também dona da casa.
Com tanta cumplicidade, a veterinária já vem preparando o espírito para “aposentar” Luckie e aumentar a família com um novo cão-guia. Entretanto, Danielle reconhece que não sabe como vai lidar com isso, considerando a forte relação construída com a “luz de seus olhos” nos últimos anos. “A percepção dela comigo vai além do que se pode ver. Tive depressão no início da gravidez e Luckie mudou até de comportamento, só para me ajudar. Sempre tive medo da escuridão e foi ela quem me tirou desse lugar”, sorri.
Luckie não perde Danielle de vista. Mesmo dentro de casa, onde a dona está, está também a amiga de cor creme, sempre muito limpa e bem tratada. Pelos caminhos do mundo, muitas diferenças. No Brasil, sobram críticas. “O país não está preparado para lidar com deficientes de qualquer natureza. E, quando acham que estão fazendo alguma coisa, como a pista tátil, não estão fazendo nada”, critica. A veterinária conta que já foi até expulsa de lojas por causa da companheira e que, com frequência, não é aceita com Luckie por motoristas de táxi – apesar de lei que garante o livre trânsito de cães-guia e seus donos.
Um mundo pelo tato
Cães com livre acesso
A Lei 11.126, de 27 de junho de 2005, regulamenta o direito de a pessoa com deficiência visual usuária de cão-guia ingressar e permanecer com o animal em todos os locais públicos ou privados de uso coletivo.
Cuidados com a visão na infância. Ouça as orientações:
- Seguir corretamente o pré-natal. Doenças como rubéola, sífilis e toxoplasmose podem causar cegueira ou visão subnormal no feto.
- Realizar exame oftalmológico no recém-nascido sempre que for observada qualquer alteração ocular como: olhos muito grandes, lacrimejamento intenso, mancha branca na menina dos olhos.
- Vacinar periodicamente a criança para evitar doenças que possam causar problemas visuais, como sarampo, rubéola e meningite.
- Usar medicações e colírios somente com indicação médica.
- Deixar fora do alcance das crianças produtos de limpeza, objetos pontiagudos (facas, arame, tesoura), fogos de artifício e plantas tóxicas.
- Procurar um médico a qualquer indício de ciscos ou fagulhas nos olhos. Não esfregar nem tentar retirar com a ajuda de objeto caseiro.
- Usar cinto de segurança no trânsito e colocar crianças no banco traseiro.
- Usar óculos de proteção no trabalho e em casa, sempre que lidar com substâncias perigosas.
- Fazer aconselhamento genético em caso de casamento consanguíneo.
Serviço
Projeto Cão-Guia de Cegos
Instituto de Integração Social e de Promoção da Cidadania (Integra)
Endereço: SCRS 507 Bloco C Lojas 41/69, CEP: 70.351-530. Asa Sul – Brasília – DF
Telefone:
(61) 3345-5585
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