Jornal Estado de Minas

Vivendo e aprendendo

Apoio familiar e pedagógico contribui para maior qualidade de vida para síndrome de Down

Nas duas últimas décadas, eles deixaram de ser segregados para ser incluídos

Junia Oliveira
Alessandra e a filha Clara Conradt - Foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press


Clarinha acabou de entrar no ensino infantil. Lucas já percorreu uma parte maior dessa estrada. Isabella não deixa as atividades físicas de lado. Outra Isabela está a um passo do altar com Rafael, sua alma gêmea. Aline faz bonito na universidade. Ir à escola, fazer academia, namorar, casar-se. Tarefas simples e rotineiras, mas que para esses guerreiros e tantos outros com síndrome de down ganham outro sentido – o da conquista. Se há alguns anos pessoas com essa alteração genética eram até escondidas por muitas famílias, hoje são orgulho.
Nas duas últimas décadas, eles deixaram de ser segregados para ser incluídos, ganhar qualidade de vida e se aventurar em qualquer tarefa. Uma nova postura dos pais é apontada como fator principal dessa mudança. Mas, apesar dos avanços, ainda há barreiras a serem vencidas para que todos os estigmas e preconceitos fiquem no passado.

Estima-se que, no Brasil, a cada 750 bebês um nasce com síndrome de Down (SD). Mas nem o Ministério da Saúde nem as secretarias de estado e municipal de Saúde têm estatísticas sobre quantas pessoas há com a doença. O assunto ganhou repercussão internacional há 10 dias, quando o cientista britânico Richard Dawkins usou sua conta no Twitter para afirmar que uma mulher grávida, ao descobrir que tem um feto com a síndrome “deveria abortar e tentar novamente. Seria imoral trazê-lo ao mundo, se você tem a escolha”, escreveu. Muitos especialistas e pessoas que convivem com quem tem sídrome de Down discordam. Para eles, pensamentos como esses fizeram, por muitos anos, que crianças, jovens e adultos fossem segregados. Agora, eles afirmam, a realidade é outra.

A psicóloga e doutora em educação Regina Célia Passos Ribeiro de Campos, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), lembra que, até bem pouco tempo, as crianças com deficiência eram trancadas em casa, não iam à escola e não eram mostradas à sociedade. “A história de exclusão é antiga, mas hoje o avanço nas áreas das ciências humanas demonstra que, com o apoio profissional, afetivo e pedagógico, essas crianças são capazes de aprender, se desenvolver e inserir-se no mercado de trabalho”, ressalta. “Além disso, o avanço na jurisprudência abriu a perspectiva de garantia dos direitos. Já não é um ‘favor’, é um direito.’”

Há muitos exemplos disso.
Aline Hélio Figueiredo Terrinha, de 27 anos, aluna do 4º período de direito, é uma das poucas universitárias do país com síndrome de Down. Com uma das melhores notas da turma, não vê a hora de se formar e prestar concurso para a defensoria pública. Já Isabella Zolini, de 27, nunca perde o alto-astral: única com síndrome de Down da academia que frequenta, é uma das mais assíduas das aulas de aerodance. Os namorados Isabela Pedrosa, de 29, e Rafael Fonseca Soares, de 31, não veem a hora de se casar. E a menina Clara, de 2 anos e 2 meses, aprendeu o sentido de liberdade quando começou a andar sozinha para onde quiser. Para eles, oportunidades dadas são desafios aceitos e cumpridos..