O apagão sofrido pelo motorista do ônibus do BRT/Move que se envolveu em acidente com outros 13 veículos na manhã de terça-feira, na Avenida Alfredo Balena, região hospitalar de Belo Horizonte, foi causado por uma convulsão. O problema que resultou no mal súbito é mais grave do que imaginava o próprio condutor, Ramon Apolinário de Lima, de 29 anos. Ele informou ontem que, segundo médicos do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, foi detectada uma calcificação que ocorre a partir da formação de material ósseo dentro do cérebro, onde o tecido não deveria existir. O motorista sofreu o mal-estar quando dirigia o ônibus articulado da linha 88 (Savassi via hospitais), que tem 18 metros de comprimento e pesa 28 toneladas. Ramon perdeu a consciência por alguns minutos e não se lembra de nada do que aconteceu.
O motorista recebeu alta médica às 22h30 de terça-feira e foi para a casa da mãe, em Nova Lima, na Região Metropolitana de BH. Ele vive sozinho no Bairro João Pinheiro, Região Noroeste da capital, e teve medo de ficar em casa sem companhia. “Não consegui dormir. Primeiro, pelo susto do acidente. Agora, por medo da doença”, lamentou. Uma tomografia detectou a calcificação, segundo ele.
Ramon Apolinário foi orientado a procurar um neurologista para fazer exames mais específicos e começar o tratamento. Também foi aconselhado a não dirigir por enquanto e obteve licença médica de cinco dias, por atestado de um ortopedista, pois ainda sente dores na coluna por causa do acidente. Ontem ele procurou a empresa Bettânia, onde trabalha, e comunicou o afastamento. O motorista tem plano de saúde pago pela firma, mas reclama de dificuldade para marcar consulta com um especialista.
O motorista informou que sente dor de cabeça desde 3h50 de terça-feira, quando saiu para trabalhar antes do acidente, ocorrido às 7h20. “É muito forte, não passa de jeito nenhum”, comentou. Antes de sair para o trabalho, na terça, ele contou ter tomado um analgésico e relaxante muscular, o que não teria relação com a convulsão. “Sempre tenho essa dor de cabeça e tomo esse remédio. Nunca aconteceu nada antes”, disse.
Paralisia
Ramon contou que perdeu a consciência quando subia a Avenida Francisco Sales e andou por 110 metros agarrado ao volante, paralisado, sem se lembrar de nada. Ao passar mal, ele mudou o itinerário do ônibus, que deveria seguir pela Francisco Sales e entrar na Avenida Brasil. “Senti um mal-estar ao virar o ônibus para a direita na Avenida Francisco Sales. Não me lembro de nada. Senti muito sono e acho que dormi ao volante. O cobrador disse ter me chamado várias vezes, mas não escutei. Acordei e já tinha batido nos carros. Não vi nada”, relatou o motorista. Ele foi submetido ao teste do bafômetro, que constatou que não havia ingerido bebida alcoólica. “Eu não bebo. Não foi imprudência minha. Amo a minha profissão. Amo o que eu faço”, disse Ramon.
No ônibus viajavam 70 passageiros e houve pânico quando o coletivo atingiu os carros, deslocando-se por 70 metros enquanto arremessava veículos para as laterais da pista, sem que o motorista parasse.
O articulado invadiu o passeio, chegou a arrastar um EcoSport e uma van e assustou quem passava pela região. Dezoito pessoas tiveram ferimentos leves no acidente, entre motorista e passageiros do ônibus e ocupantes dos carros. Elas foram atendidas no Pronto-Socorro João XXIII e no Hospital das Clínicas. Ontem, uma das vítimas permanecia internada no HPS, sem previsão de alta. As demais foram liberadas.