Dirigir pela BR-040 virou sinônimo de enfrentar uma rotina de engarrafamentos. Seja no acesso ao Rio de Janeiro ou na outra ponta da rodovia, na saída para Brasília, motoristas que passam pela estrada federal convivem com retenções frequentes e ficam horas presos em congestionamentos, especialmente na chegada a Belo Horizonte. As causas para tanto tempo perdido podem ser vistas ao longo da estrada: acidentes, obras, falhas na sinalização, veículos com problemas mecânicos, entre outros. Ontem, novamente, a 040 parou por oito horas, desta vez para retirada do caminhão-tanque que se acidentou e apresentava risco de explosão. A remoção exigiu o uso de três caminhões-guincho, em um processo que só começou por volta das 9h, cinco horas após a batida. A Polícia Rodoviária Federal não tem esse tipo de veículo. Entre os usados no içamento de ontem um foi cedido pelo Corpo de Bombeiros e dois pela transportadora.
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A falta de sinalização também é apontada pelo policial rodoviário federal Demerson Batista, que atendeu a ocorrência de ontem, como fator preponderante para a formação de congestionamentos. Segundo ele, embora os caminhoneiros saibam da obrigatoriedade de trafegar pela direita, insistem em usar a faixa destinada a veículos com velocidades mais altas.
Uma operação delicada, perigosa e com risco de explosão foi montada para retirar o caminhão envolvido no acidente de ontem. Remover o veículo no km 529, em Contagem, exigiu oito longas horas de trabalho do Corpo de Bombeiros, polícias, órgãos de trânsito e Defesa Civil, além de muita paciência de quem passou pela rodovia na manhã de ontem. Embora vazio, o veículo, que tem capacidade para 10 mil litros de combustível e pesa 23 toneladas, representava risco de incêndio diante de qualquer centelha, por causa dos gases gerados por resíduos de gasolina e óleo diesel no interior do tanque. O acidente ocorreu às 4h e exigiu a interdição da estrada até o meio-dia. Apesar de desvios para ruas laterais, o congestionamento chegou a 20 quilômetros no sentido Belo Horizonte e aproximadamente cinco quilômetros na direção de Brasília. Entre 10h20 e 11h, o tráfego parou inclusive nos desvios.
O caminhoneiro Daniel Lourenço de Oliveira admitiu à polícia ter dormido ao volante. Ele seguia de Sete Lagoas para Betim, na Grande BH, onde iria carregar o caminhão. De acordo com o agente da PRF Rodrigo Gonçalves, o condutor contou que, ao cochilar, o caminhão bateu em um poste, desgovernou-se e ultrapassou a mureta sobre o túnel do Bairro Água Branca. Daniel teve apenas um ferimento leve na testa e saiu sozinho do caminhão. O teste do bafômetro mostrou que o motorista não havia consumido bebida alcoólica.
Responsabilidade
O inspetor da PRF Aristides Júnior disse que não depende apenas da corporação a liberação da pista nesses casos. “É preciso haver uma série de procedimentos para a retirada do veículo ou transbordo da carga. Isso é responsabilidade da transportadora ou da seguradora. Há casos em que a empresa tem que trazer equipamentos de outros estados para fazer a remoção da carga”, disse o inspetor. Segundo ele, o atendimento em acidente com caminhão ou carreta, já complicado, torna-se mais arriscado ainda quando se trata de carga perigosa. “Há riscos de contaminação, explosão e intoxicação”, disse o inspetor.
Para o policial, uma série de fatores tem contribuído para o aumento dos acidentes, como crescimento da frota de caminhões de cargas, cada vez mais modernos, potentes e confortáveis, que estimulam os motoristas a acelerar. “Condutores cada vez mais novos estão sendo colocados para dirigir esses veículos, por falta de profissionais no mercado, e muitas vezes são mal preparados”, disse Aristides, citando ainda agravantes como a predominância de pistas simples nas estradas, cansaço e imprudência dos motoristas. “Mas, mesmo em rodovias duplicadas, como a Fernão Dias, temos acidentes envolvendo caminhões quase todos os dias.”
Palavra de especialista
Dimas A. Gazolla, do depto. de Engenharia de Transportes/UFMG
O desafio da carga de risco
“Não existe tratamento do ponto de vista de projeto viário e de sinalização para diferenciar o transporte em geral do transporte de produtos de risco.