Os ipês amarelos já começaram a explodir em buquês exuberantes, ouro puro, chamando a atenção de quem passa pelas ruas e praças de Belo Horizonte. Mas é bom olhar depressa. Poucos sabem disso, mas a flor do ipê dura só um dia. É das mais efêmeras que existem, contrastando, por exemplo, com as rosas, que podem sobreviver por meses no pé. “Tudo o que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível”, já ensinava o genial poeta português Fernando Pessoa.
Se chover ou ventar muito, a flor dos ipês poderá se esvair em menos de 24 horas. Pelos mesmos motivos, a copa das árvores poderá permanecer florida por menos de uma semana, até se derramar em um tapete de pétalas espalhadas pelo chão. “O tanto que uma árvore vai ficar florida depende das condições climáticas. Não tem jeito de precisar a natureza”, diz Cássia Lafetá, da gerência de Áreas Verdes e Arborização Urbana da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
Por que os ipês amarelos tanto encantam os moradores das cidades? “Como a árvore perde as folhas, a floração se torna mais exuberante. Além disso, a cor amarela dá um contraste bonito com o céu muito azul no inverno”, responde a especialista. Ela lembra que os ipês se adaptam bem na arborização urbana, por se tratar de madeira de resistente, com crescimento relativamente rápido e menos suscetíveis à queda.
“Além de enfeitar a cidade, os ipês convidam a parar um pouco nossa vida corrida e aprender a apreciar a beleza das pequenas coisas”, ensina Ana Cristina Schiavo, professora da Escola Balão Vermelho. Ela e a turma de crianças de 5 e 6 anos visitavam os prédios históricos da Praça da Liberdade. Estacaram em frente ao ipê que pincelou de amarelo as formas curvas do famoso edifício do arquiteto Oscar Niemeyer. “Adooooro amarelo!”, exclamou a aluna Bárbara, revelando que essa era a cor da mochila dela.
Em cinco minutos, marcados no relógio, três pessoas tiraram fotos em frente ao ipê dourado. Foi a forma encontrada para eternizar a beleza momentânea das flores. “Aposto no amarelo, pela tendência, pelo tom natural, pelo contraste. É uma cor que cai bem nas mulheres morenas. Nas louras, nem tanto”, comparou a estudante de moda Thaís Andrade, de 22 anos, que acabava de posar para uma selfie, usando o ipê como cenário. Ela passava pela Praça da Liberdade, a caminho da exposição do estilista Ronaldo Fraga, na Casa Fiat de Cultura.
Cheiro de roça
“O amarelo dá um contraste bacana com o cinza do prédio antigo”, definiu o estudante de publicidade e propaganda Thadeu Guadagnin, de 23, que visitaria a exposição Visões, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Fez uma pausa. Fotografou o mesmo ipê amarelo, com intenção de publicar o que viu no blog 50 Tons de Cultura, criado por ele no Instagram.
Com a câmera profissional dependurada no pescoço, o estudante de administração Vítor Godinho Lopes, de 22, parou em frente à árvore por outro motivo: o aroma característico da flor. “É um cheiro diferente, que me faz sentir BH com jeito de roça, que faz lembrar casa de pai e mãe”, diz o rapaz, sem se esquecer dos segredos de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha. Assim que se formar, quer voltar para a terra natal, onde sonha montar um negócio com cosméticos, criados a partir dos perfumes do Vale. Sem dúvida, a abertura da temporada dos ipês, que chegam antes da primavera, atiça a imaginação dos habitantes das cidades.