“Entraram e já me deram uma ‘gravata’. Puxaram meu cabelo e me arrastaram”, relata a mulher A., de 57 anos. Na noite de quinta-feira, ela, o marido e dois filhos viveram momentos de terror quando a casa de três pavimentos onde moram foi invadida por assaltantes armados na Rua Coronel Murta, Bairro Comiteco, ao lado do Mangabeiras, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Um dos filhos conseguiu saltar um muro para uma residência vizinha e ligou para a Polícia Militar, que deteve os quatro bandidos da quadrilha, sendo três adolescentes. Na mesma rua, além dessa ocorrência, ao menos três casas foram arrombadas desde março. Moradores da região relatam clima de medo e investem na contratação de vigilantes e na instalação de equipamentos de segurança, como câmeras de filmagem e sensores de presença.
Por volta das 20h30 de quinta, um dos moradores da casa, de 28 anos, filho de A., abriu o portão da garagem foi rendido pelos quatro bandidos. Todos portavam armas de fogo, segundo a mulher. Ela ouviu um vozerio na rua e abriu a porta da frente para ver do que se tratava.
Segundo A., antes de os bandidos chegarem ao último pavimento, o filho mais novo conseguiu sair e ligou para a polícia. Enquanto isso, o marido e o filho que havia chegado de carro tiveram as mãos amarradas com cintos atrás das costas. “Ameaçaram, falaram que não era para ‘fazer hora’ com eles, que iam nos matar”, conta a mulher. “Disseram ao meu marido que queriam R$ 100 mil, mas ele disse que não tinha esse dinheiro em casa. Então, pediram para abrir o cofre. Eu estava trêmula, demorei para abrir. Eles reclamaram, me deram tapa nas costas”, relata.
Ao chegar ao local, a polícia rendeu dois assaltantes que estavam em Ônix roubado, onde foram encontrados 170 dólares e uma arma de fogo. Os outros dois bandidos estavam em um Vectra da família, onde já havia sido colocado televisores, celulares e outros produtos roubados da família de A.. O portão da garagem ainda não havia se aberto totalmente e foi danificado quando os assaltantes arrancaram com o Vectra.
A família instalou câmeras de vigilância em casa há quatro anos, segundo A. “Se eu pudesse, iria embora desse país. Como é que você vai viver trancado? Não adianta colocar vigia porque eles (bandidos) também rendem os vigias. Não estamos livres de sofrermos isso de novo. Não temos segurança nenhuma”, queixa-se a mulher. Ela e outros vizinhos planejam instalar câmeras na rua para compor uma espécie de sistema coletivo de monitoramento. Na rua e em vias adjacentes, um vigilante faz rondas em uma motocicleta e outro fica em uma guarita.
CRIMES EM SÉRIE Ao lado da casa assaltada na quinta-feira, uma residência foi arrombada durante o carnaval, segundo conta a dona de casa M., de 72, que há 33 vive lá com o marido. “No dia, almoçamos fora.
Em 17 de junho, durante a Copa do Mundo, na mesma rua foi arrombada outra casa, onde vivem o engenheiro civil e empresário J.R., de 64, e a mulher, designer de joias. O casal descobriu que havia sido roubado por volta das 20h, ao voltar para a residência. “Levaram R$ 800 mil em peças de ouro, joias e semijoias, R$ 92 mil em dinheiro, US$ 2 mil, 500 euros, 25 garrafas de whisky importado, 30 garrafas de vinho. Ficamos até as 9h do dia seguinte na delegacia”, conta J.R. Segundo ele, a polícia prendeu os bandidos, mas conseguiu recuperar apenas três garrafas de whisky, três de vinho e parte das semijoias.
Depois do assalto, o casal investiu em um sistema eletrônico nos portões, que, se forem abertos sem uma senha ser digitada, disparam um alarme e avisam uma empresa de vigilância, para a qual são pagos R$ 270 mensais. Em alguns pontos do prédio foram instalados sensores de presença. “Agora estou instalando câmeras”, conta. Apesar de todo esse aparato, ele diz que se sente inseguro. “Mudamos totalmente nossa rotina. Não deixo mais minha casa vazia, não programo viagem. A gente só sai quando necessário”, relata.
MOVIMENTO A psicóloga Renata Borja, uma da organizadoras do Movimento do Mangabeiras Sudoeste Unido, conta que a comunidade tem investido em segurança. “De uns 500 imóveis na área, temos pelo menos 200 famílias que participam de cinco grupos da rede social e trocam informações sobre pessoas e veículos suspeitos na rua, ou acionam a polícia em caso de ataques de criminosos. Em um mês e meio de funcionamento, já impedimos cinco assaltos”. Segundo Renata, grupos que participam do movimento já estão se unindo para a compra de sistema de videomonitoramento e sirenes. “Temos buscado uma integração com os policiais, que têm dado rápida resposta quando chamados”.
O comandante interino do 22º Batalhão da Polícia Militar, Olímpio Garcia, foi procurado pela reportagem para falar sobre o esquema de policiamento no Comiteco, mas não foi localizado na sede da unidade..